Resumo
Este artigo analisa os principais pontos discutidos em uma conversa entre o linguista Stephen Krashen e o poliglota Steve Kaufmann, dois dos nomes mais influentes no campo do aprendizado de idiomas. A partir de um comentário crítico sobre a entrevista, exploram-se os fundamentos da aquisição natural de línguas, com foco especial na teoria do input compreensível e na importância de consumir conteúdo real e interessante. O texto propõe uma reflexão sobre os erros mais comuns dos estudantes brasileiros de inglês e aponta caminhos mais eficazes e motivadores para o aprendizado.
Milhares de pessoas tentam aprender inglês todos os anos, mas grande parte delas permanece estagnada, mesmo após consumir uma enorme quantidade de vídeo-aulas, regras gramaticais e exercícios tradicionais. O problema não é necessariamente a falta de esforço, mas sim a forma como esse esforço é direcionado. O foco costuma estar em tarefas desconectadas do uso real da língua — como preencher lacunas, memorizar regras e fazer provas — e não em adquirir familiaridade com o idioma vivo.
Neste contexto, a conversa entre Stephen Krashen e Steve Kaufmann traz uma luz poderosa sobre o que realmente importa no processo de aprendizagem de línguas. Stephen Krashen, professor e pesquisador da Universidade do Sul da Califórnia, é amplamente reconhecido por sua teoria do Comprehensible Input, que afirma que a aquisição de linguagem ocorre quando o aprendiz é exposto a mensagens que ele consegue entender, mesmo que não compreenda todos os detalhes. Segundo Krashen, não aprendemos por meio da prática consciente da gramática, mas sim ao compreender o sentido das mensagens com as quais temos contato.
Steve Kaufmann, por sua vez, é um exemplo vivo dessa teoria. O canadense já aprendeu mais de 20 idiomas, e sua metodologia baseia-se quase exclusivamente no consumo de conteúdo autêntico e prazeroso. Ele defende que é essencial que o aluno sinta curiosidade e prazer pelo idioma — não apenas pelo resultado final (a fluência), mas pelo próprio processo. Para ele, aprender uma língua é um projeto de longo prazo que precisa ser construído sobre interesse genuíno e repetição natural.
Durante a conversa, ambos concordam que o sistema tradicional de ensino tende a desestimular os estudantes porque os afasta daquilo que realmente desenvolve a fluência: a escuta e a leitura extensivas de conteúdos reais. Essa é uma crítica que Krashen faz desde a década de 1980 e que ainda hoje permanece atual, especialmente no Brasil, onde a obsessão por regras gramaticais e testes de múltipla escolha continua sendo a norma.
Ao comentar essa conversa, é fácil perceber como os princípios ali discutidos se aplicam à vida real dos estudantes brasileiros. Muitos ainda se frustram por não conseguir “falar inglês”, mas raramente dedicam tempo suficiente à escuta e à leitura em inglês. Preferem repetir exercícios mecânicos, acreditando que, de algum modo, a fluência surgirá como consequência. No entanto, como Krashen ressalta, a aquisição não é consciente nem forçada; ela é um processo gradual que depende de exposição significativa e contínua ao idioma.
A solução, portanto, não está em estudar mais regras, mas em consumir mais conteúdo. Séries, podcasts, vídeos no YouTube, livros e textos com áudio são ferramentas infinitamente mais eficazes para quem quer internalizar a estrutura do idioma. E quanto mais prazeroso for o conteúdo, mais eficaz será o aprendizado, como afirma Kaufmann.
O ponto central da conversa é claro: aprendemos uma língua quando ela passa a fazer parte da nossa vida cotidiana. E isso só acontece quando nos expomos ao idioma com frequência, com interesse e com propósito.
Referências bibliográficas
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Krashen, S. D. (1985). The Input Hypothesis: Issues and Implications. Longman.
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Krashen, S. D. (2004). The Power of Reading. Libraries Unlimited.
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Kaufmann, S. (2010). The Linguist: A Personal Guide to Language Learning. Linguist Institute.
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Nation, I. S. P. (2001). Learning Vocabulary in Another Language. Cambridge University Press.
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Ellis, R. (2008). The Study of Second Language Acquisition. Oxford University Press.