Resumo
Este artigo discute as limitações e contribuições do aplicativo Duolingo no processo de aprendizagem do inglês como língua estrangeira. Apesar da popularidade da plataforma, argumenta-se que ela não proporciona as condições mínimas necessárias para a aquisição da fluência, especialmente pela ausência de imersão linguística significativa. A análise considera evidências empíricas e teóricas relacionadas ao papel do input compreensível, da exposição contínua e da motivação no aprendizado de línguas.
O Duolingo tornou-se uma das ferramentas mais populares para o estudo autodidata de línguas estrangeiras. Disponível em diversas plataformas, o aplicativo propõe-se a ensinar idiomas por meio de atividades gamificadas que abrangem vocabulário, gramática, leitura (reading), escuta (listening), escrita (writing) e fala (speaking). No entanto, embora o Duolingo ofereça uma ampla gama de exercícios, sua eficácia na condução do aluno à fluência é limitada por um fator fundamental: a ausência de imersão real no idioma.
A fluência, conforme estudiosos como Krashen (1982) e Nation (2001), é resultado de um processo prolongado de exposição a input compreensível, em contextos autênticos e variados. Krashen argumenta que o aprendizado de línguas é mais efetivo quando o estudante é exposto a grandes quantidades de conteúdo no idioma-alvo, desde que esse conteúdo seja ligeiramente acima do seu nível atual de competência. Essa exposição, também chamada de imersão linguística, é apontada por diversos autores como a principal responsável pela internalização dos padrões linguísticos e pelo desenvolvimento da fluência comunicativa (Lightbown & Spada, 2013).
O problema do Duolingo, portanto, não reside em sua proposta pedagógica em si, mas na limitação de tempo e profundidade que ele oferece. O curso completo de inglês no Duolingo, por exemplo, contém cerca de 30 horas de conteúdo, enquanto os estudos em aquisição de segunda língua indicam que são necessárias, no mínimo, entre 1.200 e 2.000 horas de contato significativo com o idioma para se alcançar um nível de fluência intermediária avançada (DeKeyser, 2013). A discrepância entre esses números revela um problema matemático: por melhor que seja o design do aplicativo, ele não é capaz de substituir uma rotina consistente de leitura, escuta e produção ativa do idioma em contextos reais.
Ademais, o sistema de gamificação utilizado pelo Duolingo, embora motivador em um primeiro momento, pode criar falsas expectativas sobre o progresso do estudante. Métricas como “porcentagem de fluência” ou “nível de domínio” não possuem base científica e podem induzir o usuário a superestimar suas capacidades linguísticas reais. Esse tipo de feedback enganoso pode inclusive prejudicar a motivação do estudante ao longo prazo, uma vez que ele perceberá, na prática, que não consegue compreender conteúdos autênticos ou interagir com falantes nativos, apesar do progresso “aparente” no aplicativo.
Ainda assim, é importante reconhecer que o Duolingo pode cumprir uma função introdutória útil, especialmente para iniciantes absolutos. O contato inicial com vocabulário básico, estruturas gramaticais simples e elementos culturais da língua pode ser positivo e até mesmo necessário para despertar o interesse pelo idioma. Para alunos que ainda não possuem uma rotina de estudo estruturada, o Duolingo pode representar um primeiro passo válido.
Considerações finais
O Duolingo não deve ser descartado como ferramenta de apoio no processo de aprendizagem do inglês, mas tampouco pode ser considerado um meio autossuficiente para a conquista da fluência. Seu valor está na introdução lúdica ao idioma, não na construção profunda das habilidades linguísticas. O progresso real depende de uma rotina de imersão, com leitura, escuta e prática em contextos reais e variados. Apenas por meio dessa exposição intensa é possível desenvolver uma competência comunicativa robusta e duradoura.
Referências bibliográficas
-
DeKeyser, R. (2013). Skill acquisition theory. In B. VanPatten & J. Williams (Eds.), Theories in Second Language Acquisition (2nd ed., pp. 94–112). Routledge.
-
Krashen, S. (1982). Principles and Practice in Second Language Acquisition. Pergamon Press.
-
Lightbown, P. M., & Spada, N. (2013). How Languages are Learned (4th ed.). Oxford University Press.
-
Nation, I. S. P. (2001). Learning Vocabulary in Another Language. Cambridge University Press.