Bruno Tolentino e a resistência poética
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Por: Gabriel S.
15 de Julho de 2025

Bruno Tolentino e a resistência poética

Diante da civilização do espetáculo

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Em A civilização do espetáculo, Mario Vargas Llosa apresenta um diagnóstico contundente sobre a cultura contemporânea. Segundo o autor, o conceito de cultura sofreu uma transformação significativa, tornando-se um termo heteróclito — um recipiente vazio capaz de abrigar qualquer manifestação humana, independentemente de seu valor estético ou intelectual. Essa diluição conceitual, argumenta Vargas Llosa, decorre em grande parte da tentativa de democratizar a cultura por meio da educação de massas. O resultado, no entanto, foi a perda da profundidade e da exigência de excelência que caracterizavam a chamada alta cultura. O mercado, percebendo essa mudança de paradigma, passou a priorizar o entretenimento rápido e a produção em série, em detrimento da qualidade e da reflexão.

Nesse cenário, o trabalho artístico que exige elaboração, tempo, estudo e maturação torna-se cada vez mais marginal. A cultura torna-se sinônimo de consumo imediato e o espetáculo substitui a contemplação. A literatura, como parte desse processo, é empurrada para o território do “light”, como define o próprio Vargas Llosa: textos superficiais, moldados para agradar o gosto do público em vez de desafiá-lo. Nesse contexto, a figura de um poeta como Bruno Tolentino se ergue como uma resistência.

Bruno Tolentino opta por trilhar o caminho oposto ao da superficialidade. Sua poesia é uma resposta direta à civilização do espetáculo. Ao se vincular à tradição clássica, ao rigor formal e à densidade filosófica, o poeta brasileiro não apenas ignora a tendência da “literatura light”, mas também busca resgatar um ideal artístico que está em vias de extinção. Sua obra é marcada por uma contínua busca pelo sublime, por temas que transcendem o imediato e se aprofundam na condição humana, no tempo, na memória e no sagrado. Em Imitação do Amanhecer, por exemplo, a reflexão poética se dirige à própria consciência de que toda tentativa de recriação da plenitude será apenas uma imitação — um paraíso artificial que nunca poderá substituir a experiência original, mas que ainda assim resiste como tentativa de eternizar o transitório.

A poética de Tolentino se alinha à tradição clássica não apenas na escolha temática, mas também na forma. Sua metapoesia reflete sobre a própria linguagem e sobre as técnicas que emprega, estabelecendo uma conexão direta com a herança formal da literatura ocidental. A referência ao “compasso” e ao “ritmo musical” em seus versos não é apenas metafórica, mas também estrutural, revelando um comprometimento com a construção do poema como artefato técnico e sensível.

Além disso, sua poesia insiste em monumentalizar o efêmero. O gesto de cristalizar uma cena banal — como a de uma praça — transforma o cotidiano em símbolo, em couraça da alma que atravessa a existência. Trata-se de uma tentativa de reencontrar, por meio da palavra poética, um sentido duradouro em meio ao fluxo incessante e volátil da vida moderna. Essa busca pela permanência no efêmero é, em si, uma resposta à lógica da cultura contemporânea que, como denuncia Zygmunt Bauman, é marcada pela liquidez e pela obsolescência planejada.

A resistência de Tolentino não é apenas estilística, mas ética. Ao recusar a espetacularização da cultura e ao reivindicar para a poesia um lugar de reflexão, densidade e transcendência, ele reafirma o papel da literatura como espaço de interioridade, de construção de sentido e de resistência ao vazio contemporâneo. Sua obra contraria as expectativas do mercado e reafirma a relevância da arte enquanto forma de conhecimento e transformação.

Nesse sentido, a contribuição de Bruno Tolentino à literatura brasileira é de imenso valor, especialmente à luz das previsões de Vargas Llosa. Enquanto o peruano lamenta o esvaziamento da alta cultura, Tolentino mostra, com sua poesia, que ainda é possível trilhar um caminho alternativo — mais árduo, mais solitário, mas também mais profundo e verdadeiro.


Referências bibliográficas:

  • Llosa, Mario Vargas. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. São Paulo: Objetiva, 2013.

  • Bauman, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1997.

  • Tolentino, Bruno. Imitação do Amanhecer. Rio de Janeiro: Record, 1996.

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