A gramática como ideologia

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Entre norma e poder

A gramática, tradicionalmente ensinada como um conjunto de regras objetivas e universais da língua, carrega consigo dimensões ideológicas profundas. Ela é frequentemente apresentada como um saber neutro, descolado das relações de poder que permeiam sua formulação e aplicação. No entanto, sob uma análise crítica, é possível perceber que a gramática normativa opera como um instrumento de distinção social e cultural, funcionando como um dos pilares do que Pierre Bourdieu denominou violência simbólica.

Quando se diz que alguém “fala errado”, raramente se está apontando um erro de comunicação. O que está em jogo, na verdade, é uma hierarquia simbólica que privilegia determinados modos de falar — geralmente os da elite letrada — e desvaloriza outros, como os falares populares, regionais ou periféricos. Essa imposição de uma norma culta como ideal a ser seguido mascara o fato de que toda língua é, por natureza, heterogênea, viva e mutável.

A gramática, nesse sentido, não apenas regula a língua: ela constrói um imaginário de correção, elegância e legitimidade que opera ideologicamente. Como observa Michel Foucault, o saber está sempre articulado ao poder; e no caso da linguagem, isso é ainda mais evidente. Ao determinar quais usos da língua são corretos ou aceitáveis, a gramática atua como um dispositivo disciplinador dos sujeitos e de suas vozes.

Autores como Marcos Bagno têm se debruçado sobre essa problemática ao denunciar o preconceito linguístico no Brasil. A defesa intransigente da norma culta como única forma legítima de expressão é, segundo Bagno, uma forma de exclusão que afasta milhões de falantes do acesso pleno à cidadania linguística. Ao criticar esse modelo, ele propõe uma abordagem mais inclusiva, que reconheça e valorize a diversidade linguística do país.

Isso não significa abandonar o ensino da gramática, mas sim repensar sua função. A escola pode e deve ensinar os usos formais da língua, mas sem estigmatizar os demais registros. O ensino da gramática precisa ser contextualizado, reflexivo e crítico, de modo que os alunos entendam não apenas as regras, mas também os motivos pelos quais essas regras existem — e a quem elas servem.

A gramática, portanto, não é apenas um saber técnico. É também um campo de disputa ideológica. Reconhecer essa dimensão é um passo essencial para construir uma educação linguística verdadeiramente emancipadora, que forme sujeitos conscientes não apenas de como se fala, mas também de por que se fala assim — e de quem decide isso.


Referências bibliográficas:

BOURDIEU, Pierre. Ce que parler veut dire: a economia das trocas linguísticas. São Paulo: Edusp, 1998.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 1997.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
ILARI, Rodolfo; BASSO, Renata. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 2003.

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