Por que o número 1 não é primo?
em 05 de Setembro de 2015
Como dizia Richard Feynman: “Por causa do sucesso da ciência, apareceu um ‘tipo’ de pseudociência que, com menos esforço, tenta parecer com a ciência”. Não trataremos de pseudociência aqui. Trataremos de algo bem pior: “os charlatões” ou “os motivadores”.
É comum as empresas ou pessoas contratarem outras pessoas, quase sempre bem sucedidas em sua área profissional, para darem palestras motivacionais. Não entrarei na discussão se elas são ou não úteis, ou se são ou não eficazes. Falaremos de ciência!
A ciência, em especial a física, conseguiu, através do método científico, formar um corpo de conhecimento grande e robusto. Na física temos medidas com até 12 casas decimais [1]. Ou seja, os dados previstos na teoria “casam” com os dados experimentais em 12 casas decimais! Conseguimos diferenciar, nestes casos, 1,000000000001 de 1,000000000002. Fazer isso não é algo simples! O cuidado que devemos ter com os experimentos é algo enorme! Mesmo depois de tomar tantos cuidados, é necessária a revisão por pares!
Tudo isso serve para dizer que a ciência É CONFIÁVEL!
Perceba a diferença nas frases:
“Porcos podem voar, eu vi!”
“Porcos podem voar, a ciência comprovou!”
Qual passa maior confiança? Mesmo você sabendo que porcos não podem voar, se alguém te disser a segunda frase, você vai pelo menos procurar por fontes; ao passo que, se alguém te disser a primeira frase, você vira as costas e vai embora!
Por causa dessa confiança que a ciência passa, muitas pessoas tomam proveito disso para “adaptar” leis científicas/físicas. Não é incomum vermos pessoas falando sobre cura quântica, o poder do pensamento, o poder do pensamento positivo, o poder da generosidade, etc. Desafio qualquer um a me mostrar um artigo publicado em algum periódico indexado que mostre resultados favoráveis a qualquer experimento que envolva as situações que citei acima.
Um caso muito frequente é o da “Lei do Retorno” (doravante LR). Esta “lei” diz que, tudo que você faz volta para você. Ou seja, se você faz o bem, o bem volta para você; se você faz o mal, o mal volta para você. Até aí, tudo bem. Muitas pessoas acreditam nisso (mesmo o Sarney estando aí para provar o contrário)! Porém, como muitos preferiam dormir na aula de física e ouviam as coisas pela metade, alguns citam isto como uma Lei de Newton! Já que a pessoa conhece as Leis de Newton “de ouvir falar”, a comparação faz sentido e ela acredita que isto é um princípio físico! É isto que vou tentar provar ser falso!
De fato, não existe nenhuma lei na física que diz isso, mas existe uma lei “que diz coisas parecidas”. A terceira Lei de Newton (daqui para frente TN) diz:
“A toda ação há sempre oposta uma reação igual ou, as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas a partes opostas.” [2]
A definição matemática desta lei é:
Ou seja, se você faz uma força em algum objeto, este objeto faz uma força em você com mesma intensidade, direção MAS, sentido CONTRÁRIO!
Newton ainda descreve: “Seja o que for que puxe ou empurre alguma coisa, é da mesma forma puxado ou empurrado por ela” [2].
É interessante observamos que a TN tem excessões dentro da própria física e que ela só se aplica à forças. Em momento algum Newton fala sobre felicidade, tristeza, angústia, etc. Então: NÃO! A “LN” NÃO É UMA LEI E MUITO MENOS É FÍSICA!
Por fim, vamos provar por absurdo, que a “LR” não tem relação com a terceira TN.
Para provar por absurdo, devemos primeiro supor que a afirmação é válida. Então, vamos supor que a “LR” é descrita pela TN. Se isto é verdade, a LR deve satisfazer as condições da TN. Vamos comparar o que as leis dizem:
Lei do Retorno (LR): Se eu faço uma coisa boa hoje para alguém, recebo uma coisa boa no futuro.
Terceira lei de Newton (TN): Se eu faço uma força para a direita em alguém, este alguém me faz uma força para esquerda.
Observem duas grandes diferenças: uma menos importante e outra mais importante. A menos importante é: na LR a pessoa que recebe a sua boa ação não precisa ser a pessoa que faz a boa ação para você. Na TN isto não é possível. A pessoa que sobre a força para direita, faz a força para a esquerda. A mais importante: a ação na TN é invertida!!!!! Se você faz uma força para direita, recebe uma força para esquerda! Logo, se você faz o bem, deveria receber o oposto: mal!
Provamos por absurdo que as duas leis não são compatíveis e, a não ser que você ache que o Sarney e o Collor fizeram o bem, provamos também que a LR nem lei é!
[1] C.M. Will, Theory and Experiment in Gravitational Physics (Cambridge University Press, Cambridge, 1981).
[2] Newton, I. Principia. Tradução de Ricci, T. et al.