Uma breve análise política de 'Paradise Lost'
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Por: Gabriel S.
14 de Julho de 2025

Uma breve análise política de 'Paradise Lost'

Análise do trecho do Conselho dos Anjos Caídos (Canto II), na obra Paraíso Perdido, de John Milton

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Resumo


Neste artigo trabalharei a obra “Paraíso Perdido”, de John Milton. Pretendo explorar os discursos dos anjos caídos no Conselho proposto por Satã, no Canto II, logo após a expulsão dos anjos rebeldes do Céu. O trecho que será analisado contém críticas políticas à hierarquia do reinado inglês, é possível constatar certa semelhança no discurso dos demônios da ficção de Milton com o de parlamentares da monarquia britânica. Neste sentido me dedicarei a discorrer sobre quais aspectos deste excerto podem ser considerados críticas políticas de Milton à sua realidade política da época e de que maneira essas críticas se constroem no texto.


Palavas-chaves: John Milton; Paraíso Perdido; Canto II; Análise Política; Conselho no Pandemônio


Introdução


John Milton, autor do famoso poema épico Paraíso Perdido, nasceu em Londres, na Inglaterra, em 1608. Milton, como todo grande poeta de sua época, era um estudioso das línguas e das Letras, extremamente erudito, envolvido com a igreja e com a política. Engajado politicamente, publicava críticas questionando certas doutrinas da igreja católica e certas políticas da própria monarquia inglesa. Certa vez publicou uma sugestão à igreja católica pedindo para que fossem mais brandos em relação ao divórcio, por exemplo. Seu envolvimento político era frequentemente polêmico e gerava discussões e debates na igreja. Este ativismo político de John Milton será de suma importância para as discussões sobre a relação de sua visão política e sua obra literária, tópico que discutiremos neste artigo.


Milton viveu sua juventude sob a monarquia do rei Carlos I, do qual desde muito jovem já discordava. Viveu também o processo de ruptura da igreja católica com o protestantismo, se tornando então protestante e assumindo complicações posteriores decorrentes de suas posições. A produção literária de Milton foi muito pautada por sua fé e pela religião cristã. Milton acreditava que toda poesia possuía um propósito social, filosófico e religioso, também acreditava que a poesia deveria glorificar a Deus, promover valores religiosos, inspirar os leitores e ajudar as pessoas a se tornarem melhores cristãos.


Neste artigo analisarei um trecho do Canto II do poema épico Paraíso Perdido. A cena que será analisada é a do conselho dos anjos caídos, organizado por Satã, o líder dos demônios, logo após serem expulsos do Céu. Ao ler o texto, é possível perceber muitas semelhanças entre como se dá o Conselho entre anjos caídos e as reuniões parlamentares da época de Milton. Neste sentido, Milton dá aos demônios um caráter bastante humano. O objetivo é discorrer sobre quais aspectos deste excerto podem ser considerados críticas políticas de Milton e de que forma tais críticas acontecem.


Iniciarei apresentando fatos sobre a vida política de John Milton, sua posição política em questões polêmicas da sociedade em que viveu. Posteriormente farei um breve resumo do trecho do Conselho dos demônios, e por fim, farei uma análise política, onde discorrerei sobre como a visão política de Milton e a cena retratada em sua ficção podem ser semelhantes.


Milton e a política


Os ideais políticos de Milton foram expressos em muitos panfletos publicados durante sua vida. Ele defendia a liberdade absoluta do indivíduo - talvez por ter sido muitas vezes traído pelas instituições nas quais confiava. Milton acreditava que o poder corrompia o ser humano, e por isso sua desconfiança nas instituições o acompanhou por toda sua vida. Ele discordava do fato de que qualquer pessoa pudesse reivindicar poder político sobre outra e acreditava que os governantes deveriam provar que são capazes de liderar um reino antes de tomar posse dos poderes de um líder político.


Apesar de defender a liberdade e lutar contra a autoridade ao longo de sua carreira, Milton acreditava em uma rígida hierarquia política na qual as pessoas obedeceriam a seus líderes e os líderes serviriam seu povo. Ele acreditava que os líderes deveriam conquistar seus cargos por serem melhores e mais aptos a governar do que seus súditos. Milton acreditava que a hierarquia política que existia em sua época era extremamente corrupta e chegou desafiar diretamente o governo de Carlos I, argumentando que Carlos não era apto a liderar seus súditos porque não possuía as faculdades e as virtudes necessárias para exercer tal cargo.


O conselho dos anjos caídos (Canto II), em Paraíso Perdido


O Canto II inicia com Satã propondo um conselho entre os demônios para deliberar qual postura deveria ser tomada contra Deus para que pudessem ter de volta o Paraíso. Satã dá duas possibilidades de postura a ser tomada: a guerra aberta ou a guerra oculta. Em seguida, alguns dos demônios mais importantes dão seus discursos.


Moloch é o primeiro a discursar e vota a favor da guerra aberta, argumentando que nada poderia ser pior do que o Inferno, nem mesmo a destruição deles mesmos e, portanto, eles não teriam nada a perder com um novo ataque. Já Belial, o segundo a discursar, traz outros pontos à discussão, argumenta de maneira muito eloquente que o sofrimento no inferno poderia aumentar muito se atacassem o reino de Deus novamente, e que a punição de Deus poderia ser ainda mais severa se tentassem novamente. Esta posição de Belial poderia até parecer uma defesa da paz, em primeiro momento, mas na realidade era uma defesa da inatividade e do comodismo, a vingança para Belial seria algo muito trabalhoso, portanto argumentava a favor da preguiça em oposição à guerra. Mamon, por sua vez, prefere uma guerra oculta, seu discurso dizia que os demônios deveriam trabalhar arduamente no inferno para transformá-lo em um lugar tão bom quanto o Céu, este discurso é o mais aplaudido e aprovado pela legião de demônios. Belzebu, por fim, faz o último discurso, aonde alerta a todos sobre um possível projeto de Deus de criar um novo mundo que seria habitado por sua mais nova criação, e sugere, portanto, que a melhor postura a ser tomada era a de acabar com essa nova criação, ou seja, acabar com a humanidade.


Análise Política


O debate dos demônios no Canto II, ilustrado acima, pode ser lido como uma paródia do debate político. A decisão democrática de Satã e seus demônios de destruir a humanidade demonstra a corrupção da razão decaída, que pode fazer o mal parecer bom. Milton retrata a organização dos demônios com certa ironia, como se a estivesse elogiando. Satã, por exemplo, incita diplomaticamente os outros, em seu discurso inicial,“à união, fé firme e acordo firme”, fazendo com que o governo recém-formado do Inferno pareça legítimo e poderoso quando, na verdade, é completamente ilegítimo e impotente. Talvez Milton satirize não apenas políticos corruptos, mas políticos e debates políticos em geral.


A cena também demonstra a ironia de Milton quando se refere às instituições e organizações políticas. O comportamento dos demônios sugere que o poder político tende a corromper os indivíduos que o possuem. Mesmo políticos instruídos, como Belial, que possuía grandes habilidades de raciocínio e retórica, mas tinha o poder de enganar o público menos instruído. Em seus outros escritos, Milton argumenta que as organizações políticas e religiosas têm o potencial natural de fazer coisas más em nome da ordem e da união. Após o debate, os demônios se dividem em grupos, alguns dos grupos continuam a falar e argumentar sem qualquer resolução ou conclusão possível. Debates semelhantes sobre as origens do mal e da autoridade política foram fortemente discutidos na época de Milton. Milton chama as discussões dos demônios de “vã sabedoria e falsa filosofia”, uma crítica que ele estende em seus outros escritos aos discursos de seus líderes religiosos e políticos de seu tempo.


Considerações finais


Paraíso Perdido é, sem dúvidas, uma das maiores obras literárias escritas em língua inglesa de todos os tempos, e com certeza a maior obra literária da vida de John Milton. O autor viveu uma vida pública marcada por críticas ferrenhas às instituições de sua época e é notável que este viés foi refletido em sua literatura. Quando os demônios discutem sobre o que deveriam fazer, eles não representam apenas políticos corruptos, aqueles com a piores das intenções, mas políticos em geral, e ainda podemos ir além, em algum grau os demônios da ficção de Milton representam os seres humanos em geral, mesmo os não políticos. Ao longo de todo o poema é possível perceber uma evolução de Adão e Eva, evolução que possui um divisor de águas: a queda, e momento do pecado, deste momento em diante os dois primeiros humanos da Terra passam a pensar e agir cada vez mais como Satã, como se a nova criação de Deus (os humanos), ao serem induzidos ao pecado por Satã, tivessem se tornado criaturas demoníacas como ele. A crítica de Milton às instituições no Canto II de Paraíso Perdido é bastante profunda e sofisticada e abre margem à diversas discussões.


Bibliografia


MILTON, John. Paraíso Perdido. Rio: W.M. Jackson Inc, 1956
LABRIOLA, Albert C. John Milton, English Poet. Britannica, 2022.
Disponível em: https://www.britannica.com/biography/John-Milton

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