Dicas pra que a empresa não seja a própria "Caixa"
em 21 de Outubro de 2020
Alvin Toffler, escritor futurista, classifica a era da informação como a terceira onda, que tem o conhecimento como o meio dominante para geração de riquezas.
Segundo o autor (1993), na primeira onda o sistema é o cultivo da terra, que modifica por completo uma civilização até então nômade. Já na segunda onda é o processo de industrialização e o comércio de bens que predominam como formas de criar riquezas. A cada nova onda, transformações ocorrem em todas as áreas da civilização.[2]
Tanto a primeira quanto a segunda têm como suporte a força de trabalho do ser humano, seja para plantar e colher ou para lidar com o maquinário e fazer repetidamente o que lhe foi ensinado, bem ao estilo fordista.
Naquelas ondas, para ser considerado um bom profissional é preciso saber obedecer e fazer o que foi pedido, pois questionar ou mudar o que está dando certo não é desejável. O pensar, criar, inovar não são estimulados, e quando entram como propostas é a partir de um manual de regras engessado.
Acontece que esta nova sociedade que está se desenvolvendo já não se comporta mais como massificada (esta é a tendência). Ela está conectada, tem acesso a informações e exige mais. Quer participar, opinar e ser também produtora.
A sociedade da informação traz a terceira onda. E nela, é o conhecimento o meio dominante para produzir riquezas. E desta vez inovar é fundamental, visto que ninguém sabe ao certo para onde vamos, e isso exige que saiamos da zona de conforto e nos arrisquemos em experimentações em busca de descobrir o que ainda não se revelou, num futuro sem bússola nem mapa. E é justamente neste ponto que percebemos o quanto tentamos nos agarrar ao passado. Comportamento mais do que natural, visto que ainda convivemos com as duas ondas anteriores, de acordo com Toffler (1993):
A partir do entendimento de McLuhan, 2005 [5] e a leitura de Toffler (1993), entendo que estamos presos em uma espécie de tempestade, entre as ondas, como o velho marinheiro de Alan Poe. O maeiström [6] nos surpreendeu e não conseguimos perceber as repetições que podem nos salvar da tormenta.
O que ocorre, e não chega a ser incomum, é que o medo das mudanças faz com que as organizações se prendam a velhas práticas que ainda estão dentro dos sistemas de gerar riquezas das duas ondas anteriores. Mas a nova onda traz mudanças e são estas que geram as crises. Afinal de contas tratam-se de mudanças de paradigmas e isso assusta àqueles acostumados ao padrão das ondas anteriores.
Reuniões, eventos que trazem palestras, metodologias e atitudes “antenadas” com propostas de mudanças é o que presenciamos. No entanto, basta a previsão de lucro da organização oscilar e o espírito de Mr. Ford vem com suas certezas para cortar os gastos. Demissões, cortes de orçamentos considerados “supérfluos” (como incentivo, pesquisa e equipes de inovação), e tudo que foi aprendido se vai com as cabeças cortadas. Volta-se à estaca zero e se continua vivendo na segunda onda.
O que gera riquezas na terceira onda é o conhecimento, este se perde quando aqueles que foram formados pela empresa são descartados por causa de seus salários, sem levar em conta o desperdício do conhecimento adquirido e aprimorado. Assim, o predomínio de uma visão voltada para o medo de ter prejuízo financeiro não deixa a empresa perceber o quanto ela está se prejudicando descartando o bem maior que tinha, após tanto tempo treinando, estimulando, transformando mentalidades e comportamentos. E o mercado sofre também as consequências dessa atitude que torna os profissionais desconfiados e cada vez mais céticos (e resistentes) ao discurso de mudança e inovação.
É preciso muito mais do que a palavra inovação no texto em uma Missão para que ela aconteça. Inovar exige o envolvimento de todos (de cima para baixo), na hierarquia ainda verticalizada das empresas. E a grande maioria ainda não compreendeu o que significa capital humano e criativo já que continua desperdiçando-o devido à miopia daqueles que insistem em se apegarem à "segurança" da onda anterior.
O fato é que a terceira onda não é previsível e nem traz a opção de parar para respirar. Mas as mudanças, que começam a acontecer, poderão ser percebidas por quem se abrir para enxergar, pois estão escondidas no meio da tormenta e agem, invisíveis, diante dos olhos dos que temem se arriscar. Mais cedo ou mais tarde o navio será sugado, e só se salvarão os que encontraram a saída à tempo. E não adiantará mais buscar os velhos botes salva-vidas, eles já não serviram. Entenda, a solução não está à vista, ela é intangível como o conhecimento (o novo gerador de riquezas dessa nova onda).
Vivemos numa realidade na qual as crises só tendem a piorar para aqueles que teimam em não abrir os olhos. Entenda, as ondas nunca chegam sem arrebentar e destruir o que existia antes. Ou seja, as crises não são iguais para todos, e boa parte das que vivemos atualmente são efeitos provocados pelo movimento das ondas da transformação. Quanto mais rápido nos adaptarmos, menos seus efeitos nos atingirão.
O certo é que, quer aceitemos ou não, o mundo que conhecemos está mudando, e o que pensadores como Toffler, Levy, Flusser, McLuhan, Bauman, Castells, Negroponte, entre outros, nos ensinam é que só podemos prever a partir daquilo que observamos no meio da tempestade, assim como temos que nos contentar com o fato de que as incertezas sempre serão maiores e o imprevisível o único que é certamente acontecerá.
O que as organizações precisam é de um chá de inovação “lá em cima”, na direção, para compreenderem o quanto estão jogando foram a nova riqueza, que ainda não perceberam ser seu diferencial, pois continuam desperdiçando o conhecimento dos “lá de baixo”. Eventos sobre inovação, palestras, treinamento ou qualquer ação desenvolvida jamais gerarão resultados realmente inovadores se vierem acompanhados do medo e da falta de visão daqueles que ainda estão presos aos velhos paradigmas, que ainda comandam de forma verticalizada e que cegamente acreditam que a crise “um dia irá embora e tudo voltará ao normal”. Triste inocência.
A onda está aí, e o que ela traz é a mudança do que hoje conhecemos como modernidade. Ela chega para alagar, inundar, afogar, reconfigurar a geografia. E não adianta tentar fazer barragens com sacos cheios de velhas certezas e medos do desconhecido, pois estes não ajudam em nada quando estamos no meio da tormenta. Somente atrasam e deixam aquelas empresas cada vez mais para trás da nova era e mais próximas do olho da tempestade. É difícil se livrar de certezas que “sempre deram certo”, mas é fundamental se adaptar aos (e descobrir) novos paradigmas. E, para isso, é preciso aprender a reaprender para poder, de verdade, fazer diferente. Pense nisso.
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