Paralelo 38: interesses da Guerra Fria
Por: Angélica I.
05 de Outubro de 2020

Paralelo 38: interesses da Guerra Fria

História da separação da Coréia

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Antes do início de discussão tão complexa e importante, é preciso entender que certas convicções ou mesmo preconceitos e generalizações, não são produtivas e não fazem jus aos acontecimentos e à todo processo político, econômico e militar que fez com que a Península da Coréia se separasse. Portanto, esse artigo é apenas um esforço de tentar aproximar os estudantes de uma luz sobre tal episódio com o rigor acadêmico que o mesmo exige.

O paralelo é uma das linhas imaginárias que formam uma posição geográfica. Os mesmos demarcam a longitude que é constante. São medidas a partir da linha do Equador em Norte e Sul. Portanto, o paralelo 38 ao qual se refere o título, divide atualmente as duas Coréias: a República Popular Democrática da Coréia (Coréia do Norte) e República da Coréia (Coréia do Sul). Ambos os países se situam ao Norte da Linha do Equador. Ambos formavam uma única nação até o ano de 1945. É preciso compreender que a separação da Coréia está inserida em um contexto histórico que incluí diferentes players e o contexto da Guerra Fria também influenciou nos eventos de toda a Guerra da Coréia. 

A separação definitiva chegou a Guerra da Coréia (1950-1953), que segundo Santos e Passos (2014/2015) possui duas fases: a primeira que corresponde à ofensiva da Coréia do Norte, a contraofensiva da Coréia do Sul realizada em conjunto com os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Nova Zelândia e outros países com anuência da ONU e por último nessa fase, a ofensiva chinesa em 1950. A segunda fase são os combates efetivos que ocorreram no paralelo 38, que dá nome ao artigo e o grande impasse entre os anos de 1951 a 1953. A fase final se dá com um armistício no ano de 1953. Embora os livros didáticos sejam categóricos em dizer que durante a Guerra Fria não existiram conflitos bélicos entre Estados Unidos e URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) a Guerra da Coréia foi um acontecimento que faz que essa utopia se desmanche no imaginário ocidental.

Antecedentes da Guerra da Coréia (1950-1953)

É concenso entre alguns historiadores de que havia um grande interesse por parte de Stálin em manter a Ásia sob o regime comunista. Sendo para o mesmo, um dos pontos estratégicos do seu governo. Os esforços para que tal realidade se tornasse concreta não foram meras intencionalidades para os soviéticos. Inúmeras ações foram tomadas para que grande parte da Ásia fosse cooptada para o Comunismo. Em contrapartida, os Estados Unidos e os Aliados; que embora tenham saído vencedores da Segunda Guerra Mundial, precisaram reconstruir seus territórios das cinzas, sendo que os Estados Unidos, foi o grande financiador dessa reconstrução. Para que fique bem claro, ambas as superpotências; EUA e URSS; buscavam novos territórios e adeptos para seus regimes políticos, econômicos e ideológicos. Ambos tinham plena consciência dos prejuízos que uma guerra poderia causar a seus territórios. Para tal impasse foi gerar influência sobre países que lhes seriam úteis estrategicamente. Os países da Ásia, da América Latina e da África foram utilizados como peças de xadrez no tabuleiro pela hegemonia mundial. 

Muito antes das Grandes Guerras Mundiais, mais precisamente desde o ano de 1910, a Coréia lidava com a invasão efetiva do Japão Imperial. Ao todo, 35 anos de dominação, fizeram com que muitos aspectos culturais coreanos fossem alterados. Porém, esse aspecto de opressão japonesa à Coréia e sua posterior libertação, se tornou pauta à outras nações no ano de 1943. Uma das primeiras tentativas de se colocar fim à Segunda Guerra Mundial foi a Declaração do Cairo também no ano de 1943. No texto fica explícito que os Aliados (Estados Unidos, URSS, Reino Unido e a China) impuseram que o Japão devolveria a autonomia dos territórios ocupados e os demais povos, assim que tomaram ciência do regime de escravidão, ao qual a Coréia estava submetida. Portanto, a Declaração do Cairo, declarou a Península da Coréia livre e independente do Japão.

Esse é um capítulo da História da Segunda Guerra Mundial, que tem pouco destaque e que não se encontra nos livros didáticos na maioria das vezes. Mas, é importante salientar que o Japão utilizou os recursos da Coréia e alistou cerca de 2,5 milhões a 3 milhões de coreanos à força. Cerca de 0,7 milhões de coreanos foram exilados e forçados a trabalhar em territórios ocupados pelo Japão. Já a partir de 1942, os homens coreanos foram alistados de forma compulsória pelo Exército Imperial Japonês. Na ocasião das bombas nucleares lançadas pelos Estados Unidos, contra o Japão; para que o mesmo viesse a se render; cerca de 25% dos mortos eram coreanos, que trabalhavam em Hiroshima e Nagasaki.

Capitalismo ou Comunismo?

Sendo assim, no ano de 1943, em Novembro, após a Conferência do Cairo, os líderes dos Estados Unidos, do Reino Unido e da China determinaram que a Coréia passaria a ser independente após o final da Segunda Guerra Mundial. Porém, a Península da Coréia, se tornou uma zona de influência da URSS, após a Conferência de Yalta no ano de 1945. Essa situação política da Coréia, foi uma forma de compensação aos soviéticos que ocuparam o Norte da nação. Mas, essa ocupação já havia sido determinada por conta de acordos com as nações ocidentais. 

O título do artigo faz sentido nesse ponto, pois a URSS não avançou o paralelo 38; mais precisamente todo o território ao sul do paralelo 38 na Coréia, estava destinado à responsabilidade de uma ocupação estadunidense. Após essa etapa, uma situação inusitada ocorreu, EUA e URSS, se tornaram aliados quanto à questão da Península da Coréia, para lutarem contra um inimigo em comum, o Japão. A rivalidade entre o Japão e a Rússia se viu acirrada novamente. Japão e Rússia já haviam travado intensa batalha por conta de disputa de territórios da China e da Manchúria. O evento ocorreu entre os anos de 1904 e 1905. O Japão saiu como vitorioso e reconhecido como uma força Imperial por todos os países da Europa, isso fez com que tivessem que lidar com essa elevação de status do país nipônico. A Rússia por sua vez, se viu em situação deplorável, o que agravou a situação política e econômica do país europeu.

O objetivo era o de devolver a Independência à Coréia, que almejava a liberdade. De maneira totalmente abrupta, EUA e URSS, dividiram o território da Coréia em parte Norte e Sul, de forma provisória. Sendo assim, a Coréia se viu novamente invadida, porém dessa vez, por duas nações estrangeiras com visões diametralmente opostas. Soviéticos ocuparam o Norte em Agosto e os estadunidenses em Setembro de 1945. A aliança entre esses dois países dentro do território coreano se tornava impossível após o fim do Nazismo e com a rendição do Japão.

Em duas oportunidades, EUA e URSS se reuniram para organizarem os detalhes do governo provisório na Coréia, porém, as duas oportunidades acabaram por falhar, em 1946 e em 1947. Portanto, a ONU precisou ser acionada e decidiu através da resolução 112, promover eleições livres e a desocupação da Coréia. Apenas a parte Sul do país acatou a resolução. Os soviéticos não permitiram a realização de eleições. 

Já, em 1948, Syngma Rhee é eleito Presidente pela população do Sul e passa a comandar a República da Coréia. Apenas um mês depois, em Setembro de 1948, a parte Norte da Coréia ganha um representante comunista. Em Dezembro de 1948, a ONU ainda mantém planos de reunificação da Península Coreana, mesmo com o impasse entre EUA e URSS, que ocupam o território. Como não podia deixar de ser, apenas o governo da Coréia do Sul passou a ser reconhecido pela ONU em Outubro de 1949.

Quanto ao aspecto militar, a Coréia do Sul recebeu apoio massivo por parte dos Estados Unidos, para que a mesma pudesse organizar seu exército. Enquanto que a Coréia do Norte recebeu forte apoio de Stalin (URSS) e de Mao Tse-tung (China). Com exércitos organizados de ambos os lados, Kim Il-Sung, representante da Coréia do Norte ordena o ataque à Coréia do Sul na manhã de 25 de Junho de 1950.

Guerra da Coréia (1950-1953)

A primeira batalha ocorreu na cidade de Osan, com derrotas das forças estadunidenses. Isso fez com que as forças norte-coreanas se sentissem encorajadas a avançarem até Daejeon. Quando os comunistas chegam em Busan, a ONU passa a controlar apenas 10% de todo o território da Coréia do Sul. Entre os meses de Agosto e Setembro de 1950, os aliados URSS e China sofrem uma dura derrota na cidade de Busan, com a contra ofensiva estadunidense.

Para selar em definitivo a derrota da Coréia do Norte, o General MacArthur ordena um ataque anfíbio; por mar e por terra; à cidade de Incheon. Essa operação foi uma forma de se realizar o resgate do litoral oeste. Sendo Seul, reincorporada pelos Sul coreanos apenas no dia 25 de Setembro de 1950. Após todas essas vitórias, em 29 de Setembro de 1950, o governo da Coréia do Sul é restaurado e Syngman Rhee é reconduzido ao governo. Uma de suas primeiras ações foram contra os comunistas, o que resultou na morte de pelo menos 600 pessoas.

O governo chinês não aceitou a humilhante derrota e resolveu ameaçar os estadunidenses, e, se os mesmos ultrapassassem o paralelo 38; as consequências seriam graves; sendo assim, foi o que de fato aconteceu no dia 30 de Setembro. No dia seguinte, no dia 1 de Outubro, as forças da ONU cruzam o paralelo 38, rumo ao Norte. A reação dos norte coreanos foi a de apelar para uma intervenção militar chinesa. Outra grande aliada, a URSS, anunciou que não participaria de forma direta do conflito. Todo o mês de Outubro, foi de impasses na área, porém, o General MacArthur apostava na vitória dos estadunidenses. Ele chegou a exigir a rendição incondicional da República Popular Democrática da Coréia do Norte. 

Com a recusa a esse pedido, sua capital Pyongyang; acabou sendo ocupada pela ONU no dia 19 de Outubro. Com essa ação, Kim Il-Sung fugiu para o norte junto de seus apoiadores. Com a conquista do Norte da Península coreana, os estadunidenses não se atentaram à aliança entre a Coréia do Norte e a China. Mesmo que a situação fosse um revés para os Estados Unidos, o presidente Truman se negou a utilizar novamente armas nucleares; que podiam atingir civis; como o que havia ocorrido anos antes em Hiroshima e Nagasaki, no Japão no ano em 1945. 

Sendo assim, foi preciso que as tropas da ONU revessem sua estratégia. Mesmo que o saldo estivesse equilibrado; com várias vitórias e derrotas; era preciso reconhecer que a conquista de toda a Península Coreana por parte da ONU, era impossível. Isso se deu, pelo forte apoio militar que a Coréia do Norte recebia da URSS e da China. E, desencadear uma guerra com qualquer uma dessas nações, seria um prejuízo econômico e político muito grande para os Estados Unidos.

Havia ainda um problema para os Estados Unidos resolverem, o impasse sobre as armas nucleares. Como dito anteriormente, o presidente Truman era contra, porém MacArthur tinha opinião totalmente contrária e chegou a ameaçar publicamente a China. Tal atitude fez com que MacArthur fosse substituído por Ridgway. Uma possível Terceira Guerra Mundial, estava sendo cogitada, porém na forma nuclear, e chegou a ser discutida. 

As ofensivas e contraofensivas ocorreram até Junho de 1951. A Guerra da Coréia se tornava cara. Então a URSS e os EUA propuseram convenções ou reuniões com os líderes das Coréias. Para alguns estudiosos desse conflito, até o início de 1952, as linhas de frente das batalhas eram semelhantes às vistas na Primeira Guerra Mundial. A ONU teve como papel, uma espécie de negociadora dos conflitos. Entretanto, URSS e EUA não respeitavam o cessar fogo durante as negociações.

Ambas as nações que haviam intervido em favor da Coréia do Norte e do Sul, essa última, com a tutela dos Estados Unidos, impuseram maior violência aos conflitos como forma de adiantar o fim da Guerra da Coréia. Acusações contra a ONU foram feitas, de que a mesma estaria utilizando armas biológicas para acabar com a Guerra. Durante todo o ano de 1952, os conflitos continuaram. E, em Dezembro desse mesmo ano; o presidente dos Estados Unidos, agora Dwight D. Eisenhower; fez a primeira visita ao território da Coréia, para compreender melhor sobre o conflito. A inesperada visita rendeu uma trégua mais inesperada ainda, até Março de 1953. Já no mês de Abril de 1953, a operação Little Switch foi posta em prática, fazendo com que prisioneiros doentes e feridos retornassem ao seu país de origem. 

Entre Abril e Julho de 1953, a China fez nova ofensiva, para a conquista de territórios estratégicos. Mas, em 27 de Julho de 1953 ambas as partes; representantes da Coréia do Norte e da Coréia do Sul; assinaram um cessar fogo. O documento era um armistício; um acordo que suspende de forma temporária ataques de partes envolvidas em um conflito bélico; algo que não deixou claro qual era o lado vencedor. O fim da Guerra da Coréia fez com que os demais prisioneiros; em qualquer estado de saúde; retornassem ao seu país de origem. Mais de 12 mil homens retornaram à Coréia do Sul. Cerca de 75.800 homens estavam presos na Coréia do Sul, sendo que 22 mil se recusaram a retornar à Coréia do Norte. Alguns autores analisam esse fato, como uma espécie de utopia sobre o comunismo. 

Duas Coréias

Mesmo que as Coréia do Norte e Coréia do Sul vivam atualmente em relativa paz, o conflito é considerado inconclusivo, mesmo com o Norte reinvindicando uma vitória. Temos ao todo cinco estratégias que são utilizadas para que cessar fogo permaneça:

  • A Linha de Demarcação Militar separando oficialmente as partes
  • A zona desmilitarizada, que está em toda a fronteira com 2 quilômetros de largura para cada lado
  • Uma zona que investiga e julga possíveis violações do Armistício, chamada de Comissão de Armistício Militar
  • A Área de Segurança Conjunta localizada na Zona Desmilitarizada, que incluía a sede da Comissão de Panmunjon e; 
  • A Comissão de Supervisão por Nações Neutras

Muitos especialistas da área de geopolítica e de estratégias de guerra atuais, apontam que ambas as nações não se enfrentam por conta do medo de terem de lidar com armas nucleares. Embora, o armistício esteja prestes a completar 70 anos, não há indícios de reconciliação entre as partes. São várias as denúncias de violação aos Direitos Humanos na Coréia do Norte. Enquanto isso, a Coréia do Sul possui uma das economias mais fortes do mundo e um dos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais altos do mundo, o que atesta o nível de sucesso do país, que atualmente exporta tecnologia de ponta; através de dispositivos eletrônicos de última geração e cultura para o mundo com o Kpop.

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Graduação: Licenciatura em História (Universidade Estadual de Maringá (UEM))
Professora de História formada por uma das melhores Universidades Estaduais do país. Assim como também dançarina de Zumba a mais mais de 5 anos
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