Precisamos aprender a desaprender.
Por: Wilson L.
31 de Agosto de 2020

Precisamos aprender a desaprender.

“Não adianta prever o futuro [...], se a previsão deriva da premissa de que todo o resto permanecerá inalterado” - Toffler, 1970.

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    • “Não adianta prever o futuro dos semicondutores ou energia, ou o futuro da família (mesmo da própria família), se a previsão deriva da premissa de que todo o resto permanecerá inalterado. Pois nada permanecerá inalterado” - Toffler, 1970.[1]

Alvin Toffler, escritor futurista, classifica a era da informação como a terceira onda, que tem o conhecimento como o meio dominante para geração de riquezas.

Segundo o autor (1993), na primeira onda o sistema é o cultivo da terra, que modifica por completo uma civilização até então nômade. Já na segunda onda é o processo de industrialização e o comércio de bens que predominam como formas de criar riquezas. A cada nova onda, transformações ocorrem em todas as áreas da civilização.[2]

Tanto a primeira quanto a segunda têm como suporte a força de trabalho do ser humano, seja para plantar e colher ou para lidar com o maquinário e fazer repetidamente o que lhe foi ensinado, bem ao estilo fordista.

    • “Não adianta prever o futuro [...] se a previsão deriva da premissa de que todo o resto permanecerá inalterado”

Naquelas ondas, para ser considerado um bom profissional é preciso saber obedecer e fazer o que foi pedido, pois questionar ou mudar o que está dando certo não é desejável. O pensar, criar, inovar não são estimulados, e quando entram como propostas é a partir de um manual de regras engessado.

Acontece que esta nova sociedade que está se desenvolvendo já não se comporta mais como massificada (esta é a tendência). Ela está conectada, tem acesso a informações e exige mais. Quer participar, opinar e ser também produtora.

    • “O futuro é fluido, não congelado. Ele é construído pela nossa mudança e mudança de decisões diárias, e cada evento influencia todos os outros” - Toffler, 1970.[3]

A sociedade da informação traz a terceira onda. E nela, é o conhecimento o meio dominante para produzir riquezas. E desta vez inovar é fundamental, visto que ninguém sabe ao certo para onde vamos, e isso exige que saiamos da zona de conforto e nos arrisquemos em experimentações em busca de descobrir o que ainda não se revelou, num futuro sem bússola nem mapa. E é justamente neste ponto que percebemos o quanto tentamos nos agarrar ao passado. Comportamento mais do que natural, visto que ainda convivemos com as duas ondas anteriores, de acordo com Toffler (1993):

    • “No Brasil, há várias ondas atuando simultaneamente. Em regiões do país a revolução agrícola da primeira onda ainda está virtualmente começando: estão derrubando florestas para plantar várias culturas. Em outras regiões, o país está claramente na segunda onda. Em outros, está no centro da terceira onda”[4]

A partir do entendimento de McLuhan, 2005 [5] e a leitura de Toffler (1993), entendo que estamos presos em uma espécie de tempestade, entre as ondas, como o velho marinheiro de Alan Poe. O maeiström [6] nos surpreendeu e não conseguimos perceber as repetições que podem nos salvar da tormenta.

O que ocorre, e não chega a ser incomum, é que o medo das mudanças faz com que as organizações se prendam a velhas práticas que ainda estão dentro dos sistemas de gerar riquezas das duas ondas anteriores. Mas a nova onda traz mudanças e são estas que geram as crises. Afinal de contas tratam-se de mudanças de paradigmas e isso assusta àqueles acostumados ao padrão das ondas anteriores.

Reuniões, eventos que trazem palestras, metodologias e atitudes “antenadas” com propostas de mudanças é o que presenciamos. No entanto, basta a previsão de lucro da organização oscilar e o espírito de Mr. Ford vem com suas certezas para cortar os gastos. Demissões, cortes de orçamentos considerados “supérfluos” (como incentivo, pesquisa e equipes de inovação), e tudo que foi aprendido se vai com as cabeças cortadas. Volta-se à estaca zero e se continua vivendo na segunda onda.

    • “Mas a nova onda traz mudanças e são estas que geram as crises”

O que gera riquezas na terceira onda é o conhecimento, este se perde quando aqueles que foram formados pela empresa são descartados por causa de seus salários, sem levar em conta o desperdício do conhecimento adquirido e aprimorado. Assim, o predomínio de uma visão voltada para o medo de ter prejuízo financeiro não deixa a empresa perceber o quanto ela está se prejudicando descartando o bem maior que tinha, após tanto tempo treinando, estimulando, transformando mentalidades e comportamentos. E o mercado sofre também as consequências dessa atitude que torna os profissionais desconfiados e cada vez mais céticos (e resistentes) ao discurso de mudança e inovação.

É preciso muito mais do que a palavra inovação no texto em uma Missão para que ela aconteça. Inovar exige o envolvimento de todos (de cima para baixo), na hierarquia ainda verticalizada das empresas. E a grande maioria ainda não compreendeu o que significa capital humano e criativo já que continua desperdiçando-o devido à miopia daqueles que insistem em se apegarem à "segurança" da onda anterior.

    • “Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender” - Toffler, s.d.[7]

O fato é que a terceira onda não é previsível e nem traz a opção de parar para respirar. Mas as mudanças, que começam a acontecer, poderão ser percebidas por quem se abrir para enxergar, pois estão escondidas no meio da tormenta e agem, invisíveis, diante dos olhos dos que temem se arriscar. Mais cedo ou mais tarde o navio será sugado, e só se salvarão os que encontraram a saída à tempo. E não adiantará mais buscar os velhos botes salva-vidas, eles já não serviram. Entenda, a solução não está à vista, ela é intangível como o conhecimento (o novo gerador de riquezas dessa nova onda).

Vivemos numa realidade na qual as crises só tendem a piorar para aqueles que teimam em não abrir os olhos. Entenda, as ondas nunca chegam sem arrebentar e destruir o que existia antes. Ou seja, as crises não são iguais para todos, e boa parte das que vivemos atualmente são efeitos provocados pelo movimento das ondas da transformação. Quanto mais rápido nos adaptarmos, menos seus efeitos nos atingirão.

O certo é que, quer aceitemos ou não, o mundo que conhecemos está mudando, e o que pensadores como Toffler, Levy, Flusser, McLuhan, Bauman, Castells, Negroponte, entre outros, nos ensinam é que só podemos prever a partir daquilo que observamos no meio da tempestade, assim como temos que nos contentar com o fato de que as incertezas sempre serão maiores e o imprevisível o único que é certamente acontecerá.

O que as organizações precisam é de um chá de inovação “lá em cima”, na direção, para compreenderem o quanto estão jogando foram a nova riqueza, que ainda não perceberam ser seu diferencial, pois continuam desperdiçando o conhecimento dos “lá de baixo”. Eventos sobre inovação, palestras, treinamento ou qualquer ação desenvolvida jamais gerarão resultados realmente inovadores se vierem acompanhados do medo e da falta de visão daqueles que ainda estão presos aos velhos paradigmas, que ainda comandam de forma verticalizada e que cegamente acreditam que a crise “um dia irá embora e tudo voltará ao normal”. Triste inocência.

    • “Os analfabetos do século XXI [...] serão aqueles que [...] não conseguem aprender, desaprender e reaprender”

onda está aí, e o que ela traz é a mudança do que hoje conhecemos como modernidade. Ela chega para alagar, inundar, afogar, reconfigurar a geografia. E não adianta tentar fazer barragens com sacos cheios de velhas certezas e medos do desconhecido, pois estes não ajudam em nada quando estamos no meio da tormenta. Somente atrasam e deixam aquelas empresas cada vez mais para trás da nova era e mais próximas do olho da tempestade. É difícil se livrar de certezas que “sempre deram certo”, mas é fundamental se adaptar aos (e descobrir) novos paradigmas. E, para isso, é preciso aprender a reaprender para poder, de verdade, fazer diferente. Pense nisso.

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    1. TOFFLER, Alvin. O choque do futuro. 2a Ed. Rio de Janeiro: Record, 1970. [Tradução Livre] “It does little good to forecast the future of semiconductors or energy, or the future of the family (even one’s own family), if the forecast springs from the premise that everything else will remain unchanged. For nothing will remain unchanged”.
    2. Para os desavisados, o modelo fordista, desenvolvido por Henry Ford na linha de montagem de suas fábricas, tornou-se referência e modelo para o mundo industrializado. A partir dali, o ideal não era a construção do todo por um único (modelo artesanal), mas cada um faz sua parte para a construção do todo (repetição, especialização e desconhecimento da complexidade do todo – o mesmo desconhecimento criticado por Vilém Flusser em Filosofia da Caixa Preta.
    3. Idem [1]. [Tradução Livre] “For nothing will remain unchanged. The future is fluid, not frozen. It is constructed by our shifting and changing daily decisions, and each event influences all others”. No Brasil, esta frase de Toffler ganhou outra tradução: “O futuro é construído pelas nossas decisões diárias, inconstantes e mutáveis, e cada evento influencia todos os outros".
    4. TOFFLER, Alvim. Terceira Onda (Palestra). Resumo e tradução de Eduardo Chaves. In: Congresso Nacional de Informática da SUCESU em 24/8/1993 (s/p). Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/144926568/Resumo-Palestra-Alvin-Toffler>. Acesso em: 19 fev. 2019.
    5. MCLUHAN, Marshall. A arte como sobrevivência na era eletrônica. In: McLuhan por McLuhan: conferências e entrevistas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. (p.245-263).
    6. Maelström: nome dado a uma forte tormenta que acontece com muito vento e redemoinhos na região próxima à montanha de Helseggen, nas costas da Noruega. Muitos textos em português traduzem para “storm” (tempestade, tormenta do inglês), no lugar da palavra “ström” que McLuhan utiliza sem tradução, provavelmente pelos valores contidos na fonte original: uma passagem do livro “A descida no Maelström”, de Edgar Allan Poe, no qual o velho marujo -e guia- narra a aventura de ter sobrevivido ao Maelström, que os noruegueses chamam de Moskoe-ström “[...] por causa da ilha de Moskoe, a meio caminho” (POE, 2003, p.06). Em determinados momentos o velho marujo o chama de “Ström”.
    7. Frase atribuída a Toffler. [Tradução Livre]: “The illiterate of the 21st century will not be those who cannot read and write, but those who cannot learn, unlearn, and relearn”. [https://www.bbc.com/news/world-us-canada-36675260] Optei por traduzir "cannot" como "conseguir" e não como "poder" pois fica mais próximo do meu entendimento da proposta de Toffler em O Choque do Futuro.

 

    • Imagem: Foto: Renata Barradas
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