
A escuta como ponto de partida

em 31 de Julho de 2025
A teoria do Comprehensible Input proposta por Stephen Krashen, especialmente em sua Monitor Theory, tornou-se um marco fundamental nos estudos sobre aquisição de segunda língua (ASL), influenciando, até os dias atuais, práticas pedagógicas e currículos de ensino de inglês como língua estrangeira. Segundo Krashen (1982), o aprendizado ocorre quando os aprendizes são expostos a um conteúdo linguístico ligeiramente acima de seu nível atual de competência — o famoso “i+1”. A linguagem precisa ser compreensível, mas desafiadora o suficiente para forçar a expansão natural das habilidades do estudante.
O principal mérito da teoria de Krashen está em deslocar o foco da instrução explícita e da memorização gramatical para a exposição significativa à língua. Para ele, a aquisição ocorre de forma subconsciente, sem necessidade de explicações formais. Assim, ler livros, assistir a filmes ou ouvir podcasts em inglês é mais eficaz do que exercícios gramaticais descontextualizados. Segundo o autor, a instrução consciente da gramática serve apenas como um “monitor” da produção linguística, e não como mecanismo de aquisição.
A abordagem baseada em Comprehensible Input também se alinha com os princípios do Natural Approach, desenvolvido em colaboração com Tracy Terrell, no qual o foco está na comunicação real e na redução do filtro afetivo — barreiras emocionais como medo, ansiedade ou insegurança que inibem a aprendizagem. O input deve ser não só compreensível, mas também fornecido em contextos relaxados e motivadores, que permitam a internalização da linguagem com fluência e espontaneidade.
A crítica mais frequente à teoria de Krashen é a sua subvalorização da produção ativa da língua. Pesquisadores como Merrill Swain (1985), ao propor a teoria do output compreensível, argumentam que produzir também é essencial, pois obriga o aprendiz a reorganizar e solidificar o conhecimento. Ainda assim, a importância do input compreensível como ponto de partida é amplamente reconhecida.
No ensino de inglês, a aplicação dessa teoria tem resultado em práticas como extensive reading, comprehension-based instruction e o uso de materiais autênticos com apoio visual. Softwares, séries com legendas, e diálogos contextualizados são preferidos a exercícios mecânicos e instruções baseadas apenas na forma linguística.
Dessa forma, a influência de Krashen vai além da sala de aula. Suas ideias ajudaram a consolidar uma pedagogia mais comunicativa, centrada no aluno e em sua exposição significativa ao idioma, ainda que o debate permaneça aberto sobre o equilíbrio ideal entre input, output e instrução formal.
Referências
KRASHEN, Stephen D. Principles and Practice in Second Language Acquisition. Oxford: Pergamon, 1982.
KRASHEN, Stephen D.; TERRELL, Tracy D. The Natural Approach: Language Acquisition in the Classroom. New York: Prentice Hall, 1983.
SWAIN, Merrill. Communicative Competence: Some Roles of Comprehensible Input and Comprehensible Output in its Development. In: GASS, S. & MADDEN, C. Input in Second Language Acquisition. New York: Newbury House, 1985.