
Stephen Krashen e a teoria do input compreensível

em 31 de Julho de 2025
Nas últimas décadas, diferentes abordagens para o ensino de línguas estrangeiras foram sendo formuladas e contestadas à luz de novas evidências empíricas e cognitivas. Um dos pontos que se tornou central em diversas teorias de aquisição é o papel da escuta (listening) como etapa inicial e prioritária no processo de aprendizagem. Nesse contexto, destaca-se a abordagem de Harris Winitz, cuja proposta radical de exclusão temporária da produção oral nas fases iniciais de aprendizagem teve grande repercussão nos estudos sobre aquisição de segunda língua. Segundo Winitz (1981), a exposição intensiva ao input auditivo compreensível permite que o aluno internalize a estrutura da língua de forma semelhante à maneira como se adquire a língua materna.
A ideia não é completamente nova — remete, inclusive, à proposta do Natural Approach de Stephen Krashen, que defende a centralidade do comprehensible input como principal motor da aquisição linguística. No entanto, enquanto Krashen admite a possibilidade de produção oral espontânea desde que o aluno se sinta preparado, Winitz vai além e propõe que os alunos não devem ser forçados a falar, tampouco incentivados a isso nas fases iniciais. Em seus experimentos com alunos universitários, os participantes passaram semanas apenas ouvindo histórias em inglês simples, acompanhadas por imagens e legendas. O resultado foi surpreendente: os estudantes demonstraram compreensão profunda e, posteriormente, iniciaram a produção oral com elevada fluência e precisão gramatical, mesmo sem nunca terem sido forçados a repetir frases ou participar de diálogos.
Tal abordagem contrasta com práticas tradicionais que enfatizam desde o início a repetição oral, a correção fonética e a produção de frases simples. Segundo Winitz, esse tipo de produção prematura pode bloquear o desenvolvimento de uma competência comunicativa mais natural, pois o aluno foca em "acertar" e não em compreender. A compreensão auditiva, nesse modelo, é a base para que o cérebro organize e internalize as estruturas da nova língua de forma intuitiva e duradoura.
Os impactos pedagógicos dessa perspectiva são múltiplos. Primeiramente, ela sugere que o tempo dedicado à escuta deve ser significativamente maior do que o comumente praticado em contextos escolares. Em segundo lugar, reforça-se a importância da escolha adequada de materiais auditivos — áudios com vocabulário compreensível, ritmo adequado e recursos visuais que favoreçam a dedução de sentido. Finalmente, a proposta desafia a ansiedade do aprendiz e do professor frente à ausência de produção oral nas primeiras semanas, apontando que o silêncio, nesse caso, não representa passividade, mas sim um espaço fértil de assimilação.
Em tempos em que a pressa pela fluência oral tem levado a uma supervalorização da produção imediata, a abordagem de Winitz convida a uma reflexão sobre a escuta como um processo ativo, cognitivo e essencial à aquisição. Longe de ser uma etapa secundária, o listening pode ser o alicerce sobre o qual toda a competência linguística será construída.
Referências
KRASHEN, Stephen. The Input Hypothesis: Issues and Implications. New York: Longman, 1985.
WINITZ, Harris. The Comprehension Approach to Foreign Language Instruction. Rowley: Newbury House, 1981.
VANPATTEN, Bill. Processing Instruction: Theory, Research, and Commentary. New York: Routledge, 2004.