Numerosas peças de cerâmica e murais maias exibem hieróglifos representando a oferta de chocolate a governantes e deuses. Isto não é surpreendente se considerarmos que a designação latina para cacaueiro, Theobromacacao, significa ‘alimento dos deuses.
Quando, no século XVI, os conquistadores espanhóis introduziram o chocolate na Europa, a versão doce tornou-se um alimento de luxo em todo o continente. Em 1847, Joseph Storrs Fry comercializou, em Inglaterra, as primeiras barras de chocolate, seguido rapidamente pelos irmãos Cadbury.
Desde então, o chocolate é produzido cotidianamente; no entanto, poucos conhecem a forma como afeta o nosso corpo. A comunicação social dá-nos informação, embora, por vezes, confusa, uma vez que alterna entre uma visão condenadora do chocolate, como trazendo grandes riscos para a saúde e uma outra visão em que exalta os seus benefícios.
Afinal, comer uma pequena dose por dia é bom ou é mau ?
O chocolate induz uma sensação de prazer que pode ser explicada pelas suas propriedades físicas.
O Professor John Harwood e os seus colegas da Universidade de Cardiff acreditam que o elevado conteúdo de estearatos da manteiga de cacau, um ingrediente essencial do chocolate, é responsável pela forma como se derrete e pela sua estabilidade.
A manteiga de cacau contém entre 30% e 37% de estearatos na sua composição lipídica.
Como consequência, permanece sólida à temperatura ambiente, mas quando consumida, o seu conteúdo em gordura absorve o calor da boca e derrete à temperatura corporal, produzindo o efeito derrete-se na boca.
A feniletilalanina, que promove sentimentos de atração, excitação, tonturas e apreensão, também foi identificada no chocolate, mas, uma vez mais, a sua baixa concentração pode ser insuficiente para produzir os efeitos tipicamente associados a este composto.
A teobromina – um estimulante fraco encontra-do no chocolate – juntamente com outros compostos químicos, tais como a cafeína, pode ser responsável pela sensação muito característica que se verifica ao comer chocolate.
Cientistas do Instituto de Neurociências de San Diego sugerem que o chocolate contém substâncias farmacologicamente ativas que produzem um efeito tipo marijuana no cérebro, como a anandamida: um neurotransmissor canabinóide (Di Tomaso et al., 1996).
O chocolate contém também N-oleoleta-nolamina e N-linoleoletanolamina, que inibem a degradação da anandamida, prolongando os seus efeitos. Sendo assim, os elevados níveis do neurotransmissor podem intensificar as propriedades sensoriais do chocolate (textura e odor), essenciais para induzir o desejo.
A ciência consegue explicar as várias características do chocolate que contribuem para a sua popularidade, mas ainda se discute como ocorrerão os seus efeitos pós-consumo. Embora a sua comercialização como produto para a saúde seja pouco provável, comer, com moderação, as variedades mais escuras pode ser benéfico.
Mas uma coisa é certa: tanto do ponto de vista científico quanto sensorial, nada se compara ao chocolate.