
O papel do filtro afetivo na aprendizagem do inglês

em 23 de Julho de 2025
O processo de aquisição de uma segunda língua, como o inglês, pode ser compreendido a partir de diferentes abordagens. Enquanto teorias como a de Krashen enfatizam o papel do input compreensível e da exposição contínua, as abordagens socioculturais, especialmente as propostas por Lev Vygotsky, colocam o foco na interação social como motor do desenvolvimento cognitivo e linguístico. Nesse sentido, a noção de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) oferece um arcabouço teórico potente para repensar práticas pedagógicas em sala de aula de inglês, especialmente no que diz respeito ao papel da mediação, da colaboração e da linguagem como ferramenta de pensamento.
Para Vygotsky (1978), a aprendizagem antecede o desenvolvimento e ocorre primeiramente no plano social para depois ser internalizada. A ZDP é o espaço entre o que o aluno consegue fazer sozinho e o que consegue fazer com ajuda de um outro mais experiente — geralmente, o professor ou um colega mais avançado. O conceito parte do princípio de que o desenvolvimento das funções superiores do pensamento humano acontece primeiro no plano interpsicológico, para depois se consolidar no plano intrapsicológico. Assim, o contato com a língua inglesa deve ocorrer não apenas por meio de exposição passiva ao idioma, mas principalmente através de atividades colaborativas, diálogo guiado e mediação intencional.
Estudos contemporâneos em aquisição de segunda língua têm se apoiado na teoria sociocultural para defender que o ensino do inglês precisa favorecer a co-construção de significados. Segundo Lantolf e Thorne (2006), a mediação simbólica — especialmente a linguagem — é o principal instrumento pelo qual o ser humano reorganiza sua cognição. Em uma aula de inglês, isso implica promover interações que desafiem o aluno em seu nível atual, mas com suporte suficiente para que ele avance, ampliando sua autonomia e competência linguística.
Ao aplicar a ideia da ZDP no ensino do inglês, o papel do professor muda: ele não é mais apenas o transmissor de regras e vocabulário, mas o mediador de processos, o organizador de situações que mobilizem o aluno cognitivamente. As estratégias que mais se alinham a essa perspectiva são: dramatizações, projetos interativos, tarefas em pares ou grupos com funções bem definidas, uso de scaffolding (andaimes linguísticos) e correções dialogadas.
Além disso, a teoria sociocultural nos permite valorizar o erro não como falha, mas como sinal de que o aprendiz está operando em sua ZDP. Nesse sentido, a correção deve ser interpretada como mediação, e não como punição. É quando o aluno erra e recebe ajuda que o aprendizado mais significativo acontece, pois está transitando entre o que sabe e o que está por aprender.
Em suma, a zona de desenvolvimento proximal nos oferece um paradigma pedagógico mais humano, ativo e colaborativo. Aplicada ao ensino do inglês, ela promove uma aprendizagem não só mais eficaz, mas também mais ética e centrada no sujeito em sua totalidade.
Referências
LANTOLF, James P.; THORNE, Steven L. Sociocultural Theory and the Genesis of Second Language Development. Oxford: Oxford University Press, 2006.
VYGOTSKY, Lev S. Mind in Society: The Development of Higher Psychological Processes. Cambridge: Harvard University Press, 1978.