No campo da aquisição de segunda língua, o trabalho de Merrill Swain trouxe uma contribuição fundamental ao complementar e, em certa medida, criticar a teoria de Comprehensible Input de Stephen Krashen. Em seu estudo seminal de 1985, Swain introduziu o conceito de Comprehensible Output, argumentando que, para além da exposição à língua-alvo, a necessidade de produzir linguagem também é essencial para o desenvolvimento linguístico eficaz.
A teoria de Swain surgiu a partir de sua pesquisa em contextos de imersão no Canadá, onde estudantes francófonos aprendiam inglês em escolas públicas. Embora esses estudantes tivessem amplo acesso ao inglês falado e escrito (input), suas produções orais e escritas permaneciam marcadas por erros gramaticais persistentes. Swain, então, concluiu que o input, embora necessário, não era suficiente por si só.
Segundo a autora, o momento da produção linguística obriga o aprendiz a prestar atenção à forma da língua. Ao tentar se expressar, ele percebe lacunas em seu conhecimento e busca estratégias para superar essas falhas, ativando mecanismos cognitivos importantes para a aquisição — processo que ela chama de noticing. Esse “notar” (ou tomada de consciência) das falhas na linguagem só acontece quando o aluno precisa formular uma mensagem de forma compreensível e adequada ao contexto comunicativo.
Além disso, Swain aponta que o output tem três funções principais na aquisição da linguagem: (1) a função de noticing, como já citado; (2) a função hypothesis testing, em que o aprendiz testa formas linguísticas e observa sua eficácia na comunicação; e (3) a função metalinguística, em que o próprio ato de produzir linguagem leva à reflexão sobre seu funcionamento. Essas funções tornam o output uma ferramenta pedagógica poderosa.
No ensino de inglês, a teoria de Swain inspira abordagens comunicativas que incentivam atividades de produção significativa, como dramatizações, entrevistas, debates, projetos colaborativos, escrita criativa e peer correction. Diferentemente de métodos baseados exclusivamente na exposição passiva, as práticas influenciadas por Swain colocam o aluno em posição ativa, promovendo não só fluência, mas também precisão gramatical.
Embora as ideias de Swain e Krashen inicialmente pareçam opostas, hoje muitos estudiosos entendem suas teorias como complementares. O input fornece o material linguístico necessário para internalização, enquanto o output cria o espaço para experimentação e consolidação do conhecimento adquirido. Ambas as etapas são indispensáveis em um processo de aprendizagem completo.
Referências
SWAIN, Merrill. Communicative Competence: Some Roles of Comprehensible Input and Comprehensible Output in its Development. In: GASS, S. & MADDEN, C. (org.). Input in Second Language Acquisition. Rowley, MA: Newbury House, 1985.
SWAIN, Merrill; LAPKIN, Sharon. Problems in Output and the Cognitive Processes They Generate: A Step Towards Second Language Learning. Applied Linguistics, v. 16, n. 3, p. 371–391, 1995.
ELLIS, Rod. The Study of Second Language Acquisition. Oxford: Oxford University Press, 1994.
