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Paralelo 38: interesses da Guerra Fria
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em 05 de Outubro de 2020
Tendo o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) e (1951-1954) se aproximado de maneira breve dos governos fascistas europeus, em especial do nazismo; chegando a entregar uma presa ao regime nazista de Hitler no ano de 1936, autorizando a deportação de Olga Benário Prestes, ativista comunista e judia que havia sido presa no mesmo ano sem nenhuma acusação formal. Através dessa aproximação, Vargas tomou profundo conhecimento do intenso uso por parte do governo nazista do rádio; meio de comunicação de massas muito popular na Europa; e que também passava a conquistar vários lares brasileiros. Embora, o nazismo também tenha utilizado o cinema, o mesmo ainda não havia se popularizado no Brasil.
Sendo assim, diante do sucesso da propaganda nazista, era preciso escolher um veículo de comunicação acessível inclusive às camadas mais populares. O rádio, foi escolhido, pois, na década de 1930, mais precisamente no final do ano de 1939, quando o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) foi criado, cerca de 70% da população dos estados mais populosos do país era analfabeta, ou seja, se o veículo de comunicação de massas escolhido fosse o jornal ou qualquer outro veículo impresso, o resultado de disseminação da informação sobre os feitos do governo de Vargas não seria possível obter o mesmo resultado.
DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda)
Embora tenha sido uma estratégia brilhante por parte do governo Vargas, o DIP criado em 1938, a ideia não era original, pois o mesmo se originou do antigo "Departamento de Propaganda e Difusão Cultural" (DPDC), que por sua vez era descendente do Departamento Oficial de Propaganda. Todas essas estratégias quanto à Imprensa e Propaganda estão intimamente ligadas ao Estado Novo.
Os principais objetivos do DIP eram uma tentativa de centralizar e ter assim um controle da propaganda institucional federal no âmbito nacional e internacional. Dessa maneira também se imaginava que seria possível auxiliar os ministérios e entidades públicas e privadas quanto à obtenção de informações relevantes do Brasil. Porém, o Departamento de Imprensa e Propaganda não ficou restrito às atividades ligadas à imprensa, mas, foi também responsável pela organização dos serviços de turismo nacional e internacional.
Embora o DIP tivesse sido criado com o objetivo principal de propagação dos feitos governamentais, através do rádio e de outros veículos de imprensa, outra função muito importante era a de realizar a censura do teatro, do cinema, das funções recreativas e esportivas, de todo o conteúdo transmitido pelo rádio e toda a literatura, fosse ela com os mais variados fins. Em resumo, toda a produção cultural brasileira estava suscetível à censura do DIP.
O estímulo à produção de filmes educativos nacionais, assim como classificá-los à eventuais premiações também estavam à cargo do Departamento de Imprensa e Propaganda. Outra tarefa muito peculiar do órgão institucional, consistia em firmar parcerias com parte da imprensa internacional com o objetivo de alinhamento das pautas, para que notícias prejudiciais aos interesses políticos e econômicos do Brasil fossem evitadas. A promoção, organização e patrocínio de manifestações cívicas e festas populares com intuito patriótico e propaganda ao turismo também eram atividades de responsabilidade do órgão.
Contexto histórico
O DIP foi criado por Getúlio Vargas, no período conhecido como Estado Novo; onde Vargas se tornaria presidente através de um golpe. Em 10 de Novembro de 1937, ele anunciou para toda a população em uma transmissão via rádio, a instituição do Estado Novo. Portanto, era preciso, para assegurar o poder, um mecanismo exaltando o novo governo e o governante e a estratégia utilizada foi a coordenação da propaganda em torno da figura de Vargas e das realizações de seu governo.
Uma das estratégias para humanizar Getúlio Vargas e tornar seu governo autoritário mais palatavel, foi a de aproximar a figura do presidente dos trabalhadores. Para isso, a Legislação Trabalhista; aprovada no governo de Vargas, praticamente extinguiu a exploração laboral, reduziu a carga horário dos trabalhadores e instituiu inúmeros benefícios e direitos, nunca antes implantados em defesa da massa trabalhadora no país. Portanto, era preciso vender a imagem e a certeza de que o presidente estava tinha preocupações reais para com o povo brasileiro e para com os trabalhadores e que seus atos ditatoriais tinham um viés positivo e de progresso para os menos favorecidos.
Aparatos ideológicos
Como citado anteriormente, o DIP foi inspirado por outros departamentos de propaganda de outros governos autoritários ao redor do mundo, no período entre Guerras e em especial na Segunda Guerra Mundial. O objetivo desses departamentos era de exaltar e fazer culto à personalidade de um ditador, através da imposição e fabricação de notícias que fossem capazes de atingir e impactar desde as camadas mais populares, assim como as mais instruídas e detentoras de capital econômico e político.
Foram instituídas também a Educação Moral e Cívica no ano de 1940, obrigando os alunos a participarem de paradas, desfiles e manifestações de patriotismo. Nessas manifestações, haviam representações de uma figura poderosa de Vargas, sempre estavam presentes, sendo essa a forma de culto à imagem do governante. Ou seja, o DIP também buscava formar um novo ideal nacional brasileiro e isso foi realizado através da adoção de símbolos, mitos e rituais a serem cumpridos, para todas essas ações a Educação escolar se mostrava a maneira mais eficiente para que todas as estratégias fossem implantadas.
Sendo assim, o DIP confeccionou cartilhas escolares e também produziu documentários que eram obrigados a seerem reproduzidos nos cinemas antes dos filmes principais. Outro programa criado no mesmo contexto e que obteve longevidade foi o programa Hora do Brasil, transmitido de maneira radiofônica, sempre às 19 horas, exceto nos finais de semana. O programa diário trazia as principais notícias institucionais nas mais diversas áreas do governo federal e dos governos estaduais.
A imagem do Presidente também se tornou obrigatória através de uma foto em estabelecimentos comerciais como padarias e armazéns, a tarefa de fiscalizar os estabelecimentos comerciais, quanto à esse aspecto também era do DIP. Outra responsabilidade do Departamento, dessa vez, ligada à intelectualidade, a Cultura Política, era a revista oficial do governo nos assuntos intelectuais, publicada mensalmente e tinha como um dos objetivos principais a promoção da cultura e apresentar as mudanças e novos rumos políticos-sociais em curso no pais, a revista contava com a participação dos mais importantes intelectuais brasileiros.
Censura do DIP
Os censores nomeados pelo Departamento de Imprensa e Propaganda; as pessoas responsáveis por decidirem quais produções artísticas e culturais poderiam circular livremente, advinham dos mais variados setores da sociedade e podiam entregar as obras de maneira inconsciente. As obras censuradas em geral, eram aquelas que tinham conteúdo de críticas quanto ao pensamento político do governo.
A intervenção mais significativa do DIP, foi realizada no jornal O Estado de São Paulo e que durou de 1940 até 1945, o que coincidiu com o fim do Estado Novo. Após a extinção do departamento em 1945, o mesmo foi substituído pelo Departamento Nacional de Informações (DNI), que teve uma breve duração e se extinguiu em Setembro de 1946.