PATOGÊNESE DA OBESIDADE

A obesidade está inserida no quadro de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), juntamente com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica, entre outras. Define-se obesidade como o acúmulo excessivo de gordura corporal em decorrência do consumo inapropriado de alimentos de elevado teor calórico, determinando um desbalanço energético com repercussão sistêmica. Possui como principais determinantes: (1) genética/ epigenética; (2) fatores metabólicos; (3) fatores ambientais/ hábitos de vida; (4) fatores socioculturais ;(5) fatores demográficos. Uma criança de dois pais obesos tem cerca de 80% chances de se tornar obesa, enquanto o risco é de apenas 15% para um filho de dois pais com peso normal. Além do mais, é fortemente condicionada pelos alimentos disponíveis e pelo estilo de vida sedentário.Tanto em cenário global, quanto nacional é considerado um problema de Saúde Pública, inclusive a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu como uma das metas do milênio a redução de mortes precoces por meio da prevenção de DCNT, o que inclui a obesidade. Em 2016, a revista The Lancet publicou uma reportagem divulgando dados de um importante estudo clínico que constatou que 13% da população mundial possui o diagnóstico de obesidade, com prevalência em 11% dos homens e 15% das mulheres; e 18% das crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos. Outro estudo, desta vez publicado no Jornal Internacional de Obesidade, estimou que até 2030 cerca de 19,7% da população mundial será obesa.  No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, 61% da população estava com sobrepeso e 26%, com obesidade.

O cálculo do índice de massa corporal (IMC) é a medida mais utilizada na prática médica para avaliação da obesidade. A Federação Internacional de Diabetes recomenda que o IMC seja obtido em qualquer consulta de atenção primária à saúde. Com base na classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), adultos com IMC de 25 a 30 são definidos como excesso de peso, e aqueles com IMC de 30 ou mais, como obesos. No caso das crianças, utiliza-se o escore-Z para peso e estatura/comprimento, identificando-se como obesas aquelas que apresentam escore-Z maior que +2, ou seja, que estão com o IMC acima do percentil 95.

A obesidade vem se confirmando também como fator de risco cada vez mais reconhecido para Covid-19, estando associado aos piores desfechos em qualquer faixa etária. Já existem algumas evidências de que também desempenha importante papel na transmissibilidade, uma vez que o tecido adiposo pode ser reservatório do vírus, levando a um derramamento viral prolongado, o que também foi observado com outros vírus, incluindo a influenza H1N1. A presença de um estado pró-inflamatório na obesidade pode prejudicar a resposta imune e a função pulmonar, bem como o estado clínico de outras doenças associadas ou concomitantes, como diabetes, hipertensão arterial, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença cardiovascular, cirurgia bariátrica, etc.

É fundamental que os médicos, especialistas ou não, assim como toda a equipe de saúde estejam preparados para acolher, orientar e tratar adequadamente as pessoas, estabelecendo uma plano terapêutico multidisciplinar e sem estigmas.

Fatores que podem influenciar o balanço energético positivo em longo prazo e consequentemente causar a obesidade. O ganho de peso resulta de uma combinação entre aumento da ingestão calórica, baixo nível de atividade física e redução do gasto energético. Embora a maioria dos casos de obesidade esteja de fato relacionada ao aumento da ingestão calórica associado a más escolhas de alimentos e estilo de vida sedentário, sabe-se que a obesidade também pode ser secundária a distúrbios neuroendócrinos ou genéticos conhecidos e possivelmente tratáveis, tais como: hipotireoidismo, doença de cushing, síndrome dos ovários policísticos, deficiência de hormônios do crescimento, hipogonadismo, insulinoma, pseudo-hipoparatireoidismo.

A patogênese da obesidade, simplificadamente, envolve um desbalanço energético, de maneira que as calorias consumidas em quantidades excessivas excedem o gasto de energia em curso, isto é, baixo gasto energético, sobretudo associado à inatividade física. O aumento da adiposidade está associado à ativação neuro-hormonal e a alterações metabólicas, incluindo ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), ativação do sistema simpático, hiperleptinemia e desregulação dos fatores de crescimento, como o fator de crescimento semelhante à insulina 2 (IGF ). Esses distúrbios homeostáticos induzem um aumento da retenção de sódio, a reatividade vascular e a hiperinsulinemia, fatores que contribuem para o desenvolvimento da hipertensão na obesidade. O tecido adiposo, embora anteriormente visto como um depósito de armazenamento, agora é reconhecido como um órgão endócrino. Os adipócitos sintetizam vários hormônios ou moléculas ativas chamadas adipocinas, que podem ter um efeito protetor sobre o miocárdio. O tecido adiposo também produz citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-1b (IL-1b), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-ɑ) e a interleucina-18 (IL-18). Com isso as células dos adipócitos sofrem apoptose, necrose celular e fibrose, promovendo um estado pró-inflamatório sistêmico de baixo grau e uma disfunção do tecido adiposo. Uma vez que a resposta inflamatória é iniciada, ocorre uma intensificação dessa resposta pelo recrutamento de macrófagos para o tecido adiposo, levando à resistência à insulina, condição que aumenta os riscos para diabetes tipo 2 (DM2). Esses macrófagos também produzem citocinas pró-inflamatórias, óxido nítrico (NO) sintase induzível, espécies reativas de oxigênio (EROs) e espécies intermediárias de nitrogênio que também favorecem a resistência insulínica, levando a síndrome metabólica.