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em 23 de Julho de 2025
O filme argentino El secreto de sus ojos, dirigido por Juan José Campanella e estrelado por Ricardo Darín, oferece uma narrativa profunda que entrelaça investigação criminal, amor interrompido e justiça extrajudicial. A partir da resenha de Gabriel dos Santos Sezimbra, observamos que o longa vai além de uma simples história de crime e se desdobra em uma poderosa reflexão sobre a linguagem, a memória e o sofrimento humano. O enredo, centrado no ex-investigador Benjamin Esposito, traz à tona não apenas os eventos de um passado mal resolvido, mas também os ecos morais que permanecem décadas depois.
A trama gira em torno do estupro e assassinato de uma jovem mulher cujo algoz nunca foi formalmente punido. Décadas depois, Benjamin decide escrever um livro sobre o caso, impulsionado pelo vazio da impunidade e pelo enigma do destino do viúvo da vítima. É essa busca que leva à grande revelação do filme: durante vinte e cinco anos, o assassino esteve preso não pelo sistema judiciário, mas pelo próprio viúvo da mulher, confinado dentro de casa e privado de qualquer comunicação verbal. O silêncio, nesse contexto, se torna a forma mais cruel de condenação.
Esse desfecho provoca uma reflexão profunda sobre a relação entre linguagem e existência. Inspirando-se na filosofia de René Descartes, a resenha levanta a hipótese de que o pensamento está intimamente ligado à capacidade de se expressar. Quando essa possibilidade é retirada, o sujeito é reduzido a uma existência incompleta, marcada pelo vazio. A frase proferida por Sandoval, ao explicar sua escolha — dar ao assassino “uma vida vazia, cheia de nada” — sintetiza essa ideia de forma brutal. O castigo não se dá apenas pelo confinamento físico, mas sobretudo pela interrupção do fluxo simbólico que confere sentido à experiência humana: a palavra.
Nesse sentido, o filme rompe com a lógica jurídica tradicional e adentra o campo da filosofia moral e existencial. O silêncio se transforma em uma pena mais poderosa que a morte, pois priva o indivíduo da validação contínua de sua existência. A decisão de Sandoval — um homem comum que não busca vingança explícita, mas uma forma de justiça mais pessoal e simbólica — confronta o espectador com questões difíceis: o que é justiça? Existe redenção para o mal absoluto? Até que ponto a linguagem é necessária para que uma vida seja, de fato, vivida?
El secreto de sus ojos se mostra, portanto, uma obra que ultrapassa os limites do cinema policial e se inscreve no campo da reflexão filosófica e humanista. O castigo imposto ao criminoso não é apenas o silêncio, mas a suspensão da própria condição de sujeito. Ao fazer isso, o filme provoca não apenas empatia ou indignação, mas também uma inquietação profunda com relação à fragilidade dos vínculos humanos e à falibilidade da justiça institucional.
Palavras-chave: justiça, linguagem, silêncio, existência, filosofia, cinema argentino
Bibliografia
Campanella, Juan José (Diretor). El secreto de sus ojos. Argentina: Tornasol Films, 2009.
Descartes, René. Discurso do Método. São Paulo: Martin Claret, 2000.
Kristeva, Julia. O Poder do Horror: Ensaio sobre a Abjeção. São Paulo: Perspectiva, 1989.