ESQUIZOFRÊNIA SOCIAL
Por: Marcio A.
11 de Janeiro de 2018

ESQUIZOFRÊNIA SOCIAL

Sociologia esquizofrênia social; aparelhos eletroportáteis; perigo

RESUMO: Esse texto pretende analisar as consequências do uso excessivo dos aparelhos eletroportáteis no comportamento humano, observando o surgimento de uma espécie de esquizofrenia social, onde os homens se fecham em seu mundo, isolando-se em sociedade.

 

O homem é no sentido mais literal, um zoon politikon, não só animal social, mas animal que só pode isolar-se na sociedade.” (MARX,1991,pág.4)

 

               O indivíduo, ao longo de sua existência, busca desenvolver inúmeros elementos para propiciar alguma melhoria para a sua vida social. Elaborando com isso, diversos utensílios criados 'artificialmente' para a sociedade, objetos estes a qual os economistas denominam como mercadoria. Segundo Karl Marx, a mercadoria é um instrumento de transformação na sociedade, um “objeto de necessidades humanas, meio de vida no sentido mais amplo da palavra.” [MARX, 1991, p.35] Sendo um elemento a qual é atribuído uma conotação de valor, destinado a alguma parcela da sociedade, com o intuito de movimentar o consumismo e alimentar as 'falsas' necessidades impostas pelo mercado.

                  Essas necessidades criadas proporcionam uma mudança significativa no comportamento dos indivíduos em sociedade, fazendo com que esses seres modifiquem as suas atitudes, conforme a obtenção desejada das mais novidades mercadológicas. Do modo que, notamos que a cada surgimento de uma mercadoria, emerge uma nova tendência ou moda, que faz desse objeto a mais nova necessidade humana, apontando assim, uma transformação, de um modo sutil ou ora gritante, na sociedade. Essas mudanças são notadas, geralmente, quando emana um uso excessivo dessa mercadoria pelos indivíduos, isto é, quando o objeto construído pelas mãos do homem, acaba por sair de sua condição de objeto e passa a ser o de agente transformador, pois começa a guiar e controlar as ações de seu 'novo' objeto.

                Sofrendo assim o processo de alienação. Momento a qual o ser humano é completamente dominado por um sistema que ele próprio idealizou, fragmentando a sua consciência perante a realidade, desenvolvendo com isso uma plena obediência conforme os fatos ocorrem, acreditando na criação como a mais completa veracidade, afetando o relacionamento entre os seres.

 

“A alienação, como fábrica de enganos, se robustece e se alastra, num mundo em que os homens pouco se comunicam pela emotividade e se deixam mover como instrumentos. Mas esse movimento dramático de desumanização não atinge a todos igualmente.”(SANTOS, 2007, pág.70)

 

               Os seres humanos, afetados por esse processo alienante, segundo Milton Santos, acabam sendo guiados como meros instrumentos mecânicos, perdendo com isso as suas características humanas, pois são condicionados a se comportarem de uma só maneira, um modo pré-moldado em sociedade. Destarte, os homens creem e afirmam que as suas ações são naturais, que estão utilizando a sua plena liberdade; porém, esse é um equívoco, pois, na realidade, esse homem está perdido nessa sua falsa criação, sendo apenas mais um objeto descartável desse grande sistema.

              Essa mudança do indivíduo de agente guiador para um mero objeto está bem frequente em nossa sociedade, um exemplo dessa transformação, é só observarmos às consequências do uso excessivo dos aparelhos eletroportáteis, como o Ipod e os celulares que contém arquivos em MP3. Onde milhares de indivíduos estão se acostumando a ver, como normal, parte de sua vida estando separados dos outros indivíduos, ficando presos as sós no seu universo criado, entretidos em volta de seus fones de ouvidos. Sendo comum, vermos em nossa sociedade esse processo bastante corriqueiro, onde milhares de pessoas estão fechados em seu próprio mundo. Um mundo “pseudo-construído” por esse indivíduo, guiado por seus gostos individuais e pela força da indústria cultural (a qual produz tendências e febres perenes) que consegue manipular os seres, transformando em seres substituíveis e manipuláveis, como nos lembra Theodor W. Adorno[1] (2002, pág.43).

               Porém, esse processo só nos evidencia que, como escreve Schopenhauer, “o homem comum coloca a felicidade se sua vida em coisas externas a ele” (2007, p.54). Tendo na mercadoria o rumo destinado a essa êxito. Por esse motivo, os homens modernos estão sempre destinados a buscarem a sua alegria em inúmeros objetos industrializados, como o Ipod. Pois, a mercadoria possui uma característica de satisfazer uma necessidade, trazendo um prazer, quando é realizado esse desejo pelo indivíduo. Destarte, os indivíduos tendem a buscarem a sua satisfação no ato de realizar as suas novas necessidades, necessidades estas que emergem a cada surgimento de objetos tecnológicos, como o “Ipod” ou os “Smartphone”. Dessa forma, ocorre um processo de substituição das necessidades humanas, onde “em lugar das velhas necessidades(…), surgem necessidades novas”(2007, pág.51), como diria Marx.

              A música, nesse momento não provoca um mal maior ao homem, visto que não estamos a esquecer a força alienante a qual essa arte possui no comportamento humano; pelo contrário, pois segundo Schopenhauer, só através da arte, e em especial da música é que o ser humano pode se afastar do sofrimento que alastra a sua vida, pois a música “contudo fornece a semente interna anterior a todas as formações, ou o coração das coisas”(1999, pág.110). Mediante a isso, os indivíduos, na busca de afastar os males existentes em suas vidas, acabam utilizando da música para poderem esquecer o sofrimento individual, e usam os seus fones de ouvidos para se isolarem.

               Esse isolamento social, é proporcionado e provocado pelo uso excessivo desses aparelhos eletroportáteis, ou seja, pela mercadoria. Assim, esses humanos padecem de uma esquizofrenia social, onde esse ser acaba por sofrer uma ruptura voluntária do contato com a sociedade, preferindo o afastamento social. Sendo que, como nos lembra Karl Mannhein, “o isolamento é uma situação marginal na vida social”(1980, pág.153), uma situação a qual fomenta esse afastamento do indivíduo de sua comunidade ou grupo.

 

“Todo indivíduo e todo grupo, desde que excluídos do contato com outros indivíduos ou grupos, tende a tornar-se um indivíduo ou uma comunidade que se desvia. Isto significa que percorre o seu próprio caminho; ajusta-se somente às suas condições particulares.”(MANNHEIN, 1980, pág.153)

 

            Esse desvio social estimula uma diminuição na interação social, evidenciando o surgimento de centros ou nichos individuais. Sendo que, conjunto com o uso excessivo desses aparelhos eletroportáteis, os indivíduos tendem a sofrer um processo de esquizofrenia social, pois acabam por privar-se cada vez mais do convívio humano, limitando apenas a se preocupar consigo mesmo. Essa esquizofrenia social, provoca nesses seres a perca da importância da existência do outro, isto é, ressalta que o outro não é mais relevante há existência desse ser.

               Entretanto, quando ocorre esse processo que evidencia um comportamento antissocial, a qual a existência do outro não mais tem importância, esse indivíduo perde uma de suas características mais importantes de animal homem, que é a sua sociabilidade. Ao passo que, sem o convívio do outro, esse indivíduo se isola a cada momento ou a cada música que inicia em seu MP3. Visto que, as consequências desse isolamento nesse indivíduo são o estímulo das patologias sociais, como a melancolia e o comportamento antissocial.

                Com isso, notamos que o ser humano é o único ser que consegue isolar-se em sociedade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ADORNO, Theodor W. A Indústria Cultural – o Iluminismo como mistificação das massas. In: Tradução de Julia Elisabeth Levy. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. Tradução de José Arthur Giannotti e Edgar Malagodi. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

___________,ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Tradução de Antonio Carlos Braga. São Paulo: Editora Escala, 2007.

MANNHEIN, Karl. Isolamento Social. Tradução de Gabriel Bolaffi. In: CARDOSO, Fernando Henrique, IANNI, Octávio. Homem e Sociedade: leituras básicas de sociologia geral.São paulo: Editora Nacional, 1980.

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.

SHOPENHAUER, Arthur. A Sabedoria da Vida. Tradução de Jeanne Rangel. São Paulo: Golden Books, 2007.

_______________. O Mundo como Vontade e Representação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

 

 

 

[1] “A indústria cultural perfidamente realizou o homem como ser genérico. Cada um é apenas aquilo que qualquer outro pode substituir: coisa fungível, um exemplar. Ele mesmo como indivíduo é absolutamente substituível, o puro nada, e é isto que começa a experimentar quando, com o tempo, termina por perder a semelhança.”[ADORNO, Theodor W. A Indústria Cultural – o Iluminismo como mistificação das massas. Tradução de Julia Elisabeth Levy. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p.43]

 

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