
A zona de desenvolvimento proximal no ensino de inglês

em 23 de Julho de 2025
O processo de aprendizagem de uma língua estrangeira, especialmente o inglês, vem sendo discutido com intensidade nas últimas décadas, sobretudo a partir das contribuições do linguista Stephen Krashen. Sua teoria do “input compreensível” transformou radicalmente as abordagens metodológicas, deslocando o foco do ensino da gramática para a recepção significativa da língua. A ideia central é que a aquisição ocorre quando o aprendiz é exposto a mensagens que consegue entender, mesmo que nem todas as palavras ou estruturas estejam completamente dominadas. Isso representa uma mudança epistemológica relevante: o sujeito aprende a falar por escutar, e não por repetir mecanicamente estruturas isoladas.
Tal teoria encontra respaldo em diversas evidências empíricas e experiências pessoais relatadas por poliglotas ao redor do mundo. A compreensão auditiva, quando treinada de forma progressiva, permite que o cérebro internalize estruturas linguísticas sem que haja a necessidade de explicitá-las. O conhecimento gramatical, portanto, torna-se implícito, e a fluência surge como um reflexo da exposição contínua e significativa ao idioma. Ocorre aqui o que Krashen chamou de “aquisição”, em oposição ao “aprendizado” formal, ou seja, a absorção inconsciente da língua por meio do contato com materiais autênticos: podcasts, séries, músicas, conversas reais.
Além de Krashen, outros teóricos reforçam a importância da escuta no processo de aquisição. James Paul Gee, ao tratar do conceito de “discurso” e “alfabetização secundária”, reconhece que a familiaridade com um idioma só ocorre quando o sujeito se insere em práticas sociais reais daquele discurso. Assim, não basta conhecer regras: é preciso viver o idioma. Neste sentido, atividades de escuta não devem ser tratadas como exercícios periféricos, mas sim como o eixo estruturante do processo de aprendizagem.
O desafio contemporâneo, entretanto, reside na resistência de métodos tradicionais, que ainda priorizam listas de vocabulário, regras gramaticais e traduções literais. Essas práticas, embora úteis em momentos pontuais, não produzem fluência nem desenvolvem uma competência comunicativa autêntica. O uso de input compreensível exige paciência, constância e um reposicionamento do estudante: ele deixa de ser um decodificador de regras e passa a ser um ouvinte ativo, sensível às nuances do idioma.
Nesse cenário, a escuta deve ser compreendida como o caminho mais natural — e mais negligenciado — para a aquisição real da fluência. O input compreensível é, portanto, mais que uma técnica; é uma concepção filosófica de aprendizagem. Trata-se de confiar no processo, aceitar a incerteza do início e entender que o idioma só se incorpora quando faz sentido. Em última instância, aprender inglês é escutar até que o som se torne voz, e a voz se transforme em pensamento.
Referências
KRASHEN, Stephen. The Input Hypothesis: Issues and Implications. Longman, 1985.
GEE, James Paul. What Video Games Have to Teach Us About Learning and Literacy. Palgrave Macmillan, 2003.
ELLIS, Rod. The Study of Second Language Acquisition. Oxford University Press, 1994.
LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How Languages Are Learned. Oxford University Press, 2013.