Stephen Krashen é um dos nomes mais influentes da linguística aplicada e da aquisição de segunda língua. Sua teoria do input compreensível (Comprehensible Input) tornou-se um marco na década de 1980, desafiando métodos tradicionais baseados em ensino explícito de regras gramaticais. Segundo Krashen, o fator mais importante para a aquisição de uma língua é a exposição a mensagens ligeiramente acima do nível atual de proficiência do aluno — o chamado i+1. Ou seja, o input precisa ser compreensível, mas também conter elementos novos que desafiem o aprendiz.
A teoria de Krashen é composta por cinco hipóteses principais: (1) a hipótese da aquisição-aprendizagem, que distingue entre “aprender” regras conscientemente e “adquirir” de forma subconsciente por meio de exposição significativa; (2) a hipótese do monitor, que sugere que o conhecimento aprendido atua apenas como um corretor consciente, e não como gerador da linguagem; (3) a hipótese da ordem natural, segundo a qual estruturas gramaticais são adquiridas numa ordem previsível, independente do ensino formal; (4) a hipótese do input compreensível propriamente dita; e (5) a hipótese do filtro afetivo, que afirma que fatores emocionais, como ansiedade ou motivação, afetam a eficácia da aquisição.
Na prática, o modelo de Krashen inspira abordagens que valorizam a compreensão auditiva e leituras extensivas, muitas vezes por meio de histórias, séries, conversas espontâneas ou materiais autênticos. Para ele, o papel do professor é criar um ambiente no qual o aluno possa “absorver” a língua por meio de conteúdos interessantes e ligeiramente desafiadores, sem ansiedade e com foco no sentido, não na forma.
Essa teoria teve impacto profundo na pedagogia comunicativa e na popularização de métodos como Total Physical Response, Natural Approach e storytelling. Além disso, fortaleceu o uso de materiais audiovisuais e leitura por prazer como estratégias eficazes, mesmo fora do ambiente escolar.
No entanto, a proposta de Krashen não é isenta de críticas. Pesquisadores como Swain (1985) apontaram que a produção linguística também é essencial, pois permite que o aprendiz perceba suas próprias lacunas (noticing) e desenvolva maior precisão. Outros estudiosos ressaltam que nem todos os alunos têm acesso a input compreensível suficiente fora da sala de aula, o que exige um papel mais ativo do ensino explícito e da prática estruturada.
Mesmo assim, a centralidade do input continua sendo uma das bases mais sólidas na ciência da aquisição de línguas. A aplicação equilibrada de suas ideias, em conjunto com outras abordagens, continua a beneficiar estudantes e educadores ao redor do mundo.
Referências
KRASHEN, Stephen. The Input Hypothesis: Issues and Implications. New York: Longman, 1985.
KRASHEN, Stephen. Principles and Practice in Second Language Acquisition. Oxford: Pergamon, 1982.
SWAIN, Merrill. Communicative Competence: Some Roles of Comprehensible Input and Comprehensible Output in its Development. In: GASS, S. & MADDEN, C. (org.). Input in Second Language Acquisition. Rowley, MA: Newbury House, 1985.
ELLIS, Rod. Second Language Acquisition. Oxford: Oxford University Press, 1997.
