Análise contrastiva e interferência linguística

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implicações para falantes de português aprendendo inglês

A análise contrastiva, como proposta inicialmente por Charles Fries e Robert Lado na década de 1950, parte do princípio de que os erros mais recorrentes na aquisição de uma segunda língua ocorrem por influência da língua materna. Essa abordagem, embora posteriormente tenha sido criticada por seu determinismo, continua oferecendo subsídios valiosos para o ensino de inglês a falantes de português, especialmente no que diz respeito à antecipação de dificuldades linguísticas previsíveis.

Ao comparar o sistema linguístico do português com o do inglês, é possível identificar áreas de potencial interferência negativa — como pronomes, tempos verbais, ordem sintática, sons vocálicos e consoantes inexistentes em português. A transferência linguística, quando ocorre de forma inadequada, gera erros típicos, como "I have 30 years" (em vez de "I am 30 years old") ou "He has more 3 books" (em vez de "He has 3 more books"), que refletem estruturas do português traduzidas literalmente.

No plano fonológico, a interferência é ainda mais evidente. A ausência do som /θ/ (como em think) e a tendência de nasalização indevida em palavras como "man" ou "pen" revelam uma dificuldade comum entre brasileiros. Já na sintaxe, a flexibilidade da ordem das palavras em português pode levar à produção de frases com estrutura estranha em inglês, como "Is raining a lot today", omitindo o sujeito obrigatório.

Contudo, nem toda interferência é negativa. A semelhança lexical entre as línguas, especialmente pelo grande número de cognatos, pode facilitar a compreensão inicial de vocabulário e estruturas básicas. A questão, então, não é evitar a interferência, mas compreendê-la e saber usá-la pedagogicamente, promovendo a consciência linguística do aluno.

O papel do professor, nesse contexto, é fundamental. O conhecimento das diferenças estruturais entre as línguas e dos erros previsíveis permite intervenções mais precisas e eficazes. Estratégias como o ensino contrastivo de estruturas, o uso de exemplos contextualizados e o estímulo à metacognição sobre a própria língua materna podem ajudar os alunos a desenvolver uma competência comunicativa mais autônoma.

Mais recentemente, a linguística aplicada tem proposto uma abordagem mais dinâmica e interacional da análise contrastiva, reconhecendo que os processos de aquisição envolvem não apenas transferência, mas também negociação de significado, influências do input, motivação e identidade. Assim, a análise contrastiva se renova ao se integrar às práticas comunicativas reais e às necessidades individuais dos aprendizes.


Referências
LADO, Robert. Linguistics Across Cultures: Applied Linguistics for Language Teachers. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1957.
CELCE-MURCIA, Marianne; LARSEN-FREEMAN, Diane. The Grammar Book: An ESL/EFL Teacher’s Course. Boston: Heinle, 1999.
ODLIN, Terence. Language Transfer: Cross-Linguistic Influence in Language Learning. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
FARACO, Carlos Alberto. Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

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