Agricultura e aquecimento global
Por: Hélio A.
07 de Setembro de 2020

Agricultura e aquecimento global

Opinião e perspectiva

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Segundo Colombo et al (2016), desde a Revolução Verde em 1950, no México, a produção agrícola dobrou ao ponto de garantir alimento para todo o mundo, embora essa distribuição seja extremamente desigual, também houve um forte impacto à Biosfera. Segundo os autores, toda a cadeia produtiva desde a produção agrícola até sua distribuição corresponde a um significativo aumento da emissão de gases estufas, chegando até 30% de toda sua correspondência.

A maior parte da terra destinada a agricultura foi convertida em campos para pastagens, enquanto as terras remanescentes para o cultivo estão principalmente em biomas tropicais, correspondendo a cerca de três quartos das florestas tropicais e savanas. As florestas são frequentemente desmatadas para atender às necessidades alimentares locais dos pequenos agricultores, mas a demanda por commodities globais como dendezeiros e soja está se tornando o fator dominante. É previsto que até 2050 as emissões de gases estudas por atividades agrícolas correspondam a 30% do montante total, caso o essas atividades continuem a crescer demasiadamente como estão (COLOMBO et al, 2016). À medida que o clima continua a esquentar e os impactos do aquecimento global se tornam mais frequentes e severos, agricultores e comunidades agrícolas enfrentarão cada vez mais dificuldades na produção. Entende-se que há um modelo agrícola industrial o qual negligencia o cuidado no manejo de solos, reduz a biodiversidade e depende muito de fertilizantes e pesticidas para sua manutenção (CLIMATE CHANGE, 2019).

O aquecimento global consiste no aumento da temperatura média do globo, o que pode gerar eventos e mudanças climáticas extremas, como enchentes e secas mais intensas e perda de produtividade agrícola e de biodiversidade (BORREL et al, 2019). Tal crise de biodiversidade corresponde à presença humana na biosfera por sua exploração predatória de recursos naturais e pelo desmatamento e manejo do solo para atividades agropecuárias, destacando-se, assim, que as atividades agrícolas possuem significativa importância sobre o aquecimento global e às mudanças globais (IPCC, 2019; LETCHER, 2009).

Ao longo dos últimos anos, houve um aumento significativo das emissões de dióxido de carbono e metano (UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, 2015). Como dióxido de carbono e metano são importantes gases que contribuem ao aumento do aquecimento global, é importante destacar que, segundo o PROCLIMA (2020), o IPAM (2015) e a página Statista (2020), a concentração desses gases na atmosfera está associada também à elevação da temperatura global média.

Segundo Hedenus e Wirsenius (2014), para a agricultura, existem três opções principais para mitigar os gases de efeito estufa (GEE): 1) melhorias na produtividade, particularmente no setor pecuário; 2) dedicação a medidas técnicas de mitigação; e 3) mudanças na dieta humana, visto que a principal fonte de emissão de gases estufa está relacionada à pecuária. Além disso, hã previsões para cenários futuros, para 2050, sobre a emissão de GEE, com valores de referência (REF), na melhoria da produtividade (IP) e na adoção de medidas de mitigação técnica (TM).

Segundo os autores, melhorias da produtividade e medidas de mitigação são mais restritas ao setor da produção de carne bovina para o corte que o setor de laticínios, outras carnes e de vegetais (HEDENUS, WIRSENIUS; 2014). Segundo Vieira et al. (2010), com o aumento da preocupação em relação ao aquecimento global, a pecuária tem sido apontada como uma das atividades que mais prejudicam o ecossistema, devido ao número do rebanho bovino brasileiro, sendo cerca de 170 milhões de cabeças de gado ocupando pouco mais de 172 milhões de hectares.

As externalidades negativas causadas pela pecuária bovina estão correlacionadas com o meio de produção extensivo que se caracteriza pelo baixo investimento em formação (principalmente quando a terra adquirida já contém algum tipo de pasto) e manutenção de pastagem. 6 Entende-se, portanto, que as atividades agrícolas possuem uma contribuição para o aumento da temperatura global e às mudanças globais ocasionadas por ele. A forma que essas atividades influenciam sobre essa contribuição negativa à biosfera distingue-se entre os países. O presente trabalho visa discutir, assim, sobre a emissão de GEE pelas atividades agrícolas no Brasil.

Segundo o Estadão (2019), a agropecuária brasileira corresponde à emissão de 25% dos GEE no Brasil, sendo que a pecuária bovina de corte e leiteira correspondem, em conjunto, a 80% desse montante. Segundo o IBE (2016) a fermentação entérica de bovinos e o manejo de dejetos de animais correspondem a 63,55% da emissão de GEE até o ano de 2014. Esse quadro é importante para compreendermos que a origem da emissão de metano à atmosfera provém de forma significativa das atividades pecuárias. 

Outro gás estufa, o óxido nitroso, presente em fertilizantes químicos, também se destaca como contribuidor ao aquecimento global. O desmatamento para a agricultura e o manejo de terra para demais atividades pecuárias, associados à crescente urbanização têm contribuído também para a emissão de dióxido de carbono, além de reduzir a vegetação capaz de fixar esse carbono presente na atmosfera, reduzir a biodiversidade e gerar mudanças drásticas nos ecossistemas brasileiros (BARRETO, 2020; FREITAS et al, 2016; IPAM, 2015). 

De 2017 para 2018, as emissões ligadas ao desmatamento, relacionadas às mudanças de uso da terra, cresceram 3,6%, gerando cerca de 845 milhões de toneladas de carbono (OLIVEIRA, 2019). 

Segundo Colombo et al (2016), o Brasil foi responsável pelo desmatamento tropical, correspondendo ao total de 34% em relação ao mundo, principalmente devido à exploração de madeira, criação de gado e plantação de soja. Em geral, uma transição para sistemas pecuários mais produtivos poderia poupar as florestas, reduzindo as emissões de óxido nitroso e metano. 

Uma transição para sistemas de produção pecuária mais eficientes poderia, até 2030, ser responsável por até 70% da mitigação das contribuições agrícolas totais ao aquecimento global, se coordenada com outras medidas, segundo Colombo et al. Segundo Vieira et al (2010), a alimentação animal é um fator significativo em relação à emissão de GEE pela agropecuária. 

No Brasil, a maior parte da produção de soja é destinada à exportação, e a segunda maior parte é destinada à produção de ração animal (AMARAL, 2005). Assim, o plantio de soja também está diretamente associado à criação animal, com destaque para a bovinocultura. Portanto, torna-se indispensável discutir sobre essa cadeia produtiva da soja no Brasil, visto que o manejo da terra para a produção de alimento à bovinocultura contribui para a emissão de GEE e desmatamento, da mesma forma que a própria criação desses animais também contribui.

Segundo Pinto (2008), o aumento das temperaturas em decorrência do aquecimento global pode provocar perdas nas safras de grãos de R$7,4 bilhões já em 2020 (número que pode subir para R$14 bilhões em 2070 – a depender do referencial do dólar), e alterar profundamente a geografia da produção agrícola no Brasil. Há diversas recomendações para que a produção agropecuária seja repensada mediante ao quadro dramático de mudanças climáticas que vivemos atualmente (FREITAS et al, 2016). 

As principais medidas, que visam a segurança alimentar e crescimento econômico satisfatório consistem em medidas sobre a forma de plantio, otimização da linha de produção e distribuição, mudanças no uso de terras improdutivas (FBDS, 2020), além de outras medidas como criação de projetos para o desenvolvimento sustentável, uso de créditos de carbono, sequestro de carbono, reflorestamento, etc. 

Entre outras medidas, a mudança de hábito aparece como necessária, de forma cultural, que seja repensada. Segundo Hedenus, Johansson e Wirsenius (2014), a mudança da dieta em alguns países para uma drástica redução do consumo de produtos alimentícios de origem animal poderiam contribuir de forma significativa (além de também serem mudanças essenciais). 

Ao visar que a produção extensiva agrícola trará danos ecossistêmicos e à economia como um todo, é inexorável que o sistema produtivista agrícola brasileiro precise ser repensado para visar uma redução séria sobre a destruição do meio ambiente pela exploração predatória com danos irreparáveis. 

A alternativa de desenvolvimento sustentável seria uma opção viável para o crescimento econômico e para a redução da emissão de GEE de forma a mitigar os impactos ambientais, segundo o discurso de diversos autores da área. No entanto, entende-se também que a questão do desenvolvimento sustentável consiste em um discurso falacioso e capitalista, um eufemismo para garantir justificativas pseudo-ecológicas para a obtenção de lucros por grandes empresários de modo a evitar a mudança de comportamento em relação ao meio ambiente. A sociedade do desenvolvimento, de toda forma, jamais será uma sociedade “sustentável” propriamente dita (LATOUCHE, 2009). 

Segundo Daly (2004), o crescimento sustentável é um “modismo” contemporâneo. É algo verdadeiramente esdrúxulo, como quando escritores falam seriamente de “crescimento sustentável na taxa de aumento da atividade econômica”. É uma economia que visa um eterno crescimento e que, portanto, não se trata de soluções sustentáveis enquanto não romper com esse modelo de crescimento.

Segundo o Protocolo de Quioto, defende-se que os países assumam compromissos quantificados de limitação e redução de emissões de carbono, a fim de produzir o desenvolvimento sustentável. O sistema agrícola no Brasil e na maior parte do mundo, consiste em um sistema econômico produtivista e que, desta forma, não consistirá jamais em um modelo de “desenvolvimento sustentável”. 

As emissões de GEE pelas atividades agrícolas correspondem a uma porção significativa de todo o montante das emissões no território brasileiro e diversas mudanças podem ser significativas para a redução aos impactos ao meio ambiente, mas não deixam de ser uma mudança ainda insustentável enquanto visarem a um crescimento ilimitado da economia. Tal mudança consiste sim em uma ideologia utópica concreta discutida pelo movimento em prol do Decrescimento Econômico e se trata de uma mudança gradativa, mas radical. Sendo assim, sobre a redução da emissão de GEE, independentemente do setor da economia que se trata, este seria viável tão somente sobre um sistema que não objetive ao crescimento ilimitado.

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