A aquisição lexical é um dos pilares da proficiência em qualquer idioma. No contexto do ensino de inglês como língua estrangeira, a memorização de vocabulário frequentemente é tratada como um processo mecânico, desvinculado de significado, contexto ou afetividade. Contudo, a neurociência e os estudos em linguística aplicada têm demonstrado que a memória, quando estimulada por estratégias cognitivas e afetivas eficazes, pode se tornar uma aliada fundamental para o desenvolvimento lexical duradouro e funcional.
A memória de longo prazo é ativada não apenas pela repetição, mas também pelo envolvimento emocional e pelo significado atribuído ao conteúdo. Nesse sentido, o uso de imagens, metáforas, histórias, e até músicas pode ajudar o aprendiz a estabelecer conexões mais profundas com os termos em inglês. A teoria dos mapas mentais, popularizada por Tony Buzan, reforça essa ideia ao mostrar que a organização visual e associativa da informação melhora a retenção e a recuperação de vocabulário.
Do ponto de vista linguístico, o vocabulário não deve ser entendido apenas como um acúmulo de palavras isoladas, mas sim como um conjunto de unidades lexicais interligadas por redes semânticas e pragmáticas. Estudos como os de Nation (2001) e Schmitt (2008) evidenciam que a repetição espaçada, o uso ativo das palavras e o contato contextualizado são mais eficazes do que a simples memorização por listas. Isso indica que a memória precisa ser ativada em múltiplos níveis: fonológico, ortográfico, semântico, emocional e pragmático.
Além das estratégias cognitivas, é fundamental considerar o aspecto afetivo. Aprendizes que associam o estudo do vocabulário a experiências prazerosas tendem a consolidar mais rapidamente os novos termos. A criação de frases pessoais, a prática da escrita criativa e a verbalização em voz alta são exemplos de recursos que ativam não apenas a memória, mas também a identidade do aprendiz no processo.
A abordagem lexical de Michael Lewis corrobora essa perspectiva ao enfatizar a importância de aprender "chunks of language", ou blocos de palavras que carregam significado pragmático. Quando o aluno aprende expressões como “I’m afraid I can’t” ou “Would you mind if…”, ele não está apenas memorizando palavras, mas internalizando estruturas prontas para uso real em situações comunicativas, o que reforça a consolidação da memória de forma significativa.
Portanto, longe de ser um processo automático e desinteressante, a memorização de vocabulário pode ser uma experiência rica, afetiva e estratégica. Para isso, é preciso repensar o papel da memória na aprendizagem de línguas, não como uma ferramenta de armazenamento passivo, mas como um instrumento ativo de construção de sentido. O vocabulário só se fixa quando faz sentido, e só faz sentido quando se vincula à vida, às emoções e ao desejo de comunicação.
Referências
BUZAN, Tony. Use Your Memory. BBC Active, 2010.
LEWIS, Michael. The Lexical Approach: The State of ELT and a Way Forward. Thomson Heinle, 1993.
NATION, Paul. Learning Vocabulary in Another Language. Cambridge University Press, 2001.
SCHMITT, Norbert. Instructed Second Language Vocabulary Learning. Language Teaching Research, 2008.