O texto deste breve artigo surgiu de uma pergunta que pode eventualmente ser a mesma de vários outros alunos da plataforma Profes.
Os autores da chamada terceira fase do modernismo lançam mão de recursos formais (ou estéticos) experimentais. No entanto, embora tal experimentação seja justamente o que mais os diferencia das outras fases, não quer dizer que haja menos preocupação social por parte dos autores da terceira fase do que nas outras. Em vez disso, talvez seja importante salientar que a experimentação formal (ou estética) acontece somente neste momento, marcado pela deposição de Getúlio Vargas e pelo fim da Segunda Grande Guerra Mundial, porque nas fases anteriores as preocupações dos autores, em seus projetos literários, estavam centralizadas em encontrar uma sólida identidade nacional na literatura.
A terceira fase já parte de um contexto em que as formas literárias (ou os recursos estéticos) consolidadas pelas fases anteriores já estavam em desgaste, e não comunicavam mais às necessidades desses autores de dizer sobre o mundo que viviam. Afinal, as suas preocupações já eram outras... um claro exemplo disso pode ser percebido justamente em frase atribuída a Clarice Lispector (a frase foi mencionada pelo aluno, em sua pergunta, sem a referência exata, mas parece ter sido uma paráfrase de uma entrevista que a autora concedeu ao programa Panorama, da TV Cultura):
Narrar é um fato que fica sempre aquém da complexidade do real, inatingível por meio da palavra.
Na citação, podemos notar uma rígida separação entre "a linguagem" e "o real". Como dito anteriormente, esse é um excelente exemplo das novas preocupações que passam a compor o pensamento dos escritores da terceira fase, já que, embora findada a Segunda Grande Guerra Mundial, não tiveram fim, ainda hoje, os questionamentos e as agudas desilusões que as feridas abertas naquele período provocaram na humanidade, principalmente porque houve um direcionamento do que se assumiu como produtos "produtivos" da guerra para diversas áreas do saber, principalmente nas áreas exatas (aeronáutica, medicina, química, física...).
Já as Ciências Humanas foram as que tomaram a linha de frente para fazer os questionamentos sobre a vida e sobre a realidade que passavam a ocupar as sociedades que surgiam reformuladas com tanta tecnologia fundada em trincheiras de batalhas e em campos de concentração de seres humanos, já no esquecimento para muitos. A filosofia, a história, a sociologia e a psicologia passam a ter como centralidade esse contraste, entre tantos outros que o século passado viveu. Não foi diferente na literatura, e por isso é na terceira fase do Modernismo que vemos no Brasil um marco inicial de tal momento. Portanto, "narrar" está aquém do "real" porque as palavras não dão conta de abarcar a complexidade do sofrimento humano, ou do desconhecimento humano sobre a sua própria condição, sobre as suas dúvidas e sobre as suas contradições de realidade.