
Como utilizar o anki para aprender inglês

em 14 de Julho de 2025
Entre estudantes de inglês em níveis intermediário e avançado, é comum ouvir declarações como “eu entendo o inglês, mas não consigo falar”. Essa percepção, apesar de compreensível, revela uma concepção limitada do que realmente significa “entender” uma língua. Este artigo propõe que a compreensão do inglês se dá em diferentes níveis e que a capacidade de falar é diretamente proporcional à profundidade dessa compreensão. Com base em teorias da psicolinguística e da aquisição de segunda língua, defende-se que a fala surge naturalmente quando o conhecimento linguístico é consolidado em camadas — da tradução consciente à compreensão instantânea. Além disso, argumenta-se que a leitura é uma ferramenta poderosa para promover essa transição.
A fluência oral em inglês costuma ser vista como uma habilidade separada da compreensão auditiva ou leitora, como se fosse possível entender um idioma sem ser capaz de reproduzi-lo. No entanto, essa dissociação entre compreensão e produção é muitas vezes aparente, não real. Quando um estudante afirma que entende o inglês, mas não consegue falar, o mais provável é que ele compreenda apenas em um nível superficial, ainda dependente da tradução consciente e da mediação pelo português.
Autores como Levelt (1989) e Segalowitz (2010) explicam que a fala é o resultado da ativação rápida e automatizada de estruturas linguísticas já consolidadas. Isso significa que, se o conhecimento está verdadeiramente internalizado, ele pode ser acessado e expresso verbalmente com pouca carga cognitiva. O que impede muitos estudantes de falar não é a falta de conhecimento, mas a falta de automatização desse conhecimento.
Para compreender melhor essa relação entre entender e falar, é útil pensar na compreensão como um processo gradual que ocorre em camadas. No estágio inicial, o estudante entende o inglês por meio da tradução mental. Cada palavra, frase ou estrutura precisa ser convertida para o português antes de ser compreendida. Essa etapa, embora limitada, é necessária. É nela que o estudante começa a construir os primeiros vínculos semânticos com o novo idioma, como apontam Nation e Newton (2009) ao tratar da aquisição de vocabulário em estágios iniciais.
Com o tempo e a repetição contextualizada, ocorre a transição para o que se pode chamar de assimilação. Nessa fase, o significado das palavras e frases é reconhecido diretamente, sem que o estudante precise recorrer conscientemente ao português. A assimilação representa um avanço significativo, pois libera recursos mentais para que o foco se desloque da forma para a função comunicativa.
O grau mais avançado é o da compreensão instantânea, no qual a linguagem é processada em tempo real, sem esforço consciente. Essa etapa está associada à fluência cognitiva, conceito explorado por Segalowitz (2010), segundo o qual a mente acessa e utiliza a linguagem com velocidade e precisão comparáveis à língua materna. Quando o estudante atinge esse nível, ele não apenas entende o inglês como também está pronto para falar com naturalidade.
Uma das práticas mais eficazes para evoluir nesses graus de compreensão é a leitura extensiva. Segundo Krashen (2004), a leitura oferece ao estudante a oportunidade de encontrar palavras e estruturas em múltiplos contextos, o que favorece tanto a fixação quanto a automatização do conteúdo linguístico. Além disso, a leitura permite que o aluno avance em seu próprio ritmo, revisite informações, analise construções e se familiarize com os padrões do idioma.
Ao ler em inglês, o estudante passa progressivamente da fase da tradução para a assimilação e, com a continuidade da prática, para a compreensão instantânea. Esse processo de repetição em contextos variados reforça o vocabulário, solidifica estruturas sintáticas e expõe o leitor a elementos como entonação e ritmo, ainda que de forma implícita. Tudo isso contribui para a consolidação do conhecimento necessário à produção oral.
Dizer “eu entendo, mas não consigo falar” é, na maioria dos casos, sinal de que o entendimento ainda não alcançou a profundidade necessária para gerar fala espontânea. Quando o estudante compreende plenamente o significado das palavras, a lógica das estruturas, os padrões fonológicos e o uso pragmático da língua, a fala surge como uma consequência natural desse conhecimento. Portanto, a chave não está apenas em praticar a fala, mas em aprofundar os níveis de compreensão — e a leitura pode ser o meio mais eficaz para isso.