
A zona de desenvolvimento proximal no ensino de inglês

em 23 de Julho de 2025
A aquisição de uma segunda língua é um processo complexo que depende de vários fatores, entre eles o tipo e a qualidade do material linguístico ao qual o aprendiz é exposto. Um dos conceitos mais influentes nesse campo é o de input compreensível, desenvolvido por Stephen Krashen, que sustenta que a exposição a conteúdos ligeiramente acima do nível atual de competência do aluno é fundamental para a aquisição natural da linguagem.
De acordo com Krashen (1982), o input compreensível — representado pela fórmula “i+1” — é aquele que apresenta um grau de desafio linguístico levemente superior ao nível atual do aprendiz. Essa exposição constante a uma linguagem que é compreensível, mas que ao mesmo tempo amplia o repertório do aluno, permite que novas estruturas gramaticais e vocabulários sejam assimilados de forma implícita, como acontece com a língua materna.
No contexto do ensino de inglês, isso significa que o aluno deve ser exposto a textos, vídeos, podcasts e interações que ele consiga entender em grande parte, mas que incluam elementos novos, para que sua proficiência avance naturalmente. A leitura de livros simplificados (graded readers), a prática com séries com legendas em inglês e o uso de áudios acompanhados de transcrições são estratégias eficazes para garantir esse tipo de input.
Além de ser uma fonte rica de vocabulário e estrutura, o input compreensível também reduz a ansiedade do aprendiz, pois não exige produção imediata. Ele oferece ao estudante a chance de absorver a língua em seu ritmo, com foco na compreensão, o que está de acordo com a hipótese do filtro afetivo proposta pelo próprio Krashen (1982), segundo a qual emoções negativas como o medo e a frustração dificultam a aquisição.
Estudos empíricos confirmam a eficácia dessa abordagem. Alunos que têm contato regular com materiais compreensíveis tendem a desenvolver maior fluência oral e compreensão auditiva, mesmo com pouco foco em regras gramaticais explícitas (Lightbown & Spada, 2006). Essa constatação reforça a ideia de que o aprendizado de línguas é um processo de absorção, mais do que de instrução.
É importante destacar, porém, que o input só será eficaz se for também interessante. Um conteúdo tecnicamente adequado mas desinteressante pode não gerar engajamento suficiente para que a aquisição aconteça. Por isso, os professores e aprendizes devem priorizar materiais que sejam não apenas compreensíveis, mas também motivadores.
Em suma, o input compreensível é um dos pilares mais sólidos da aquisição de línguas. Sua aplicação prática no ensino do inglês contribui para um aprendizado mais natural, intuitivo e prazeroso, especialmente em contextos onde o aluno não vive em um país de língua inglesa.
Referências
KRASHEN, Stephen D. Principles and Practice in Second Language Acquisition. Oxford: Pergamon, 1982.
LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How Languages are Learned. Oxford University Press, 2006.
VANPATTEN, Bill. From Input to Output: A Teacher’s Guide to Second Language Acquisition. McGraw-Hill, 2003.