Guerra do Paraguai
Por: Angélica I.
06 de Agosto de 2020

Guerra do Paraguai

Negros na Guerra do Paraguai

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Como era realizado o recrutamento na Guerra do Paraguai?

Com o Império consolidado e já tendo abandonado o seu auge, o Brasil, governado por D. Pedro II, havia a partir da década de 1840, se envolvido em diversos conflitos com nações vizinhas como o Uruguai, onde houveram intervenções em questões políticas. Porém, apenas em 1864, mais precisamente em Novembro; de acordo com registros brasileiros; eclodiu a Guerra do Paraguai. O episódio que desencadeou o conflito teria sido o aprisionamento de um navio brasileiro, o Marquês de Olinda.

O episódio fez com que os governos do Brasil e do Paraguai rompessem relações diplomáticas. Isso fez com que as questões militares levassem à um conflito bélico de fato. O primeiro movimento ofensivo partiu das tropas paraguaias, que invadiu províncias brasileiras, argentinas e parte do Uruguai. Para responder à altura o ataque paraguaio, as três nações se uniram, formando a Tríplice Aliança.

Alguns historiadores defendem a tese de que a Inglaterra teria apoiado a Tríplice Aliança, por interesses comerciais, pois o desenvolvimento econômico e industrial do Paraguai, fazia com que o país permanecesse isolado, sendo o Estado, o responsável por mediar atividades comerciais e produtivas. O controle era de tal monta, que o Estado chegou a confiscar terras da elite tradicional, onde funcionavam estabelecimentos estatais arrendados ou explorados pela própria força de trabalho estatal, nessas propriedades estatais era utilizada de maneira massiva, a mão de obra escrava ou mesmo de prisioneiros.

Porém, estudos mais recentes acerca da Guerra do Paraguai, discordam da tese de que o conflito teria sido iniciativa da Inglaterra. Em contrapartida, o Brasil, a Argentina e o Uruguai possuíam seus interesses nos territórios de seus vizinhos, como por exemplo, o Brasil tinha como prioridade manter a livre navegação do Rio Paraguai. 

A Guerra do Paraguai durou por volta de 5 anos, quando o Paraguai foi derrotado após a morte de Solano López. A economia do país terminou o conflito, completamente estraçalhada do conflito. O número de mortes até os dias atuais, ainda são imprecisos. Porém, segundo os historiadores Thomas Whigham e Barbara Potthast, o Paraguai tinha entre 420 mil e 450 mil habitantes e essa população foi reduzida em cerca de 60% após o término do conflito. 

No campo econômico, o maior prejudicado nesse quesito foi o Brasil, pois o mesmo havia contraído empréstimos de valores exorbitantes para manter os gastos bélicos durante o conflito, sendo a fiadora desses empréstimos, a Inglaterra. O Brasil se viu em uma situação em que ficou completamente dependente do país europeu. Porém, o saldo positivo da relativa vitória quem aproveitou e fez bom uso da relevância que adquiriu foi o Exército Brasileiro, que saiu fortalecido e passou a desempenhar um papel político cada vez mais relevante e foi também uma das primeiras instituições oficiais brasileiras a defender a Abolição da Escravatura, isso ocorreu devido ao fato das tropas brasileiras serem formadas em sua maioria por negros e homens livres e pobres.

Negros e escravos lutando nos exércitos

De acordo com Toral (1995) o Exército Brasileiro não foi o único a utilizar escravos negros em seus fronts de batalha, os exércitos paraguaio e uruguaio possuíam batalhões formados exclusivamente por negros, fossem eles ex-escravos ou não. Esses batalhões receberam nomes pejorativos como bando de macacos ou seus integrantes eram chamados de caboclos. 

O Líder paraguaio Solano López, atribuía a pecha de macacos a todos os brasileiros, inclusive ao Imperador; homem branco e de olhos claros. A maioria das produções de propaganda institucional do governo paraguaio, no século XIX retratavam os brasileiros como macacos e na imprensa oficial, as frases mais utilizadas para se referir ao Exército Brasileiro, eram: como matar os negros, como caçar os negros e como colocar fogo nos negros. Ao visualizar essas frases, a dedução clara que o leitor desatento pode fazer é de que não haviam negros nas fileiras paraguaias. Porém, essa dedução é completamente errônea, pois no momento da Guerra do Paraguai (1864-1870), a escravidão ainda não havia sido abolida no país vizinho, quanto à esse aspecto, era uma lei promulgada em 1842, que ordenava que os nascidos escravos após Janeiro de 1843, deveriam trabalhar para seus senhores até os 25 anos, os homens e as mulheres até os 24 anos e assim estes poderiam ser considerados livres ou forros.

O alistamento sistemático de escravos e ex-escravos teve início no Paraguai em Setembro de 1865. Porém, os proprietários de escravos receberam uma oferta de indenização por parte do governo, o que tornou a situação ainda mais curiosa, foi o fato de que muitos desses proprietários não aceitaram essa indenização. 

Outra aspecto intrigante quanto ao alistamento militar no Paraguai, foi o recrutamento de grande parte da população masculina, pois após o grande número de baixas de negros, foi preciso recrutar grande parcela da população masculina mais pobre, independente de características raciais e quando o conflito se intensificou, foi preciso o recrutamento também das classes mais abastadas. O recrutamento obrigatório só terminou no ano de 1870, próximo ao fim do conflito. Aqueles que desertavam do exército paraguaio sofriam duras penas e com a maior brutalidade para com os negros, como no caso do desertor Bernardo Pelas, um negro que foi moído numa prensa de tabaco, de acordo com as palavras de Toral (1995).

Presença dos escravos no Exército Brasileiro:

Caso semelhante de recrutamento compulsório para o Exército também ocorreu no Brasil, e, a partir de 1865 deu-se início à formação dos Corpos voluntários da Pátria; porém o recrutamento não tinha nada de voluntário. Os mais abastadis, ou seja, com algum poder econômico ou material, procuravam se livrar do alistamento, na maioria das vezes oferecendo doações e quando os possuíam, podiam até mesmo doar seus escravos. Outra opção para não ir para a Guerra era fazer o oferecimento de familiares, onde podiam ser alistados no lugar dos senhores de terra, os seus filhos, sobrinhos ou agragados.

Quando era possível, quando o poder econômico desse senhor de terras era obviamente maior, esses tornaram prática comum entre a elite brasileira, a compra de substitutos, que significava comprar escravos para se alistar no lugar do recrutado. Até mesmo conventos auxiliaram nessa prática. Também havia a promessa de alforria para os escravos que se apresentavam de forma voluntária para a Guerra ou não, ou seja, os recrutados à força. Até mesmo o Imperador D. Pedro II libertou todos os escravos das fazendas nacionais para que os mesmos pudessem se alistar para lutar na Guerra do Paraguai.

Diversos estudos nessa área não negam a realidade do numeroso contingente de negros escravos e ex-escravos alistados no Exército Brasileiro durante a Guerra do Paraguai, porém não há condições de se fazer uma afirmação categórica de que o exército brasileiro fosse formada de maioria escrava e negra. Alguns autores ainda afirmam que a questão do alistamento estava além do fator racial e também abarca a questão social, onde os que não possuíam posses, não tinham outra alternativa que não a fuga e também não receberam nenhuma contra proposta. Além do recrutamento obrigatório, os soldados negros sofriam com a discriminação racial dentro do Exército.

Consequências da Guerra do Paraguai

O Exército Brasileiro antes da Guerra do Paraguai era uma instituição inexpressiva em diversos ambitos, porém ao final do conflito, a instituição ressurgiu como uma das mais importantes do país. Mas, a promessa realizada aos soldados negros e escravos de que estes seriam alforriados ao final do conflito, não se concretizou. A situação chegou a tal monta que décadas após o fim do acontecimento, negros precisaram se amotinar para protestar contra os castigos físicos que sofriam. Ou seja, os negros que encontraram uma ocupação ou trabalho dentro do Exército Brasileiro, acabaram por encontrar situação análoga a escravidão. 

As rivalidades entre as nações envolvidas no conflito continuaram através das décadas seguintes. O Paraguai teve sua população em idade produtiva dizimada. O Brasil acabou por contrair uma dívida nunca antes assumida, por conta dos dispensiosos gastos bélicos para assegurar a vitória, chegando a gastar duas vezes mais que a sua receita de arrecadação anual. Porém, mesmo que os negros não tenham sido libertos após o término, pelo mesmo motivo, as discussões acerca da Abolição da Escravatura se tornaram frequentes e com ações cada vez mais concretas por parte dos mais variados setores da sociedade.

A Historiografia acerca da Guerra do Paraguai sofreu alterações ao longo das décadas de intensos estudos e pesquisas sobre o assunto. No final do século XIX a Historiografia tratava as causas do conflito apenas observando supostas pretensões ambiciosas de Solano López. Nos anos 1950 autores argentinos buscaram rejeitar a tese da responsabilidade inglesa. Apenas na década de 1980, que estudos propuseram causas distintas que levam em conta diversos aspectos para o evento histórico.

Em primeiro lugar, a tese de que a Inglaterra poderia ter interferido em favor do Brasil não se sustenta, pois as relações diplomáticas entre as duas nações estavam rompidas desde o ano de 1863, antes do início da Guerra do Paraguai. Não haviam canais de comunicação entre os governos brasileiro e inglês desde a Questão Christie. Os investimentos ingleses no século XIX estavam espalhados por todo o mundo e apoiar uma guerra que envolvia várias nações com quem o governo inglês possuía relações comerciais, seria contraproducente. Porém, o Brasil já havia interferido em solo latino-americano em outras oportunidades no início do século XIX, sendo que a nova intervenção não respondia aos interesses ingleses. 

Outros fatores como a publicação por parte do governo inglês dos Termos do Tratado da Tríplice Aliança; o que prejudicava as estratégias dos aliados; é uma prova da falta de compromisso dos ingleses para com os mesmos e não de prova de um envolvimento oculto por parte do governo inglês. 

O governo do Paraguai estava em processo de abertura econômica sendo improdutiva também uma guerra para a abertura de mercado consumidor. A economia do Paraguai era muita diferente das demais de seus vizinhos da América Latina, não sendo necessariamente um modelo econômico de oposição ao capitalismo inglês. E, ao contrário de que muitas correntes historiográficas defendem, o ataque brasileiro ao Paraguai não foi algo premeditado, pois o andamento da Guerra do Paraguai e o posterior endividamento do Brasil demonstram que se o Brasil estivesse preparado não seriam necessários tantos empréstimos para manter as despesas com o conflito.

Portanto, o saldo da Guerra do Paraguai é negativo em diversos ambitos, perdas materiais e perdas humanas; com o saldo de milhares de mortos, a manutenção da escravidão e com a posterior rivalidade histórica entre os países envolvidos no conflito que ficou impregnada no imaginário popular e na cultura dos habitantes das nações, mesmo que a Guerra tenha terminado a mais de 150 anos atrás. E, a promessa realizada aos negros, de alforria não chegou com o fim do conflito, apenas deixou muitos escravos e ex-escravos feridos e inválidos sem direito à nenhuma indenização ou mesmo o reconhecimento pela bravura e empenho dos soldados. A situação de inferioridade dos soldados negros nas Forças Armadas se perpetuou por décadas mesmo após a Abolição da Escravatura. 

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Angélica I.
Maringá / PR
Angélica I.
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Brasil Colônia Era Vargas II (1951-54) História da América
Graduação: Licenciatura em História (Universidade Estadual de Maringá (UEM))
Professora de História formada por uma das melhores Universidades Estaduais do país. Assim como também dançarina de Zumba a mais mais de 5 anos
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