Resenha do cap. 8 do Livro:
em 15 de Janeiro de 2025
O capítulo discute o interesse dos formalistas russos e da Escola de Praga na forma e estrutura das obras literárias, questionando a análise tradicional. Argumenta contra a perspectiva humanista, que vê a discussão sobre forma e estrutura como prejudicial à experiência de leitura. O autor, Thomas Bonnici, defende que a arte requer forma e estrutura, que estão ligadas ao significado. O Estruturalismo é descrito como uma prática interpretativa que busca padrões no texto para entender o significado e a cultura. O texto também menciona o esforço de autores famosos que destacam o antropocentrismo da literatura e criticam a perspectiva humanista por ignorar as estruturas que moldam o significado.
O Estruturalismo tem suas raízes na obra de Ferdinand de Saussure, linguista suíço, que revolucionou o estudo da linguagem no início do século XX. Enquanto a linguística do século XIX se concentrava em aspectos filológicos e gramaticais, Saussure propôs uma abordagem a-histórica e abstrata, questionando como a langue (sistema de linguagem) funciona. Seus princípios básicos incluem a concepção da linguagem como um sistema de significantes arbitrários, cuja forma é determinada pela diferença em relação a outros significantes. A relação entre significante e significado é arbitrária, e a diferença entre os significantes não apenas distingue palavras, mas também cria seus significados. Saussure argumenta que o significado não é um objeto no mundo real, mas sim uma categoria humana e um conceito. A diferença é fundamental para entender a linguagem como um sistema de signos.
O Estruturalismo antropológico de Claude Lévi-Strauss, influenciado por Saussure, aplicou esses princípios à antropologia, estudando as culturas "primitivas". Lévi-Strauss destacou que os mitos e rituais culturais são variações de um padrão narrativo único e que o sentido desses elementos culturais está na diferença. Ele introduziu a ideia de oposições binárias, como luz/escuridão, sagrado/profano, que formam a base da cultura. O pensamento primitivo é descrito como binário, utilizando o princípio da presença/ausência para compreender o mundo.
O Estruturalismo antropológico nega a autonomia individual, enfatizando que os membros de uma cultura contribuem significativamente apenas no contexto geral do universo cultural deles. Além disso, é a-histórico, resumindo todas as culturas a um conjunto de dados não mutáveis e limitados. O texto destaca a continuidade dessas ideias no Pós-estruturalismo dos anos 1970.
O capítulo continua com a análise estruturalista das narrativas, destacando o trabalho de A. J. Greimas, que, seguindo os passos de Propp, busca estabelecer uma "gramática" universal da literatura. Propp, em sua obra "Morfologia do Conto" (1928), formula uma teoria dos contos folclóricos russos, baseada em analogias linguísticas elementares, relacionando a estrutura da frase com a narrativa.
Propp identifica trinta e uma funções narrativas fundamentais em contos folclóricos russos, divididas em etapas como situação inicial, proibição, violação da proibição, entre outras. Essas funções formam uma sequência que pode ser aplicada a vários tipos de narrativas, como comédias, mitos, épicas e romances. Propp adiciona sete esferas de ação ou papéis, como vilão, doador, ajudante, objeto da busca, mandatário, herói e falso herói, e destaca que a mesma composição pode ser aplicada a enredos diferentes, mantendo a mesma estrutura.
Greimas, em "Sémantique Structurale" (1966), desenvolve a teoria de Propp e busca uma gramática universal da narrativa, aplicando a análise semântica da estrutura da frase. Ele substitui as esferas de ação por três pares de oposições binárias: sujeito/objeto, destinador/destinatário e auxiliar/oponente. Esses pares formam os actantes, elementos básicos que constituem o modelo fundamental de todas as narrativas. Greimas destaca a distinção entre actante e personagem, ressaltando que os actantes são limitados em número, enquanto os personagens são muitos. Ele propõe que os leitores podem atribuir diferentes funções a personagens em uma narrativa complexa.
Greimas reduz as trinta e uma funções de Propp para vinte e as agrupa em três estruturas: sintagma contratual, sintagma performativo e sintagma disjuntivo. Por exemplo, o sintagma contratual refere-se à criação ou à quebra de regras, proporcionando diferentes estruturas narrativas, como o contrato entre pessoa e sociedade que gera violação e punição. Ao aplicar o esquema de Greimas à peça "Édipo Rei" de Sófocles, observamos que a narrativa contempla o sintagma contratual, onde Édipo quebra a proibição sobre o incesto e o parricídio, resultando em sua própria punição.
Em resumo, as contribuições de Propp e Greimas fornecem estruturas analíticas fundamentais para compreender as narrativas, revelando padrões recorrentes e possibilitando uma análise mais precisa e "clínica" dos textos literários.
Na sessão seguinte o texto continua abordando a teoria da narrativa, agora explorando as contribuições de Gérard Genette, notadamente em sua obra "Discurso da narrativa" (1972). Genette divide a narrativa em três níveis: fabula (história), syuzhet (trama ou discurso) e narração (ato de narrar). Ele também introduz a ideia de focalização, que envolve o narrador e o focalizador, e discute a distinção entre narrador extradiegético (fora da narrativa) e intradiegético (dentro da narrativa). Além disso, Genette explora a perspectiva, destacando as diferentes formas de focalização e narradores. No que diz respeito à narração, Genette discute a estratificação de níveis na narrativa, incluindo narrativas hipodiegéticas (narrativas dentro de narrativas) e sua função actional, explicativa e temática. Bennici também menciona a tralstextualidade, que abrange a intertextualidade, paratextualidade, metatextualidade e arquitextualidade.
O autor também ressalta a prática contemporânea de incluir múltiplos níveis narrativos para problematizar a fronteira entre realidade e ficção. Genette oferece uma análise minuciosa dos elementos que compõem a narrativa, explorando suas várias camadas e relações intertextuais. O texto aponta críticas à abordagem estruturalista na crítica literária. Destaca que a poética estruturalista, ao se concentrar em contos de fadas, mitos e histórias policiais, pode ter limitações ao lidar com textos específicos, como Sagarana ou Macunaíma. Uma crítica central é que o estruturalismo desconsidera a especificidade dos textos reais, tratando-os como configurações ordenadas por forças invisíveis.
Ao isolar o sistema da narrativa, o estruturalista elimina a autoria, o contexto da obra literária e os substratos sociopolíticos. A abordagem estruturalista também é acusada de ignorar ou eliminar a história, tratando as estruturas narrativas como universais e estáticas, desconsiderando a evolução das formas literárias.
O texto ressalta que o estruturalismo, ao buscar objetividade científica, pode ser prejudicial ao eliminar a autoria e o contexto, tratando os textos como compostos por forças invisíveis. Há uma crítica à abordagem estática e a-histórica dos estruturalistas, que não se interessam pelo desenvolvimento do romance, pela evolução das formas literárias e pelo contexto histórico. Além disso, o estruturalismo é apresentado como um desafio à crítica humanista, que concebia a linguagem como capaz de compreender a realidade e expressar a personalidade do escritor. O estruturalismo, ao afirmar que a estrutura da linguagem cria a “realidade” desmistifica a literatura, deslocando o significado da experiência do escritor ou do leitor para as estruturas linguísticas.
O texto enfatiza que a busca do estruturalismo por objetividade científica pode ser prejudicial ao eliminar a autoria e o contexto, tratando os textos como se fossem compostos por forças invisíveis. Ele critica a abordagem estática e a-histórica dos estruturalistas, que não demonstram interesse pelo desenvolvimento do romance, pela evolução das formas literárias e pelo contexto histórico. Ademais, o estruturalismo é apresentado como um desafio à crítica humanista, que concebia a linguagem como um meio capaz de compreender a realidade e expressar a personalidade do escritor. O estruturalismo, ao afirmar que a estrutura da linguagem cria a "realidade", desmistifica a literatura, deslocando o significado da experiência do escritor ou do leitor para as estruturas linguísticas.
O capítulo em questão aponta que, para os estruturalistas, a interpretação não depende do indivíduo, mas do sistema de linguagem do indivíduo. Existe uma busca científica para descobrir os códigos, regras e sistemas subjacentes a todas as narrativas. No entanto, essa posição objetiva é questionada pelos pós-estruturalistas, que reagem contra essa visão supostamente objetiva da literatura.
O autor explora o Pós-estruturalismo como uma continuação e, ao mesmo tempo, uma rejeição do Estruturalismo. Ele destaca que o Pós-estruturalismo surge no final dos anos 1960, quando o Estruturalismo ainda se desenvolve, e reflete uma bifurcação do movimento linguístico anti-humanista. A crítica feminista, tanto não-marxista quanto marxista, desempenha um papel importante na rejeição do humanismo clássico e do essencialismo. O Pós-estruturalismo compartilha a perspectiva anti-humanista do Estruturalismo, considerando a linguagem como a chave do conhecimento. No entanto, subverte o Estruturalismo ao questionar algumas de suas pressuposições, especialmente em relação à estabilidade das estruturas e à existência de significados definitivos. O manuscrito destaca que o Pós-estruturalismo, como uma sensibilidade estética, quebra o sistema de relações construído pelo Estruturalismo, argumentando que todo significado é relativo.
A distinção primordial entre o Estruturalismo e o Pós-estruturalismo reside na perspectiva deste último acerca da linguagem e das estruturas subjacentes. Enquanto o Estruturalismo sustenta a existência de estruturas subjacentes definidas, o Pós-estruturalismo argumenta que o significado é relativo e que a interpretação definitiva é inalcançável. É importante ressaltar que o Pós-estruturalismo não constitui uma única escola de pensamento, mas sim um conjunto de abordagens que compartilham a concepção de que a relação entre o texto e seu significado é aproximada, escorregadia e ambígua.
A obra também menciona algumas tendências gerais do Pós-estruturalismo: a crítica ao sujeito humano, a crítica ao historicismo e a crítica ao significado. Os Pós-estruturalistas desconstroem a noção de "sujeito", rejeitam padrões universais de história e negam a existência de uma verdade inerente ao texto. A leitura é destacada como um desempenho ativo, em contraste com o consumo passivo do produto. A ênfase no deslizamento entre o significante e o significado, a pluralidade de interpretações e a ideia de que todo significado é relativo são destacados como elementos-chave do Pós-estruturalismo. A desconstrução, uma técnica associada a Jacques Derrida, é mencionada como uma crítica pós-estruturalista que revela as múltiplas interpretações de um texto.
O autor apresenta um quadro que destaca as principais semelhanças e diferenças entre o Estruturalismo e o Pós-estruturalismo e também explora as implicações do Pós-estruturalismo na análise literária, contrastando-o com o Estruturalismo. Este quadro serve como um instrumento valioso para entender a evolução do pensamento literário e as nuances entre essas duas escolas de pensamento. A análise literária sob a lente do Pós-estruturalismo, portanto, oferece uma perspectiva única e desafiadora, que questiona as suposições tradicionais e abre caminho para novas interpretações e compreensões.
Crítica à Abordagem "Científica" do Estruturalismo: O Pós-estruturalismo rejeita a abordagem "científica" do Estruturalismo, que sustentava a existência objetiva de estruturas nos textos literários. Para os pós-estruturalistas, as estruturas são construídas temporariamente pelo leitor, desafiando a noção de uma estrutura fixa e imutável.
Questionamento da Racionalidade Ocidental: O Pós-estruturalismo desafia a visão tradicional da filosofia ocidental, que se baseia na razão como meio de conhecer o mundo. Ele questiona a capacidade de conhecer objetivamente a realidade, afirmando que a pretensão da filosofia ocidental de alcançar uma compreensão objetiva é falsa.
Desconstrução do "Eu" Estável: Os pós-estruturalistas afirmam que o "eu" é uma pluralidade de outros textos, uma interrupção temporária em um fluxo de sentido. O sujeito é instável, sem centro, constituído por fragmentos conflitantes. Isso desafia a noção de um sujeito livre e autônomo, sugerindo uma visão mais complexa e multifacetada da identidade.
Interpretação Literária Sem Resultado Definitivo: O Pós-estruturalismo argumenta que a interpretação de textos literários não leva a um resultado determinado e definitivo. As interpretações são instantâneos em um fluxo contínuo de significações, refletindo a natureza fluida e dinâmica do significado.
Abolição da Diferença entre Literatura e Outras Escritas: O Pós-estruturalismo nega a diferença essencial entre a literatura e outras formas de escrita. Todos os textos estão condicionados à "différance". A única distinção permitida é a presença de finais abertos, que são considerados mais interessantes, desafiando as fronteiras tradicionais entre diferentes formas de escrita.
Morte do Autor e Nascimento do Leitor: Contrariamente à visão estruturalista, o Pós-estruturalismo enfatiza a importância do leitor na produção de sentidos. Isso implica na "morte do autor" e no reconhecimento da interpretação como um processo dependente do leitor, destacando o papel ativo do leitor na construção do significado. Esta perspectiva desloca o foco da autoridade do autor para a agência do leitor, reconhecendo a natureza colaborativa da interpretação literária.
Os estudos culturais evoluíram significativamente com o surgimento de correntes críticas como o Novo Historicismo e o Materialismo Cultural. Essas correntes, influenciadas por Foucault e surgidas nas décadas de 1980 e 1990, focam nas relações de poder, construções ideológicas e culturais, rejeitando a autonomia do autor e do texto e enfatizando o contexto histórico e social do texto literário. Essa evolução marcou uma mudança na análise literária, desafiando a visão elitista estabelecida por Matthew Arnold em “Culture and Anarchy” (1869) e influenciando a formação do cânone literário brasileiro.
O Novo Historicismo, criado por Stephen Greenblatt, analisa a interação entre textos literários, discursos, poder e subjetividade, considerando o contexto histórico e social. No entanto, é criticado por seu pessimismo em relação à resistência dos marginalizados. Por outro lado, o Materialismo Cultural, desenvolvido nos anos 1980, oferece uma abordagem crítica que liga a cultura às forças materiais e relações de produção, analisando a cultura e os textos literários em seu contexto histórico e social. Ambas as correntes representam uma mudança significativa nos estudos literários, indo além das análises tradicionais e integrando perspectivas históricas, culturais e sociais.
O Materialismo Cultural analisa todas as formas de literatura e como são aplicadas em diferentes contextos, como exames vestibulares. Questiona quem controla e perpetua essas seleções no currículo escolar e como certas obras são usadas para fins políticos. Essa abordagem crítica desafia as noções tradicionais, permitindo novas interpretações e compreensões da literatura e seu papel na sociedade. Além disso, busca desafiar a hegemonia, promovendo leituras dissidentes que podem contribuir para a transformação social e política contemporânea.