Síntese de Capítulo:
em 15 de Janeiro de 2025
Mikhail Mikhailovich Bakhtin (17/11/1895 — 07/03/1975)
Para Bakhtin, o conhecimento deve ser dialógico e polifónico, aberto para as contradições e para receber críticas às próprias limitações, e não monológico, fechado, incapaz de ver outros lados de cada questão.
O dialogismo parte do princípio linguístico segundo o qual todo ato de linguagem sempre leva em conta a presença de um interlocutor (mesmo que “invisível” – falamos ou escrevemos para alguém). Logo, tudo que falamos, ou escrevemos, tem um objetivo de prever, ou imaginar, a reação deste interlocutor.
Olhando desta forma, podemos entender que todo ato de comunicação já constitui um diálogo, pois as reações, respostas, críticas e comentários, previstos ou não, determinam esta interação. Ao ler um livro, ou mesmo assistir a um filme, forma-se um diálogo.
Bakhtin propõe, também, que a “voz” do indivíduo não expressa apenas suas ideias, opiniões e valores, traz no discurso valores e ideias da sociedade em que está inserido. Benveniste corrobora esta ideia ao colocar que é o "enunciado considerado em função das suas condições de produção". Assim, podemos perceber que este diálogo não parte apenas do emissor para o interlocutor, existem inúmeras vozes que podem ser parte daquele enunciado proposto. Bem como inúmeras outras vozes recebendo e dialogando de formas distintas com o mesmo enunciado.
Em seus estudos, Bakhtin concluiu que determinados autores podem expressar somente um ponto vista, que reforçando unilateralmente sua opinião própria, ou da personagem representada (monológico); e outros podem ser polifônicos (apresentando várias perspectivas), colocando nas falas das personagens a possibilidade de discordar totalmente dos valores, visão de mundo e ideologia do autor (narrador). A voz do narrador torna-se apenas uma entre muitas, em meio a necessidade de manter a coerência textual.
Para exemplificar estes conceitos, podemos observar obras monológicas, onde somente uma versão, ou abordagem problemática é apresentada: O filme “Dança com lobos”, que apresenta somente a versão romantizada do indígena norte-americano, e o olhar “malvado” do “homem-branco” (não deixa espaço ao espectador para duvidar da sua "verdade"); os contos de “A vida como ela é”, de Nelson Rodrigues, onde as personagens sempre sucumbem à perversão criada pela repressão excessiva, sem apresentar personagens que conseguissem lidar de forma saudável e positiva com as próprias frustrações.
Já nas obras polifônicas, por exemplo, Entrevista com o vampiro, o filme termina sem indicar ao espectador qual dos dois protagonistas, estaria "certo", porque afinal não existe um "certo" e um "errado", mas apenas pontos de vista diferentes; ou ainda em “Os sinos da agonia”, quem seria o verdadeiro herói do romance? Januário ou Gaspar?
Poderíamos refletir sobre um problema com a colocação "monólogo", que se opõe normalmente a "diálogo", não a "polifonia". Mas Bakhtin usa "monológico" como oposto de "polifónico", não como oposto de "dialógico". Talvez fosse mais claro usar "monofônico".
A polifonia existe dentro do texto quando o texto traz dentro de si várias maneiras diferentes de pensar, dialogando internamente. Logo, a dialogia e a polifonia aceitam a recepção de críticas ao conteúdo e limitações do discurso, permitindo a observação de lados opostos, ou simplesmente distintos de cada proposta.