A aquisição eficaz de vocabulário é uma das maiores dificuldades enfrentadas por aprendizes de língua inglesa. Para superar esse desafio, ferramentas baseadas na teoria da repetição espaçada têm sido amplamente utilizadas. Entre elas, destaca-se o Anki, um programa de flashcards digitais que utiliza algoritmos para reforçar a memorização de longo prazo. Este artigo analisa os fundamentos do uso do Anki no processo de aprendizagem do inglês como segunda língua, destacando seu impacto na retenção de vocabulário, no desenvolvimento da escuta e da pronúncia, e na consolidação da fluência oral. Argumenta-se que, quando bem integrado a uma rotina de estudos, o Anki pode acelerar significativamente o progresso linguístico do estudante.
O vocabulário é um dos pilares da proficiência linguística. Segundo Nation (2001), pelo menos 50% da competência comunicativa em uma segunda língua está diretamente relacionada ao tamanho e à profundidade do léxico dominado pelo falante. No entanto, o simples contato com novas palavras não garante sua aquisição duradoura. É necessário que essas palavras sejam encontradas repetidas vezes em contextos variados para que possam ser armazenadas na memória de longo prazo. É nesse contexto que ferramentas como o Anki ganham destaque.
O Anki é um software baseado na técnica de spaced repetition (repetição espaçada), que foi originalmente proposta por Ebbinghaus (1885) em seus estudos sobre a curva do esquecimento. A ideia central é que, para evitar que a informação seja esquecida, ela deve ser revisada no momento ideal — ou seja, pouco antes de ser naturalmente esquecida. O Anki automatiza esse processo por meio de algoritmos que programam a revisão dos cartões (flashcards) de acordo com o desempenho do usuário.
No caso do aprendizado de inglês, os flashcards geralmente contêm uma frase em inglês com uma palavra nova em destaque, podendo incluir também a tradução, a pronúncia em áudio, e até mesmo imagens associadas. Essa variedade de estímulos atende ao princípio da codificação multimodal, que, conforme Paivio (1986), potencializa a fixação de informações ao ativar múltiplos canais de memória.
Embora o foco principal do Anki seja o vocabulário, seus benefícios se estendem também à escuta, à pronúncia e, indiretamente, à fala. Ao revisar frases completas com áudio — especialmente se extraídas de textos com áudio já estudados — o estudante reforça os padrões fonológicos e sintáticos da língua, internalizando estruturas comuns do inglês falado. Isso reduz a necessidade de tradução mental e favorece a chamada compreensão instantânea, descrita por Schmidt (1990) como resultado do processamento frequente e consciente de estruturas linguísticas.
Ao utilizar o Anki de maneira consistente — por exemplo, adicionando dez novas cartas por dia e revisando o conteúdo por pelo menos vinte minutos diários — o estudante cria uma base lexical robusta, sobre a qual as demais habilidades podem se apoiar. Além disso, a natureza personalizada do programa permite adaptar os baralhos às áreas de interesse e necessidade de cada aluno, tornando o aprendizado mais motivador e significativo.
O Anki é uma ferramenta extremamente eficaz para estudantes de inglês que desejam acelerar sua aquisição de vocabulário e consolidar estruturas linguísticas. Seu uso regular, integrado a uma rotina de estudo baseada em input de qualidade, potencializa o aprendizado e prepara o terreno para o desenvolvimento da fluência. Embora não substitua o contato real com o idioma, o Anki representa um complemento poderoso e altamente eficiente dentro de uma abordagem autodidata ou orientada por um professor.
