2018
Por: Edison M.
18 de Setembro de 2018

2018

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Após um longo silêncio eis-me aqui, Amigos de Deus. Aproveito para agradecer muito as orações e torcidas por todos nós aqui de casa que neste último ano em que lutamos muito. Mais uma vez quero aqui expressar meu muito obrigado.

A cuidadora de mamãe sugeriu que eu escrevesse um texto sobre a situação do Brasil em 2018. Como eu já estava relendo todas as minhas anotações sobre política, religião e história da Igreja, posso dizer que já era um trabalho em andamento, mas o que me faltava era tempo para finalizar algumas coisas. E esse tempo chegou, ainda bem!

Minha proposta é repassar algumas ideias que desenvolvi ao longo dos últimos anos, mais ou menos entre 2010-2018; depois incluir ou corrigir opiniões e juízos de valor; para poder enfim refletir a situação do Brasil de 2018 à luz do pensamento de Santo Agostinho de Hipona (354-430). As colocações que virão a seguir soarão estranhas a quem raciocina dentro do espectro político tradicional de direita vs esquerda, mas vou demonstrar que rotular a tradição como ideologia de direita seja um erro de interpretação. Alerto também aos leitores da página Vaticano II no Facebook e espectadores do canal Teologia da História no Youtube que este texto e o vídeo que pretendo gravar logo à seguir podem não ser de entendimento fácil.

Agora que me situei no espaço e no tempo, vamos em frente

Estaremos vivendo o “Final dos tempos”?

Escrevo em setembro de 2018. De 2014 para cá o panorama político e social do Brasil deteriorou-se muito. Em 2014 eu ainda podia escrever num post do Facebook intitulado “Eleições 2014, segundo turno: reflexão final”:

“Amigos, o que foi isso, hein? Ontem a noite parecia final de Libertadores com Corinthians X Palmeiras: eletrizante até o final! (Ou São Paulo X Corinthians, ou Santos X Corinthians...) Há tempos não via o brasileiro discutir tanta política, creio que desde 1989 e 2002 não acompanhava uma eleição tão de perto!”.

 

Em fins de 2014 o embate no segundo turno foi entre Dilma e Aécio, com a vitória de Dilma como todos sabem. Naquele momento creio que nem mesmo o mais pessimista poderia imaginar que as coisas caminhariam do jeito que caminharam. O resto da história é sabido de todos: o andamento do processo de impeachment de Dilma, seu afastamento da presidência, a posse de Temer. Mas creio que nem mesmo o mais ardoroso defensor do impeachment poderia imaginar que um governo de transição, também varrido pelas investigações da Lava-Jato duraria o que este governo durou até agora.

Apoiei sim o impeachment de Dilma, torci o nariz para a guinada mais à esquerda que seu governo tomou no seu segundo mandato, fui à Paulista de verde-amarelo e bati panela na janela. Admito que hoje não faria mais isso – também porque as panelas onde cozinho não são minhas!

A solução para o Brasil é muito mais lenta, demorada, cansativa de implantar, porém mais segura. Acreditem! Não será nenhuma guinada mais à direita ou à esquerda que consertará em definitivo as coisas por aqui.

No caso dos cristãos, assim como ocorreu em 2010 e 2014, 2018 fecha questão na conscientização de que cristão não deve votar em candidatos e partidos de esquerda pró-aborto, pró-LGBTI+, pró-descriminalização das drogas, embora nesta eleição eu tenha percebido avanços como por exemplo o vídeo do Pe. Lodi criticando alguns posicionamentos do candidato (e agora candidato-internado) Jair Bolsonaro com suas colocações sobre controle de natalidade (Cf.: https://www.youtube.com/watch?v=UAndXQpfSC8; caso o leitor prefira, segue o link da página do meu canal: https://www.facebook.com/vaticanoiibrasil/videos/230226647659443/). Embora a conclusão de padre Lodi no vídeo seja a de que o voto em Bolsonaro seria o único cabível aos cristãos, o fato dele colocar restrições ao voto no único candidato puro de direita para presidente da república era algo que eu não percebi nem em 2010 e muito menos em 2014, e eu considero um avanço, sutil. O argumento do voto útil à direita e a esquerda é cada vez mais frágil.

Já o atentado que Bolsonaro sofreu me inícios do mês representou uma deterioração que há tempos já se gestava no eleitorado brasileiro, mas que até aquele instante permanecia subterrâneo, com os contendores de ambos os lados recrudescendo suas posições, esperando o momento mais adequado de radicalizar. O argumento de que Bolsonaro “plantou o que colheu”, ou seja, o discurso de ódio dele não me convence, pois a violência de nenhuma forma é justificável, seja em um político de esquerda ou de direita.

William Waack no seu vídeo onde ele comenta o atentado a Bolsonaro (Cf.: https://www.youtube.com/watch?v=-1Tj0QF_sWs ) foi muito feliz em reconhecer que esse argumento “plantou o que colheu” só demonstra o ressentimento de quem não é eleitor de Bolsonaro. O mesmo deveria valer se o atentado fosse contra Lula, Haddad, Marina Silva e qualquer outro candidato.

Infelizmente nossa política reflete o despreparo do brasileiro quando o debate exige uma bagagem intelectual maior, quando precisamos ir ao fundo das questões, suas origens mais remotas e confrontar diferentes visões de mundo que não sejam as nossas. Esse atentado me entristece profundamente porque mostra que a ignorância não é atributo da direita nem da esquerda. O antropólogo Roberto da Matta ao tratar do incêndio no nosso Museu Nacional resumiu bem o drama que é querer pensar profundamente no nosso Brasil: “Todo mundo está falando de descaso: isso não é a causa, é a consequência de uma sociedade complacente com a ignorância”[1].

O brasileiro quando debate política, religião e sociedade pelo Whatsapp, Facebook, Youtube, Twitter parece ainda estar nos tempos do Jeca Tatu, o personagem de Monteiro Lobato que, lá nos fundos dos rincões distantes matutava, mascava seu fumo e passava o tempo que parecia sem fim: https://www.youtube.com/watch?v=n7PEoVjPDDc.

As palavras do prof. Da Matta são pluripartidárias. Se nas mãos de políticos liberais a urgência com a economia exige um Estado Mínimo que deixa de lado a questão cultural, do lado da esquerda as coisas não caminharam melhor. Lembro que os cortes de verbas e bolsas de estudo de pós-graduação CAPES, o sucateamento de universidades e faculdades federais começaram nos tempos da presidente Dilma. E não podemos nos esquecer que a UFRJ, cujo reitor é ligado ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)era o responsável pelo Museu Nacional.

Se há um culpado pelo incêndio do Museu Nacional creio que fomos todos nós que possuímos poder de gerar debate e conhecimento e que dependemos desses equipamentos culturais: autoridades, intelectuais, professores. Eu já vivi o suficiente para ver descaso com a cultura sendo sancionada pela direita e pela esquerda, por intelectuais e pelo povo comum. O Brasil no âmbito da cultura e educação precisa de um choque de gestão. Enquanto a educação e a cultura minguam eu fico sabendo de discussões em sala de aula sobre gênero, marxismo, feminismo... Nem mesmo as tais “aptidões para o mercado de trabalho” (matemática, português, língua estrangeira) conseguimos abarcar. Enquanto isso não paramos de decair no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e menos e menos jovens preparam-se para serem professores, escolas sucateadas e alunos desmotivados.

Não é preciso ser nenhum perito em educação pra perceber que estamos falhando gravemente na educação e difusão da cultura para nossas crianças e jovens. Arrisco dizer que ao invés da pedagogia do oprimido devíamos privilegiar uma pedagogia que não oprima nem insulte as inteligências e que permita a formação humanística integral da criança e do jovem para muito além do socialismo e do liberalismo.

Mas voltemos ao tema inicial...

No dia 24/04/2016 a Associação Nacional de História (ANPUH) publicou uma nota repudiando o impeachment de Dilma (Cf.: https://www.facebook.com/ANPUH/photos/a.320837787947761.80998.116800045018204/1151500608214804/?type=3&theater):

MANIFESTAÇÃO DA ANPUH NACIONAL CONTRA VOTAÇÃO DO IMPEACHMENT NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

A Associação Nacional de História manifesta sua perplexidade diante do processo de votação do impeachment realizado no último domingo (17 de abril). Para justificar o voto, a favor ou contra essa medida drástica, alguns parlamentares usaram como argumento o combate à corrupção, à política de “assistencialismo social”, ao “populismo”, a pressão dos eleitores e dos 10 milhões de desempregados. Muitos dedicaram seu voto a seus familiares e defenderam o respeito à família nuclear tradicional e patrimonial, neste caso, desrespeitando normas legislativas que reconhecem outras formas de união familiar.

A Presidente eleita, democraticamente, está no exercício legal de suas funções e contra ela não paira nenhum processo de uso indevido do dinheiro público para enriquecimento ilícito, ao contrário do que ocorre com grande parte dos parlamentares que votaram a favor do impeachment, apesar de já terem sido denunciados pela justiça. Não resta dúvida de que a votação na Câmara dos Deputados teve caráter político e ideológico. Os argumentos de ordem jurídica, pouco mencionados pela grande maioria de deputados que se pronunciaram a favor dessa medida, serviram para acobertar as reais motivações do voto.

A campanha a favor do “Golpe” liderada por adversários políticos, por representantes das “mídias” que, retomando a tradição golpista, instigaram o ódio da população. A postura dos parlamentares durante a votação do impeachment e as comemorações pela vitória, deixaram evidente a permanência de uma cultura política antidemocrática afeita a acordos, manobras e negociações que a “Nova República” não foi capaz de eliminar. O espetáculo de desrespeito à opinião alheia e as manifestações de intolerância expressas através de uma linguagem autoritária e chula, permitiram que viesse à tona a outra face da decantada “cordialidade brasileira” - a da violência - que o mito encobre.

Por fim, nesse quadro de aberrações, a ANPUH repudia e denuncia a atitude inadmissível do parlamentar Jair Bolsonaro que, em tom celebrativo, evocou a memória de Carlos Alberto Brilhante Ustra, Coronel do Exército Brasileiro, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, um dos órgãos encarregados da repressão política no regime militar e responsável por práticas de tortura e mortes. Cabe, não só a nós historiadores, mas a todos os democratas deste país, exigir punição legal contra o Parlamentar que reverenciou a memória de um torturador. Bolsonaro, não só neste ato, mas também em outras circunstâncias se permite – em franco desrespeito à ordem democrática vigente no país – incitar o ódio e a intolerância em seus pronunciamentos de natureza racista e homofóbica, crimes pelos quais já foi condenado.

Diante desta e de outras atitudes similares, ANPUH Nacional lança como bandeira de luta: “Ditadura e tortura NUNCA MAIS!” e condenação penal aos que representam riscos para o Estado Democrático de Direito.

#nãovaitergolpe #golpenuncamais #emdefesadademocracia#vemprademocracia #ditaduraetorturanuncamais

 

Em resposta um amigo meu redigiu uma resposta à Associação. A carta a seguir resumiu bem o ponto de vista cristão com relação ao impeachment e a política no Brasil:

“Fique tranquilo "Grande Gafanhoto" [Eu] rs, o teu amigo aqui fará as vezes de um "pseudo Sancho Pança" nas tuas aventuras e te consolará mostrando que os tais "moinhos" são gigantes sim! Pois o que está pendente é toda uma mentalidade construída nos últimos 100 anos. Opor-se a isso é árduo, mas fundamental para frear não só o avanço do materialismo (e da barbárie em crescente curso) como revigorar o humanismo e o cristianismo coerente. Será um caminho cheio de tropeços e obstáculos, algumas bifurcações também, mas nossa geração tem o objetivo de deixar um certo legado e uma boa diretriz para a próxima geração! Serão os "pequenos gafanhotos" que continuarão e possivelmente seus filhos é que colherão os frutos que nós cultivamos.

Mais uma vez peço (acho que este conselho também me cabe) não fique ansioso, tudo tem o seu tempo e este é o desafio que Deus nos deu no nosso tempo (cada santo teve o seu). Estamos com a verdade, estamos fazendo por Deus, pelas pessoas, não tem porquê desanimar!

Esta carta da ANPUH demonstra que tal instituição não é imparcial nem verdadeira, pois ao dizer que é contra a "manifestações de intolerância expressas através de uma linguagem autoritária e chula", não deixa claro que também inclui neste "rol de chulos" os deputados que eram contra o impeachment e que também baixaram o nível. Também me refiro a desonestidade da instituição ao omitir a real motivação deste processo: a irresponsabilidade fiscal (sem levar em conta o mal gerenciamento do orçamento público e a conivência em notórios casos de corrupção e prevaricações da pessoa Dilma e Lula desde quando eram ministro de Minas e energia e depois da Casa Civil aquela e presidente da república este).

No fundo nós sabemos que os membros da ANPUH, bem como a das instituições Perseu Abramo, Instituto Lula e o iFHC e demais intelectuais sabem os enormes erros, problemas e crimes institucionais causados pelo movimento de esquerda na administração pública brasileira. E também sabemos que estes são desonestos e mentirosos ao encobrirem apenas pelo medo em perder os benefícios que recebem através deste mecanismo criminoso que tal movimento implantou na "máquina pública"! Por acaso a ANPUH critica o governo federal, com a mesma veemência apresentada nesta carta, a situação deplorável dos sítios arqueológicos, museus e prédios de patrimônios históricos espalhados pelo Brasil? Ou será que eles querem manter apenas alguma influência política no CONDEPHAATH?

O Foro de São Paulo e seus adeptos e defensores sabem que o Brasil sustenta com vantagens, benefícios e dinheiro a estruturação esquerdista de toda a América Latina e do Caribe com pelo menos 60% do total. O pavor em perder o que já conseguiram os fazem reverter entranhas de seus dirigentes e articular uma contra ofensiva significativa é fundamental para a sobrevivência do Foro e de sua agenda política. Sem a esquerda controlando o Brasil o Foro quebra, e geraria um efeito dominó nos demais países latinos e em certo ponto até além chegando a enfraquecer a influência da "New Left" (Nova Esquerda) norte-americana.

Vale refletir que o Brasil não ficou como a Venezuela pois lá aconteceram três fatores que aqui não tivemos:

1) Eles tem uma dependência de poucos itens de exportação como fonte de dinheiro - o auge do chavismo foi durante os altos preço do petróleo- que viabilizou os programas sociais, inflava a opinião pública e suas milícias, bem como inibia, perseguia e expulsava seus opositores;

2) o controle do judiciário e das forças armadas pelo poder executivo, elegendo tanto juízes como os oficiais aliados em detrimento dos opositores, mudando leis eleitorais e civis, e por fim;

3) Lá houve um controle midiático, com pronunciamentos longos do presidente, inibição dos patrocinadores privados e consequente dependência do patrocínio governamental, controle das concessões de transmissão, censura e repressão.

Para evitarmos de rebaixarmos a tal ponto, devemos manter as instituições perenes e reformular o ensino, eliminando as chances de progresso das más condutas educacionais e sociais (a política de gênero em curso nos programas educacionais é a pavimentação para um controle social eficiente, e uma afronta a liberdade, uma plena desumanização das pessoas).

 

Sentiu o drama do "campo de moinhos" que iremos enfrentar? Termino com uma frase do "Cavaleiro da Triste Figura" (D. Quixote): "Vamos Sancho luegos cabaglano", no sentido de continuar a caminhada, não descer da montaria. Coragem!

 

 

Ass: S. F. H. L.

 

28/04/2016

 

Meus seguidores à esquerda, se chegaram a este ponto, convido a que parem a leitura para não quebrarem seus celulares, tablets e micros, que hoje são caros e de difícil substituição. Mas se você preferir continuar, bem, devo dizer que essa carta resume bem as motivações à direita contra a esquerda brasileira. Ele enumera um emaranhado de instituições, pessoas e entidades que em maior ou menor grau estão comprometidas com o ideário político de esquerda.

Essas duas cartas resumem bem o acirramento de posições dos brasileiros desde o impeachment de Dilma: de um lado a inteligentzia brasileira forjada por várias décadas de militância, perseguição política e influencias várias de inúmeros pensadores de esquerda ocidentais (mais ou menos representada pela Escola de Frankfurt) e orientais (o comunismo oficial do Partido Comunista Russo durante a existência da URSS).

De outro temos a reação de alguns que, discordantes com o nosso “status quo” decidiram terçar armas intelectuais com a inteligentzia brasileira. Mas já que desde 1985 vivemos num ciclo de redemocratização política, e se posicionar á direita é um taboo dos mais indecorosos por remeter a Ditadura Militar Brasileira (1964-1985), hoje quem quer ser de direita tem dificuldades em localizar pensadores e/ou argumentos válidos para rebater os argumentos à esquerda.

Visto o embate desse ângulo a luta é claramente desigual: de um lado temos toda a tradição intelectual da modernidade forjada após séculos (XVI-XIX) e bem representada por autores tão diversos quanto Descartes, Hume, Locke, Kant, os Iluministas franceses, Hegel, Marx, e depois o Marxismo Ocidental, Foucault, Derrida, Judith Butler.

De outro lado temos o pensamento conservador inaugurado com Edmund Burke e Alexis de Tocqueville, passando pelos mais recentes Russel Kirk e Roger Scruton, passando por Chesterton, Hillaire Belloc, Christopher Dawson. Como puderam perceber a lista de pensadores conservadores é bem menor, o que só demonstra o quanto os pratos da balança precisam para se equilibrar.

Mas o momento é de renovação do interesse pelo pensamento conservador.

Há alguns anos eu já notava esse interesse renovado por autores antigos e clássicos alinhados com o pensamento conservador e oficial católico. Além do já citado Chesterton devemos acrescentar C. S. Lewis, Tolkien, e tratando mais especificamente da área da doutrina cristã Tanquerey e Sertillanges cujas obras vem sendo reeditadas, conquistando uma nova geração de leitores.

O fenômeno é explicado por inúmeros fatores: desenraizamento cultural, oposição ao “mainstream laicista e esquerdista” oferecido aos jovens, deficiências na formação acadêmica dos estudantes nas escolas oficiais e particulares, ou simples curiosidade por autores que, ao contrário do atual panorama cultural ocidental minado pelo relativismo e a crise da racionalidade, não tinham medo de lançarem-se em busca de grandes sínteses e panoramas gerais da realidade.

No prefácio do Prof. Rafael Falcón para a pequena obra A ascensão das universidades, ele fez um contraponto entre o nascimento da universidade medieval e o atual momento educacional brasileiro:

“Hoje, porém, creio estar absolutamente claro que a universidade engessou as inteligências, massacrou os talentos, esmagou o verdadeiro gênio humano, sempre individual e livre, sob o peso mastodôntico da corporação”[2]. (...).

Para o prof. Falcón é preciso lutar contra o status quo acadêmico brasileiro. No prefácio do livro seus editores se orgulham da publicação ter contado exclusivamente com recursos de particulares e nenhum apoio da Lei Rouanet ou qualquer incentivo fiscal. Os editores assim queriam se colocar contra “tudo o que está por aí”. O pensamento conservador quer renascer, mas não sabe nem como, nem onde nem quando.

Admito que vejo com simpatia esse “reequilíbrio de forças”, embora como o meu colega, Prof. Ricardo Gustavo, nos seus cursos sobre Gramsci[3] no Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio (Ramon Llull) me alertou certa vez, a esquerda nessa batalha e luta culturais está melhor preparada, com toda uma visão de mundo, de sociedade e até mesmo de cristianismo[4] já prontas para ser reaplicadas com toda a força assim que retomarem o controle do Brasil. Vistas as coisas desse modo, o impeachment de Dilma e a prisão de Lula foram apenas ligeiros revezes. Nossos luminares da esquerda já estão prontos para voltar ao poder.

E aqui mais uma vez me posiciono e admito que, da minha parte, apesar de minhas limitações quero colaborar a equilibrar os pratos dessa balança mais para a direita, embora eu espere que até o final deste texto eu consiga demonstrar que o que eu quero não é a volta do conservadorismo, nem do liberalismo, muito menos da ditadura, mas da tradição. Não quero a restauração do tradicionalismo, mas da tradição dentro de um contexto cultural dinâmico e não estático como alguns ardorosos defensores do tradicionalismo querem.

Para isso precisamos entender melhor o que é tradição e qual o seu papel na vida humana. Aqui peço mais um pouco da paciência do leitor e vamos trabalhar alguns conceitos.

A correta interpretação dos termos

Os pensadores iluministas dos sécs. XVII e XVIII sonhavam em substituir instituições como a Monarquia e a Igreja, vistas como fontes de atraso e contrapostas ao progresso que as Luzes do pensamento ilustrado trouxeram. Essa dualidade simplista ainda perdura em manuais de história pelos colégios e cursinhos. Mas o historiador Jacques Le Goff nos alerta: o progresso verdadeiro só se realiza no âmbito da renovação da Tradição histórica, ou seja, quando aplicamos às heranças do passado as circunstancias do tempo presente:

“(...) um verdadeiro período histórico é habitualmente longo: ele evolui, pois a História jamais é imóvel. No decorrer dessa evolução, ele é levado a experimentar renascimentos mais ou menos brilhantes, que amiúde se baseiam no passado, fruto de um fascínio por este último, sentido pela humanidade da época. Mas esse passado só serve como uma herança que permite o salto para um novo período”[5].

Le Goff propõe aplicar as lições do passado no tempo presente, e não recriar o passado. Ao conjunto de lições do passado chamamos de tradição[6]. Não é um simples transportar o passado para o presente ou projetá-lo para o futuro, mas sim usar suas lições para a nossa vida. Diferentemente pensa o sociólogo Zygmunt Bauman, que em recente entrevista teceu reflexões sobre o futuro e o passado e defende o que alguns chamaríamos pensamento reacionário:

“Ao sonharmos com uma sociedade mais acolhedora e uma vida decente e significativa, avançamos gradualmente da utopia (lugar ainda inexistente, mas à espera no futuro) para o que chamo de ‘retrotopia’(‘volta ao passado’, ao modo de vida que foi exageradamente, irrefletidamente e imprudentemente abandonado). (...). Podemos concluir que passado e futuro estão nesse quadro intercambiando suas respectivas virtudes e vícios. Agora é o futuro que parece ter chegado ao tempo de ser ridicularizado, sendo primeiro condenado pela falta de confiança e dificuldade de manejar e que está em débito. E agora o passado é o credor – um crédito merecido porque neste caso a escolha ainda é livre e o investimento é na esperança na qual ainda se acredita”[7].

Bauman pensa em um modelo idealizado do passado como meta para nossa felicidade. Mas aqui reside um perigo: um passado idealizado nunca existiu de fato, assim como um futuro idealizado nunca chegará a se concretizar. Um mundo idealizado já nasce morto, porque está desconectado da realidade. Aqui o tradicionalista e o comunista se abraçam: os mundos que eles projetam criar ou recriar nunca poderão existir.

Para construir um mundo melhor é preciso primeiro propor metas realistas e realizá-las para depois pensar num mundo melhor. A ideia não pode se antecipar a realidade. A proposta de Baumann soa assim irrealizável, aliás ela sofre do mal do nosso tempo: queremos que o pensamento torne-se realidade e que construa o mundo. Bauman aqui é um idealista.

Pelo contrário, Le Goff demonstra ter captado a essência do problema: se vivemos hoje em tempos onde o desenraizamento cultural e moral afligem multidões pelo mundo, saber os meios corretos para aplicar a tradição que os antigos nos legaram tornou-se fundamental.

Para o filósofo Juan Cruz Cruz:

“Tradição é a linha de transmissão dos caracteres adquiridos livremente, é a continuidade do processo de funcionamento especificamente humano, em virtude do qual se lega ao futuro algo que persiste, uma vez desaparecido quem o criou: o passado é assim um legado, do qual o homem pode dispor”[8].

Para Cruz Cruz a Tradição possui o papel, dentro da cultura, similar ao da genética: transmitir as características mais gerais e intimas para as gerações seguintes.

Já a Tradição transplantada pura e simplesmente para o nosso tempo é a solução adotada por grupos em situações de crise, onde o futuro aparece incerto e o passado surge como um tempo ideal onde os erros do presente ainda não haviam surgido. Esse é um erro histórico que nós historiadores chamamos de anacronismo = rotular um período histórico com características, sejam elas boas ou más, que não existiam naquela época.

Por outro lado o homem moderno é um inconformado com a natureza das coisas, ele pensa que o desenvolvimento da técnica o capacitará a extrapolar até mesmo sua mortalidade. Um autor resumiu em poucas palavras essa mentalidade: Marshall Berman.

“Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’”[9].

“(...) o preço da modernidade crescente e em constante avanço é a destruição não apenas das instituições e ambientes ‘tradicionais’ e ‘pré-modernos’, mas também - e aqui está a verdadeira tragédia - de tudo o que há de mais vital e belo no próprio mundo moderno”[10].

Berman enxerga na modernidade e na constante mudança uma tradição da modernidade. Para Berman o espírito da modernidade é nunca adotar a tradição, mas um processo incessante de transformação. E essa transformação deverá atingir todos os setores da vida humana. Nenhum setor da vida deverá passar incólume pela tradição da modernidade. Mas aqui reside o perigo da modernidade e da transformação incessante: destrói a tradição no seu sentido mais amplo e faz desaparecer o passado das gerações que nos precederam e que servia de referencial existencial. Nenhum ser humano é capaz de viver sem referenciais. Um revolucionário será também um homem desenraizado e sem passado, sem consciência histórica.

O que eu aqui particularmente chamo aqui de revolucionário são todos aqueles que renegam a tradição, mesmo nos seus aspectos positivos. A realidade como ela se apresenta não o agrada: é preciso mudar essa realidade em sua totalidade. Mas alerto que, mesmo que suas causas sejam justas reside um perigo: o novo ainda não foi testado pela experiência. E essa experiência muitas vezes leva até séculos para ser comprovada.

Em sua obra mais conhecida, Zygmunt Bauman refletiu sobre a destituição da tradição no nosso tempo:

“(...) a realidade deveria ser emancipada da ‘mão morta’ de sua própria história – e isso só poderia ser feito derretendo os sólidos (isto é, por definição, dissolvendo o que quer que persistisse no tempo e fosse infenso à sua passagem ou imune a seu fluxo). Essa intenção clamava, por sua vez, pela ‘profanação do sagrado’: pelo repúdio e destronamento do passado, e, antes e acima de tudo, da ‘tradição’ – isto é, o sedimento ou resíduo do passado no presente [grifo meu]; clamava pelo esmagamento da armadura protetora forjada de crenças e lealdades que permitiam que os sólidos resistissem à ‘liquefação’”.

“Lembremos no entanto, que tudo isso seria feito não para acabar de uma vez por todas com os sólidos e construir um admirável mundo novo livre deles para sempre, mas para limpar a área para novos e aperfeiçoados sólidos; para substituir o conjunto herdado de sólidos deficientes e defeituosos por outro conjunto, aperfeiçoado e preferivelmente perfeito, e por isso não mais alterável”[11].

Notemos que aqui Bauman concorda com Berman na questão de que a tradição é o obstáculo por excelência que a modernidade deve eliminar, sendo este o mote de todos os intelectuais liberais e de esquerda, sem exceção. Tudo o que é durável: instituições, família, religião, casamento, direito, vida humana são tradição e devem ser substituídas o quanto antes.

A Tradição para o homem de hoje

A tradição, com todas as suas limitações e defeitos sobreviveu até o momento por ter uma eficácia comprovada, daí que não devemos descartar a Tradição levianamente. Devemos sim, a partir de uma análise serena, objetiva e calcada na realidade detectar aspectos da tradição que por acaso estejam ultrapassados e adaptá-los às necessidades atuais.

Mas como encarar com realismo a realidade? No mundo atual essa tarefa parece impossível. Na verdade é difícil mas não impossível: o homem moderno precisa viver um renovado e sadio realismo, ou seja, precisa se aceitar como é, com suas virtudes e limitações. Aceitar suas limitações, defeitos, caracteres físicos, dons, etc., e procurar desenvolver-se a partir desses pontos:

“Quanto mais um homem lutar por prosseguir nesse caminho, tanto mais livre se fará. E quanto mais livre for, tanto mais senhor de si mesmo será, e tanto maiores o domínio e o controle plenos que terá sobre todas as suas faculdades. Terá a liberdade de manter as faculdades e os instintos inferiores adequada e dinamicamente subordinados às faculdades superiores – a sensualidade ao amor, a ira à justiça, etc. – e conseguirá também que as faculdades superiores se relacionem gozosamente com os valores superiores: o amor com a bondade, a inteligência com a verdade. É somente ao longo deste caminho que o nosso esforço se vê recompensado pelo encontro com a liberdade”[12].

É preciso atingir o equilíbrio entre a realidade das coisas e as nossas ideias, atingir a verdade.

Até aqui procurei traçar em rapidíssimas pinceladas a nossa atual situação no Brasil e pelo mundo.

O bom governante segundo Santo Agostinho de Hipona (354-430)

Para Agostinho apenas um Estado que se baseie nos princípios cristãos seria um Estado pleno, repleto de justiça e equidade. Por ter vivido no séc. V suas formulações não eram ainda a Doutrina Social da Igreja de Leão XIII, Pio XI e João XXIII, mas Agostinho já intuía que o governante cristão deveria pautar suas decisões de Estado pela doutrina da Igreja, algo que na época de Agostinho, mesmo com o cristianismo já sendo a religião oficial do império romano, era falho.

Desde Constantino o grande entendia-se que o imperador cristão devia seguir nas coisas de governo a linha de ação dos governantes pagãos: a deferência ao imperador, o cesaropapismo (a submissão da Igreja pelo Império), a submissão do indivíduo ao Estado, em resumo; em assuntos de Estado a moral cristã não deveria ter uma preeminência absoluta. Esse será um problema não apenas do período romano, mas de todos os tempos até hoje. Ao longo da Idade Média até os dias atuais muitos governantes pautaram suas decisões de Estado à revelia da moral e da doutrina cristã, mesmo se tratando de governantes coroados por papas.

Cada sociedade apresenta seus vícios, problemas sociais, erros mais ou menos gritantes, fruto em último caso da influência da fomes peccati, a fome de pecar nascida do pecado original. Nosso tempo não tem melhor sorte.

Inspirada nessa constatação nos anos 1970 a Teologia da Libertação elaborou o conceito de pecado social, o pecado cometido por grupos ou classes sociais. Essa leitura de sabor socialista no Brasil tornou-se recorrente em documentos e pronunciamentos de autoridades e estudiosos ao longo das décadas seguintes. À luz da doutrina agostiniana do livre arbítrio o conceito de pecado social possui uma falha antropológica ao excluir a liberdade individual no rol de fatores que levam uma pessoa a cometer delitos de ordem moral. Para seus defensores a sociedade e a pressão de grupos seriam os únicos fatores que levariam uma pessoa a viver de costas aos pobres e desvalidos, a cometer furtos e roubos, etc.

Agostinho nos alerta que o culto aos ídolos afasta os homens da verdadeira religião. Ao contrário, a verdadeira religião aproxima os homens da virtude. Se no séc. V os ídolos eram os deuses Apolo, Vênus, nos dias atuais seriam o dinheiro, o poder, o conforto, o prazer levados a extremos. Mas Agostinho de Hipona nos lembra que: “A cidade soberana é incomparavelmente mais luminosa. Nela, a vitória é a verdade, a honra é a santidade, a paz é a felicidade e a vida é a eternidade”[13].

Agostinho nos apresenta o que seria na opinião dele o bom governante. A citação a seguir é longa, mas elucidativa:

“(...) chamamo-los felizes, se imperam com justiça, se não se pavoneiam entre as línguas pródigas em sublimes louvores e entre os obséquios dos que humildemente os saúdam, mas se lembram de serem homens, se colocam seu poder aos pés da majestade divina para, principalmente, estender-lhe o culto, se temem, amam e adoram Deus, se preferem o reino onde não temem ter príncipes, se se mostram tardos em vingar e prontos a perdoar, se tiram vingança por necessidade da administração e defesa da república e não para saciar o ódio aos inimigos, se concedem perdão, não para deixar impune a justiça, mas pela esperança da emenda, se, quando muitas vezes se veem obrigados a ordenar com aspereza, o compensam com suavidade misericordiosa e com largueza de benefícios, se a luxúria está neles tanto mais sujeita quanto mais livre poderia estar, se a senhorear quaisquer nações preferem dominar seus maus apetites, se não fazem tudo isso pela ânsia de vanglória, mas por dileção pela felicidade eterna, se não descuidam de, por seus pecados, imolar ao Deus verdadeiro o sacrifício da humildade, da comiseração e da prece. Dizemos que tais imperadores cristãos são felizes nesta peregrinação e depois o serão na realidade, quando se cumprir o que esperamos”[14].

 

Para Agostinho essa seria a realização de governo ou reino de Cristo: um reino onde o governante governa sob o mandato da moral e da doutrina cristãs. Todas as encíclicas da doutrina social da igreja e o distributismo proposto por Chesterton e Belloc partem desse ponto: a busca do bem comum, a equidade social, o salário justo e a proteção dos vulneráveis, programas de governo daquela época e de todas as épocas.

Há muitos anos o historiador José Orlandis[15] afirmou que estamos entrando numa nova fase da história humana. Para ele, estamos em uma encruzilhada similar a do final do séc. IV d. C. para a Europa. Se naqueles tempos já se vislumbravam as invasões bárbaras e a decadência das instituições romanas, hoje vemos o desaparecimento de uma sociedade moldada pela moral e tradições cristãs e presenciamos a demolição dessas antigas instituições em nome de novas práticas e costumes[16], ou seja, a substituição da tradição pela revolução. Pelo contrário, é justamente nesta hora que precisamos pensar com clareza e olhar com objetividade os fatos sem idealismos ou ideologias.

Num mundo ideal não deveria existir dor nem sofrimento, mas o cristão sabe que na vida terrestre isso será impossível. Refletindo sobre esse “mundo ideal”, Agostinho refletiu:

“A paz entre o homem mortal e Deus é a obediência ordenada pela fé sob a lei eterna. A paz dos homens entre si, sua ordenada concórdia. A paz da casa é a ordenada concórdia entre os que mandam e os que obedecem nela; a paz da cidade, a ordenada concórdia entre governantes e governados. A paz da cidade celeste é a ordenadíssima e concordíssima união para gozar de Deus e, ao mesmo tempo, em Deus. A paz de todas as coisas, a tranquilidade da ordem”[17].

 

Para Agostinho, mais que um “rei filósofo” de inspiração platônica o ideal seriam governantes e cidadãos cristãos que vivem em harmonia plena, algo que infelizmente o Brasil de 2018, à menos de um mês das eleições parece não querer viver. Queremos viver a PAX ROMANA e não o SHALOM israelita. Mas, quais seriam as diferenças entre ambos?

A PAX dos romanos era a cessação de conflitos, uma paz nascida da subjugação pela força com o uso de armas. Aparentemente essa é a paz do candidato Jair Messias Bolsonaro: uma “paz armada”. Mas Santo Agostinho de Hipona propõe uma paz em plenitude, a tranquilidade na ordem, o Shalom. Essa “paz hebréia” só pode ser atingida com uma sociedade plenamente cristã e guiada por princípios cristãos e guias (líderes) cristãos. Creio que seja essa a grande meta do pensamento agostiniano – e que deveria ser a nossa também.

Como podem perceber, a proposta política agostiniana também não coaduna com o socialismo brasileiro proposto e defendido por Lula e/ou Haddad, Marina, Boulos e demais candidatos alinhados com o socialismo e o comunismo de Marx. Também os candidatos Alkmin, Ciro, e mesmo Amoedo do Partido Novo tem as candidaturas que se ressentem dessa ausência de diretrizes morais e espirituais claras em temas caros aos cristãos como aborto, família, drogas, – e nem vou entrar no mérito dos fichas-limpas, indiciados pela Lava-Jato, candidatos presos, etc., etc.

Num momento em que textões, vídeos, áudios entopem os HDs e memórias dos nossos pobres computadores e celulares, e enchem as nossas cabeças com uma cacofonia de ruídos e opiniões com pouco ou quase nenhum nexo lógico – tirando poucas e honrosas exceções -, um obscuro historiador afastado das lides acadêmicas tem o dever moral de alertar seus contemporâneos de que, se as coisas seguirem como estão, a crise moral-política-econômica e espiritual vai se agravar, porque só pode haver paz com tranquilidade na ordem (São Josemaría Escrivá).

A única solução é infelizmente a mais lenta, cansativa e demorada: uma conjugação de iniciativas de longo prazo. Uma reforma moral e espiritual, de dentro e de fora da Igreja Católica e das demais Igrejas que deixe de lado o pensamento libertário importado e que se valorize a religiosidade e a espiritualidade brasileiras. Ao mesmo tempo uma reforma política profunda, onde se reconheça que ideologias liberais e socialistas “não estão mais com nada”.

E tudo isso reconhecendo que a cultura brasileira, que é tradição brasileira, sob o viés do pensamento de Christopher Dawson (Dawson entendia que a cultura é tradição[18]), deve ser urgentemente preservada através de centros de cultura, arquivos, museus, escolas, onde a cultura brasileira seja legada aos jovens.

No caso especifico da história não devemos querer idealizar um passado idílico e querer transplantá-lo para o nosso presente ou futuro, como querem certos grupos reacionários do nosso tempo aos quais Zygmund Baumann parece estar sintonizado. É preciso aplicar as lições do passado com serenidade e sabedoria para podermos construir um futuro melhor, como Jacques Le Goff apontou no seu livro. Le Goff, ao defender um entendimento do passado sem cortes ou idealizações, nos apresentou a chave interpretativa da tradição e da construção realista de um futuro vivo. Só dessa maneira conseguiremos superar a sensação de crise do mundo atual e, a partir da aplicação da tradição, realizar a construção de um mundo melhor.

 

[1] Jornal O São Paulo. “Memória nacional e centro de pesquisas reduzidos a cinzas em incêndio no Rio”. Edição do dia 05 de setembro, p. 22.

[2] Rafael Falcón. Prefácio. In: HASKINS, Charles Homer. A ascensão das universidades. Balneário Camboriú-SC: Livraria Danúbio, 2015, p. 10-11.

[3] Cf.: http://www.ramonllull.net/newsletters/listaatividades0420184.htm Acessado dia 16/09/2018 às 21:35hs.

[4] Refiro-me aqui á eclesiologia da Teologia da Libertação, também forjada por décadas de militância e pesquisa. Para quem quiser saber mais dos meus pontos de vista sobre a Teologia da Libertação, recomendo este vídeo que, apesar de antigo ainda é utilizável: https://www.youtube.com/watch?v=J4IeV076ftc&list=WL&t=0s&index=2

[5] LE GOFF, Jacques. A história deve ser dividida em pedaços? São Paulo: UNESP, 2015, p. 129.

[6] CRUZ CRUZ, Juan. Filosofia de la historia. Navarra: EUNSA, 1995, 1ª edição, p. 136 e segs.

[7] BAUMAN, Zygmunt. Tempos precários. In: Caderno Aliás: Jornal O Estado de São Paulo do dia 07/08/2016, p. E1.

[8] “Tradición es la línea de la transmisión de los caracteres adquiridos por libertad, es la continuidad del proceso operativo específicamente humano, en virtud de la cual se lega al futuro algo que pervive, una vez desaparecido quien lo creó: el pasado es así un legado, del que el hombre puede disponer”, in: CRUZ CRUZ, Juan. Filosofia de la historia. Pamplona, Espanha: EUNSA, 1995, p. 136. Tradução livre minha.

[9] BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. Trad.: Carlos Felipe Moisés – Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo, Cia. Das Letras. 1993. 10ª Reimpressão. p. 15.

[10] Idem, ibidem. P. 280.

[11] BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad.: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p. 09-10.

[12] BURKE, Cormac. Somos livres? São Paulo: Quadrante, 1989, p. 27.

[13] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. A cidade de Deus: contra os pagãos. Livro II, cap. 29. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 136-137.

[14] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. A cidade de Deus: contra os pagãos. Livro V, cap. 24. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 293-294.

[15] ORLANDIS, José. Perspectivas cristãs do nosso tempo. Lisboa-Coimbra: Editorial Aster-Casa do Castelo Editora, 1960.

[16] Um livro que procurou refletir essa problemática do campo da filosofia e teologia morais é a obra de Olivier Bonnewijn Gender: quem tu és? (Campinas: Ecclesiae, 2015)

[17] SANTO AGOSTINHO DE HIPONA. A cidade de Deus: contra os pagãos. Livro XIX, cap. 13. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 476-477.

[18] DAWSON, Christopher. A formação da cristandade: das origens na tradição judaico-cristã à ascensão e queda da unidade medieval. São Paulo: É realizações editora. 2014, 2ª reimpressão.

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