A estética da velocidade
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Por: Gabriel S.
15 de Julho de 2025

A estética da velocidade

A modernidade nas artes e na vida cotidiana

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A partir da Revolução Industrial, as sociedades europeias passaram a experimentar um ritmo de vida mais acelerado, marcado pela força crescente do mercado, pela mecanização do trabalho e pela expansão das grandes cidades. Nesse novo contexto, as relações humanas tornaram-se mais imediatas e transitórias, refletindo a rapidez com que o mundo moderno passou a funcionar. As artes, sensíveis às mudanças sociais, responderam com uma transformação estética profunda. A exigência de acompanhar essa nova cadência urbana levou à criação de linguagens artísticas mais ágeis, fragmentadas e subjetivas, que buscavam representar não mais a estabilidade, mas o movimento.

Na pintura, esse impulso se manifesta no impressionismo, cujo princípio fundamental era capturar a impressão fugaz de um momento. Em vez de reproduzir a realidade com precisão, os pintores impressionistas visavam retratar a sensação que um instante causava, como se a vida urbana, em sua constante mudança, exigisse do artista a habilidade de pintar com rapidez, sob o risco de perder o presente. As pinceladas soltas e as cores imprecisas tornam-se um símbolo dessa experiência efêmera e fragmentada, que, como apontava Baudelaire (2010), carrega o espírito do tempo moderno: o incerto, o transitório, o mutável.

Esse mesmo princípio de instabilidade e estranhamento ecoa na música de Claude Debussy, cujas composições incorporam o atonalismo e rompem com a estrutura clássica. Em obras como Clair de Lune, a ausência de notas graves em determinados trechos e as dissonâncias harmônicas produzem sensações de suspensão e dúvida, espelhando, sonoramente, a complexidade do pensamento moderno. A poliharmonia e a poliritmia utilizadas pelo compositor criam uma musicalidade que traduz a sobreposição de ideias, sentimentos e estímulos característica da vida nas metrópoles do século XX.

A literatura, por sua vez, abandona o compromisso com a tradição e com os modelos narrativos do passado. Rompe-se com a ideia de que a história deva ser parâmetro para o presente, questionando-se inclusive a veracidade dos registros historiográficos. Com isso, a literatura moderna passa a valorizar o inédito, o instantâneo, o particular. O texto literário se transforma em espaço de experimentação formal e expressiva, em que a vivência do presente e a consciência da linguagem como construção ganham centralidade. A narrativa histórica dá lugar à introspecção, à fragmentação e à busca de uma voz única e original — uma voz que não se submete aos cânones, mas cria os seus próprios caminhos.

Essa herança da modernidade ainda reverbera na arte contemporânea. O dodecafonismo de Arnold Schoenberg, por exemplo, vai além do atonalismo debussiano e rompe definitivamente com a lógica tonal. Suas peças são construídas para existirem uma única vez, negando o próprio conceito de repetição — e, portanto, de permanência. Essa lógica se assemelha ao modo como os vínculos interpessoais se tornaram líquidos e descartáveis, como destacou Zygmunt Bauman (1997), ao afirmar que “vivemos em tempos líquidos, nada foi feito para durar”.

Além da estética da velocidade e da efemeridade, há ainda a influência direta do mercado sobre a produção artística. A arte, transformada em produto de consumo, passa a ser orientada por critérios de venda e popularidade. Isso conduz à valorização da quantidade sobre a qualidade, o que Vargas Llosa (2013) denominou de “arte light”, voltada para o entretenimento imediato em detrimento da reflexão. A cultura passa a ser moldada pelas exigências do capitalismo tardio, e o artista, antes um criador em busca do sublime, se vê muitas vezes convertido em fornecedor de conteúdo para um público ansioso por distração.

Ainda assim, é necessário reconhecer que a modernidade, com toda sua pluralidade, não sepultou definitivamente os valores clássicos. Muitos artistas contemporâneos continuam a dialogar com as formas do passado, reinventando-as sob novas perspectivas. A modernidade, portanto, não pode ser compreendida como uma ruptura absoluta, mas como um campo de tensões entre tradição e inovação, permanência e transitoriedade.

A arte moderna é, antes de tudo, a arte de um tempo em movimento. Um tempo em que pensar, sentir e representar passaram a acontecer sob o signo da urgência. E é nesse cenário que a estética moderna encontra sua força: na tentativa de dar forma a um mundo em constante mutação.


Palavras-chave: modernidade, arte, impressionismo, atonalismo, sociedade industrial, estética da velocidade

Referências bibliográficas:

  • Baudelaire, Charles. O pintor da vida moderna. São Paulo: Autêntica Editora, 2010.

  • Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1997.

  • Llosa, Mario Vargas. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. São Paulo: Objetiva, 2013.

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