Pensar Fora da Caixa, é possível?
Por: Wilson L.
31 de Agosto de 2020

Pensar Fora da Caixa, é possível?

Você já parou para pensar o que realmente significa tomar a atitude de "pensar fora da caixa"? Será que é tão fácil quanto falar?

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Pensar fora da caixa é uma frase muito comum. Provavelmente você já falou para alguém. Com alguma variação. Mas... se pensar fora da caixa é pensar além... além do quê? Se é pensar diferente... diferente de quem? Se é pensar fora das convenções, de quais convenções? De que onde? Se é pensar de forma inovadora, a questão seria para quem? Qual é o ponto de referência para que você diga que está ou não pensando fora da caixa? Sua própria cabeça?

Sabemos que os ambientes têm culturas e estas se diferem um lugar para o outro (de uma empresa para a outra). Para você sair fora da caixa, sendo ela a sua cabeça, sempre que ler, ouvir, se abrir para aprender, estará colocando coisas novas na sua caixa. O que significa que quando você for melhor do que você, a sua caixa ainda será sua referência.

Como assim?

Para eu sair fora da caixa eu preciso me abrir para ouvir coisas que não conheço e isso é doloroso. Não porque estou aprendendo, mas porque as coisas que são realmente novas, diferentes do que eu já tenho dentro de minha caixa, entram em choque com o que eu tinha como certo. É um processo difícil, sair fora da caixa.

Voltemos ao básico para não mexer com a sua caixa e você não ler tudo que tenho para conversar contigo. Em primeiro lugar, a caixa pode não ser tão grande quanto você pensa.

Ela pode tanto estar na sua cabeça, como dentro de um grupo, de uma equipe, uma empresa, uma comunidade, uma profissão, uma área de conhecimento...

Existem caixas de diversos tamanhos, com diferentes conceitos (conhecimentos) e preconceitos (desconhecimentos). Sendo assim, o que para uns seria pensar fora da caixa, para outros não seria nenhuma novidade, enquanto para outros poderia ser considerada como a coisa mais doida e sem nexo que já existiu.

Um exemplo conhecido: Vincent Van Gogh saiu fora da caixa, e pagou caro por isso. Não vendeu praticamente nenhum quadro em vida (vender para o próprio irmão, conta?). Aliás, algumas de suas obras foram encontradas em janelas, usadas para tapar buracos. No entanto, em 1990 um Van Gogh foi arrematado por mais de US$ 80 milhões (dólares).

Um exemplo pessoal: quando estou em aula ou numa oficina e as pessoas balançam a cabeça positivamente, concordando comigo, o que fica claro é que não estou falando nada de novo. Por quê? Porque sei que as pessoas precisam de algum tempo para assimilar coisas que são diferentes do que estão acostumadas. Elas só concordam (de verdade) se já tiverem pensado a respeito daquilo.

É que nós temos uma fase de estranhamento que precede algo realmente novo. Assim, quando você se depara com algo diferente do que está acostumado, você para para pensar, antes de concordar ou não. A não ser é claro em algumas situações, como por exemplo, naquelas que você não quer perder o emprego e balança a cabeça para fazer de conta que entendeu (e parecer inteligente). Isto significa que em reuniões de criação ou de desenvolvimento de ideias, aquelas verdadeiramente inovadoras não costuma ser aceitas de pronto. Elas causam estranhamento (mas não quer dizer que somente boas ideias fazem isso, vamos deixar claro antes que você perca o fio que pretendo tecer contigo).

Para te fazer lembrar, caso já não tenha feito isso, vamos lembrar de algo que você certamente já experimentou.

Se lembra quando provou algo novo, uma fruta, um prato típico de uma região, algo com um sabor diferente? Sua primeira reação certamente foi a de buscar algum ponto de referência... "humm... parece galinha... lembra manga, mas..."

E é isso que acontece com a sua cabeça e com a de qualquer outra pessoa que se depara com uma ideia verdadeiramente fora da caixa. A primeira reação de nosso cérebro é a de buscar referências conhecidas. O que nos faz parar para pensar um pouco --ou deveria fazer, já que muitos acham mesmo que é preciso dizer algo logo de imediato, seja para parecer inteligente ou para não deixar a outra pessoa na expectativa.

Lembra de quando assistiu a um filme que mexeu muito contigo? O mais comum é você sair em silêncio. Pode até tentar expressar mas é difícil quando falta a experiência anterior para te embasar. No máximo você comenta o que entendeu ou faz perguntas... "mas por que foi assim... por que ele não fez assim... ah... eu não gostei... sei lá...". E você fuça sua caixa mas ela não tem nada do que precisa, não ali, naquele momento. É preciso tempo para o seu cérebro organizar suas ideias. Ligar os pontos.

E é justamente por causa disso que em muitas reuniões as ideias realmente inovadoras não são aceitas com facilidade (quando o são). Não é por não serem boas, mas simplesmente por falta de referência daqueles que estão ali. Além da mania que as pessoas têm de querer resolver tudo na hora.

Muita gente, principalmente nas empresas, quer parecer inteligente, mostrar que sabe, entende de tudo. Então, quando vem a dúvida, e a reunião é para ter soluções, a ideia é descartada, desprezada ou até criticada (sabe aquele risinho irônico?).

Então, chegamos a um ponto fundamental, quando falamos que está passando da hora de começarmos uma Cultura da Criatividade. Porque só é impossível pensar fora da caixa, se aqueles que coordenam, lideram, forem preparados para saber ouvir e se arriscar.

Se arriscar? Sim, pois quando não temos ideia de como as ideias são, precisamos trabalhá-las melhor. Dar-lhes tempo para crescer, se desenvolver.

As ideias precisam de tempo, de espaço, de apoio e de instrumental para evoluirem. Por isso a frase "pensar fora da caixa" é utilizada o tempo todo sem a menor compreensão do que realmente significa.

Isso porque para que se pense fora da caixa é preciso haver pessoas que saibam dizer "eu não entendi direito". "Não consegui acompanhar seu raciocínio. Explique melhor!". "Como seria isso?" E fazendo isso, também é necessário aprender a saber ouvir, para além da própria caixa.

É certo que existem medos, principalmente os que foram desenvolvidos, justamente porque as pessoas querem fazer de conta que sabem tudo e, pior, que por serem líderes, que têm respostas para tudo, de pronto. Na hora.

Mas alguém que sabe realmente liderar, precisa engolir o ego e delegar, estimular que se aprofunde no assunto. Que se discuta e elabore melhor a ideia.

E, sim, isso gasta tempo e pode até parecer que "não deu em nada!". Mas aí é que está o grande engano. Essa atitude amplia a confiança daqueles que têm ideias, para que as exponham. Dá mais experiência para aquele grupo que pesquisou, aprendeu, trabalhou junto. Cria possibilidade de surgirem novas ideias a partir do "erro" inicial.

Acontece que a inovação-criativa não vem somente geração de ideias, mas também da abertura de novos espaços para que as pessoas sintam-se incentivadas a pensar além. A sairem da própria caixa, a irem além da caixa de seus departamentos, da empresa, do mercado. Inovar e criar não são truques de mágica. Dependem de abertura, profissionalismo, tempo e oportunidade. Pense nisso.

 

[Artigo deste autor, originalmente escrito no LinkedIn, em 27 de janeiro de 2020]
Fonte original: https://www.linkedin.com/pulse/pensar-fora-da-caixa-%C3%A9-poss%C3%ADvel-wilson-leite/

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