A aprendizagem eficaz de uma nova língua está profundamente ligada à consolidação do vocabulário. Um dos métodos mais defendidos nas últimas décadas para esse fim é a repetição espaçada (spaced repetition), estratégia baseada em princípios da psicologia cognitiva que visa otimizar a retenção da memória de longo prazo. Esse método se mostra especialmente útil no aprendizado do inglês como segunda língua, pois combate o esquecimento natural de palavras e expressões por meio de revisões periódicas e estrategicamente programadas.
A ideia central da repetição espaçada é que o cérebro tende a esquecer rapidamente aquilo que não é revisado. No entanto, ao revisar uma informação em intervalos cada vez maiores — especialmente quando ela está prestes a ser esquecida — o vínculo com a memória de longo prazo se fortalece. Isso se opõe ao estudo intensivo de curto prazo (conhecido como cramming), que, embora possa gerar resultados imediatos, não garante retenção duradoura.
Em termos práticos, a repetição espaçada vem sendo aplicada amplamente por meio de ferramentas digitais, como os aplicativos Anki, Quizlet, Memrise e outros que usam algoritmos para prever quando o aluno está prestes a esquecer uma palavra. Esses aplicativos programam as revisões automaticamente, aumentando o intervalo entre as repetições à medida que o conteúdo vai sendo consolidado. Isso permite ao aprendiz revisar centenas de palavras com eficiência e pouco esforço.
Estudos demonstram que a repetição espaçada não apenas melhora a memorização de vocabulário, mas também fortalece a recuperação ativa, ou seja, a capacidade de lembrar de uma palavra sem ajuda contextual. Essa habilidade é essencial na fluência comunicativa, pois permite que o falante acesse o vocabulário com rapidez durante interações reais.
É importante ressaltar que a repetição espaçada funciona melhor quando associada a frases completas e contextos de uso. Aprender palavras isoladas pode gerar lacunas de entendimento ou uso incorreto. Por isso, práticas como a coleta de frases de filmes, séries e músicas são aliadas poderosas quando integradas ao sistema de revisão espaçada.
No ensino de inglês, a implementação de métodos de revisão espaçada pode transformar a forma como os alunos lidam com a retenção lexical. Ao invés de depender apenas de listas de palavras e revisões aleatórias, os estudantes passam a se beneficiar de um método que respeita os ciclos naturais da memória humana.
Referências
EBBINGHAUS, Hermann. Memory: A Contribution to Experimental Psychology. Dover Publications, 1885.
BROWN, Peter C.; ROEDIGER, Henry L.; MCDANIEL, Mark A. Make It Stick: The Science of Successful Learning. Harvard University Press, 2014.
NAKAJIMA, Masataka. “The Effectiveness of Spaced Repetition for Vocabulary Learning.” International Journal of Language and Linguistics, v. 6, n. 2, 2019.
PAVLIK, Philip I.; ANDERSON, John R. “Using a Model to Compute the Optimal Schedule of Practice.” Journal of Experimental Psychology: Applied, v. 14, n. 2, 2008.
