Análise do conto: “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe
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Por: ANDREY A.
15 de Janeiro de 2025

Análise do conto: “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe

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  1. Introdução à história

O conto narra, alguns momentos e detalhes da vida do próprio narrador, de maneira bastante limitada no que diz respeito a visão acerca dos acontecimentos. O personagem principal no início é um homem bondoso, que veio de um lar com afetividade e rodeado de animais, os quais sempre gostou de ´possuir durante toda vida. Esse homem se casa com uma mulher que também tem traços de personalidade parecidos com os seus, mas ela possuía muitas superstições, principalmente sobre os gatos pretos, e é justamente um desses que acompanha o protagonista, a partir disso passam acontecer situações inesperadas e assustadoras.

  1. AUTOR

Edgar Allan Poe (1809-1849) foi um poeta, escritor, crítico literário e editor norte-americano. Escreveu contos de mistério e horror, inaugurando um novo gênero e estilo na literatura. É considerado o criador do conto policiais, seus poemas mergulham na tristeza e as narrativas em temas de morte, que refletiam os tormentos do autor. Temos uma narrativa literária construída com o devido conflito dramático manifestado na história caracterizada como um CONTO DE TERROR URBANO ou mesmo uma LENDA URBANA.

  1. ANÁLISE DESCRITIVA

Fábula – Apresenta “um conjunto de acontecimentos ligados entre si que nos são comunicados no decorrer da obra” (TOMACHEVSKI, 1976, P. 173). Poderíamos chamar de história ou ficção, seguindo a teoria de formalistas russos.

Não é uma Trama – Não é passível de síntese. Gato Preto é uma história narrada, e não construída.

Temos um narrador em primeira pessoa que se torna o protagonista da história. Ele relata sua própria descida à loucura e ao crime. Surge inicialmente como alguém que ama animais e é muito apegado a seus bichos. É a única personagem principal (REDONDA), apresentando grande densidade psicológica, apresentando grande complexidade em seus conflitos e contradições.

É um narrador HOMODIEGÉTICO AUTODIEGÉTICO, pois ele também faz parte da história que está sendo contada, não é apenas um observador externo, ele está diretamente envolvido na ação e nos acontecimentos do conto.

Personagens secundárias são apresentadas de maneira plana: esposa, policiais. Todos os PLANOS, considerando apenas os policiais como PLANOS-TIPO. A esposa é mencionada como uma figura amorosa e compreensiva inicialmente, mas à medida que a narrativa avança, sua relação com o narrador se deteriora devido ao seu comportamento eficiente e agressivo, porém sem alterar suas características.

Gatos: O conto apresenta também dois gatos. Consideramos colocar o gato na figura de um antagonista, porém, são dois gatos, e não caberiam caracterizações psicológicas para estes animais (PLANOS).

Temos UM NARRADOR PROTAGONISTA - O narrador é o protagonista da história e compartilha seus pensamentos, sentimentos, perspectivas e experiências diretamente com o leitor. Ao usar a focalização em primeira pessoa retrospectiva, Poe permite que o leitor entre na mente do narrador e tenha acesso direto aos seus pensamentos e emoções. Isso cria uma sensação de proximidade e emoção na história, mas também pode gerar um senso de subjetividade, já que o leitor está vendo os eventos através dos olhos e da perspectiva do narrador, o que pode ser influenciado por sua própria instabilidade mental ao longo da história.

  1. Tema, motivo e motivação

Tema: O tema central de "O Gato Preto" gira em torno da preocupação da mente humana, da crescente obsessão e da culpa que atormenta o protagonista da história. O conto explora a dualidade da natureza humana, revelando como a maldade e a violência podem emergir de lugares inesperados.

Motivo: O motivo do "gato preto" é crucial para a história, pois o animal simboliza a culpa e a decadência do protagonista. O gato preto inicialmente representa a companhia e o conforto do narrador, mas, à medida que a narrativa se desenrola, o gato preto passa a representar a sua própria culpa, paranoia e sua preocupação mental.

Motivador: O motivador do conto é a narrativa do protagonista sobre como ele se tornou obsesso pelo gato preto e eventualmente se envolveu em atos de violência contra o animal e sua esposa. A narrativa é impulsionada pelo desejo do protagonista de aliviar sua consciência e de contar a história dos acontecimentos que o levaram ao ponto de insanidade em que ele se encontra. O motivador é a sua necessidade de confessar seus pecados e lidar com o peso insuportável da culpa.

O conto explora temas sombrios da natureza humana, usando o motivo do gato preto para simbolizar culpa, insanidade e violência. O narrador é motivado a contar a história de seus atos horríveis como uma forma de aliviar a sua consciência, revelando os aspectos mais obscuros da mente humana ao longo da narrativa

Nó, clímax, desfecho

Nó (Início da história): O narrador gradualmente se entrega ao álcool e à raiva, contribuindo para se tornar cruel e violento.

 

Clímax (Ponto de virada): Em um acesso de raiva, ele arranca um dos olhos do gato. Sentindo remorso, ele enforca o gato para se livrar do animal. No entanto, ele logo começa a sentir culpa e depressão por suas ações.

Desfecho (Resolução da história): Ele adquire outro gato preto com uma mancha branca no peito, mas essa nova relação também se torna problemática. Ele sente que a mancha branca está se vestindo na forma de um cadafalso, representando sua culpa. Eventualmente, em um acesso de fúria, ele tenta matar o segundo gato também, mas sua esposa tenta impedi-lo. Ele acaba matando sua esposa com um machado.

O conto culmina em um estado de culpa extrema e paranoia. O narrador decide esconder o corpo da esposa dentro das paredes da casa e revela como a polícia investigou sua casa sem encontrar provas. No entanto, ele ouve um som vindo das paredes, que se intensifica à medida que a culpa o consome. No auge de sua insanidade, o narrador confessa o crime ao leitor e revela que o corpo da esposa está escondido atrás da parede. A história termina com o narrador descrevendo como os policiais encontram o corpo após arrancar parte da parede, e sua própria rendição à insanidade e à prisão.

  1. Espaço, ambiente, ambientação...

O conto "O Gato Preto" de Edgar Allan Poe é ambientado principalmente na casa do narrador, proporcionando um ambiente sombrio e perturbador. A maior parte da história ocorre dentro das paredes dessa casa, onde as ações principais e os eventos mais intensos acontecem. A atmosfera da casa reflete o estado mental deteriorado do narrador e a escuridão de suas ações.

A descrição da casa é tolerante e opressiva, favorável para o clima sinistro do conto. A preocupação da mente do narrador se reflete na preocupação física da casa, e a presença do gato preto contribui para a atmosfera inquietante. O gato preto, primeiro Plutão e depois o segundo gato, serve como um símbolo do remorso e da culpa do narrador.

A ambientação REFLEXA é caracterizada pela escuridão, pelo clima de paranoia e pela sensação de confinamento dentro da casa, especialmente nas cenas em que o narrador comete seus atos violentos. A transformação gradual da casa em um local de morte e angústia ecoa a transformação do narrador em alguém consumido pela culpa e pela loucura.

  1. Tempo e recursos de subjetivação

O conto "O Gato Preto" de Edgar Allan Poe apresenta uma mistura de tempo cronológico e psicológico para criar uma narrativa densa e perturbadora.

Tempo Cronológico : O conto começa com uma sequência cronológica mais tradicional, seguindo a linha do tempo da vida do narrador, desde sua juventude até os eventos perturbadores que o levaram à sua condição mental atual. Os eventos são apresentados em uma sequência lógica e linear, detalhando a transformação do narrador de um homem gentil para alguém atormentado por seus impulsos violentos.

Tempo Psicológico: O tempo psicológico é igualmente importante nessa narrativa. O narrador está contando a história retrospectivamente, revisando seus próprios pensamentos e ações. A maior parte da narrativa é conduzida pelo presente da narração, onde o narrador se lembra de eventos passados e reflete sobre seu estado mental atual. Isso cria uma sensação de instabilidade, já que os eventos estão sendo filtrados através da perspectiva perturbada do narrador.

  • Recursos de Subjetivação

Monólogo interior – O protagonista questiona a si mesmo em situações dramáticas.

Fluxo de consciência – Aproxima-se do leitor por meio de tudo que anima sua vida psíquica interior: Pensamentos, sentimentos, emoções, ideias, memórias, etc.

Remorso e Culpa: O tempo psicológico é usado para enfatizar o remorso e a culpa do narrador. À medida que ele relembra os eventos passados, ele demonstra sua consciência

  • Duração

Percebemos o uso de DIGRESSÕES, onde o narrador introduz comentários sobre seu estado de espírito, interrompendo a diegese e permitindo que o discurso narrativo se alongue.

 

  1. Referências

TOMACHEVSKI, Boris. Teoria da literatura: os problemas do gênero. Tradução de Maria Aparecida Pereira. São Paulo: Editora 34, 1976.

ANDREY A.
ANDREY A.
Irati / PR
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Graduação: Letras português (Unicentro - Universidade Estadual do Centro-Oeste)
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