Actos hominis X actos humanus
Por: Pedro O.
16 de Agosto de 2018

Actos hominis X actos humanus

Qual a diferença entre actos hominis e actos humanus? E sua relação com a estrutura subjetiva do agir ético?

Filosofia Ética

           Um menino da minha comunidade veio tirar uma dúvida comigo, perguntando sobre a gula, já que no almoço havia um macarrão que se não fosse consumido, estragaria. Estando ele satisfeito, pensou em não comer, porem pensou: “e se perder a comida? Vivemos de providencia!”, sendo assim comeu o macarrão. A dúvida era: “fui guloso?”. Disse a ele que a gula é quando a pessoa fecha em sí e que nada mais importa do que satisfazer o seu desejo, mas que naquele momento ele havia comido por uma boa intenção.

            Onde está a diferença entre os actos? Os actos hominis são atos em que a pessoa se deixa conduzir por um impulso (“... no operar orgânico ou psíquico inconsciente”[1]) que no caso, seria a pessoa gulosa, já os actos humanus são atos refletidos, pensados, (que conjugam razão e liberdade[2]), visando algo (tendo um telos – esse exemplo é simples, mas não tira a noção de eudaimonia na escolha do jovem, tendo ele feito essa escolha a partir daquilo que escolheu como projeto de vida), tendo liberdade para então escolher, auto-afirmando como “um” Eu Sou[3]!

            Outro exemplo que gostaria de expor para nos ajudar a entender melhor essa diferença é sobre o baile funk. Alguns jovens da nossa comunidade tem ido constantemente nesses bailes, mais especificamente no Aglomerado da Serra, onde não se pode entrar “de menores” (claro se estes são homens, pois mulher é liberado qualquer idade), onde a droga “corre solta” (no caminho para o baile e próximo ao baile ficam vários “aviõezinhos” – só esperando), em um espaço do tamanho da nossa sala de aula da faculdade, com um som altíssimo (para envolver o pessoal), muita pouco roupa (desculpe a redundância) e irei me limitar ao descrever, crendo que o mais pode se imaginar. Mas o que tem isso haver com os “nossos” actos? Bom, sendo os actos hominis esses atos onde a pessoa se deixa conduzir pelo impulso (como já visto acima), arrisco-me a dizer que em um baile funk há somente esse tipo de acto, onde cada um vai, fica e sai de lá sem um encontro com o telos, a felicidade. Proponha pela experiência desses anos de comunidade e de missão (no sul de Minas, em São Paulo, no Rio de Janeiro e agora em Belo Horizonte) a explicitar que na verdade essas atitudes são fruto de uma busca da felicidade, a principio actos humanus, mas ao longo do tempo, apenas hominis. Vejamos então uma situação para abrir esse novo horizonte:

Uma jovem é criada pelos pais com muito rigorismo, quando menina, via suas amigas fazendo algo (independente do que), queria, pedia, mas nada podia. Às vezes sonhava em fazer algo, era vetada. Seu sonho era ser professora, mas pelo fato de ganhar pouco, não tinha o mínimo apoio dos pais, dizendo que ela tinha que conseguir um marido rico. Sentia-se reprimida, presa, queria ser livre (aqui não necessariamente para fazer coisas ruins, mas para poder dar asas a muitos de seus sonhos), ficava pensando como as coisas seriam diferentes se ela fosse “de maior”, sonhava! O que essa menina com 18 anos, na sua liberdade (ao menos jurídica) fará? Tudo o que sempre quis e tudo aquilo que de novo passar na frente dela, vai querer experimentar tudo, tudo mesmo. Fazendo muitas coisas que um dia se arrependerá [creio que uma delas é de ter ficado como “carne de açougue” em um baile funk]. Perceba que ao sentir que poderia dar asas aos seus sonhos, ou seja, buscar a sua felicidade, ela acaba “metendo os pés pelas mãos”, a primeiro momento seu acto é humanus, mas se torna um acto hominis.

            Mas qual o intuito de falar que nós missionários temos ido também nesses bailes? É para apresentar que vamos lá para mostrar esse outro tipo de acto, tentando pelo sorriso, atenção, partilha e oração, levá-los para busca da felicidade. Assim como dias atrás que uma jovem de 23 anos (mãe de dois filhos – que os tinha deixado em casa para ir no baile), após a termos abordado quis voltar para sua casa, não ficando no baile, achando melhor ir cuidar dos seus.

            Limito-me a relacionar os actos humanus com a estrutura subjetiva do agir ético, considerando os pontos desenvolvidos por Vaz: universalidade, particularidade e singularidade (todos da razão prática).

            Os actos humanus são a condição de possibilidade para o desenvolvimento desse capítulo I, já que a razão “não tem espaço” nos actos hominis, sendo estes sem o uso da mesma (como vimos acima). A razão pratica é universal, todos têm acesso a ela (ainda que aja momentos que “esqueçam” de utilizá-la – desde que sejam animais racionais). Estando todos no mesmo horizonte, voltados ao Bem (ao telos da eudaimonia), não podemos deixar de “levar em consideração” que no todos há cada um (particularidade), que se volta ao Bem e quando pensamos em cada um, devemos olhar para dentro do mesmo (singularidade), sua interioridade, sua essência (eidos) que se volta ao Bem.

            Olhando de forma inversa, temos na essência do homem a limitação eidética (que o limita no “bem objetivo ao qual se refere, a situação pela qual está condicionado e a própria história do sujeito”[4]), mas que pela ilimitação tética, “que impele o discurso ético além dos limites da subjetividade singular”[5], superando certos limites visando o Bem, onde de forma particular, através do agir (práxis) se aperfeiçoa e “transforma” o universal, do qual é contribuinte fundamental na busca do Bem.

            Fazendo esse movimento então na busca da felicidade (Bem), sempre um ato livre e racional, base da práxis e base dos actos humanus.

 

[1] P. 18

[2] Cf. Idem.

[3] Cf. p. 19

[4] P. 64

[5] idem

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Pedro O.
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