
Como utilizar o anki para aprender inglês

em 14 de Julho de 2025
A dificuldade de produzir oralmente uma língua estrangeira, especialmente o inglês, mesmo quando há aparente compreensão auditiva e leitora, é uma queixa recorrente entre aprendizes de nível intermediário e avançado. Este artigo busca explorar a relação entre compreensão e fala no processo de aquisição do inglês como segunda língua, defendendo que uma compreensão profunda e multifacetada do idioma é condição indispensável para o desenvolvimento da fluência oral. Para isso, propõe-se uma divisão didática da compreensão em três graus — tradução, assimilação e compreensão instantânea — e sugere-se a leitura como ferramenta fundamental para a evolução nesses níveis. O artigo fundamenta-se em teorias da psicolinguística e da linguística aplicada, além de dados empíricos observados em contextos de ensino de línguas.
Entre aprendizes de inglês como língua estrangeira, é comum ouvir a seguinte frase: “Eu entendo o inglês, mas não consigo falar”. A princípio, esta afirmação sugere que a compreensão precede e deveria naturalmente levar à produção oral. No entanto, essa relação nem sempre se manifesta de forma direta ou automática. Isso nos obriga a questionar: o que significa, afinal, "entender o inglês"? E mais: em que medida esse entendimento é suficiente — ou não — para garantir a fala?
Este artigo propõe que a fala é uma consequência inevitável de um entendimento profundo da língua. Quando o estudante compreende integralmente o significado das palavras, a lógica das estruturas sintáticas, o papel da prosódia e da entonação na comunicação, ele possui as ferramentas necessárias para se expressar verbalmente. A ausência da fala, nesse contexto, não decorre de incapacidade, mas de bloqueios psicológicos, falta de automatização ou hábitos cognitivos pouco eficientes.
A fim de tornar essa análise mais precisa, propõe-se aqui a divisão da compreensão em três graus progressivos. Esta abordagem tem como objetivo não apenas classificar o entendimento, mas também orientar estratégias de aprendizagem mais eficazes.
Neste nível, o estudante compreende o inglês apenas por meio da equivalência palavra por palavra com o português. A compreensão é lenta, dependente de um processo consciente de conversão linguística, e está sujeita a erros, principalmente em estruturas idiomáticas ou culturais.
Segundo Krashen (1982), essa fase está ligada à “monitor hypothesis”, em que o aprendiz ainda não internalizou as regras do idioma e depende do monitoramento consciente para compreender e produzir linguagem.
A assimilação marca o início da internalização do idioma. As estruturas são reconhecidas como naturais, mesmo que ainda haja esforço consciente para compreendê-las. Nesse estágio, há maior reconhecimento de padrões e menos dependência da tradução literal.
A assimilação está relacionada à competência linguística (Chomsky, 1965), pois envolve a formação de intuições gramaticais e semânticas que dispensam explicações formais.
A compreensão instantânea representa o domínio da língua em níveis mais automáticos. Aqui, o inglês é processado diretamente, sem passar pelo filtro do português. O significado é acessado quase simultaneamente à percepção da mensagem.
Esse grau se aproxima do conceito de “fluência receptiva” (Nation, 2007), em que o processamento é rápido e eficiente, permitindo que o estudante compreenda sem esforço consciente, como faria em sua língua materna.
Ao contrário da crença popular de que falar é um ato separado da compreensão, defende-se aqui que a fala é um subproduto inevitável de um grau elevado de entendimento. Quando todas as frases são instantaneamente compreendidas, a barreira entre percepção e produção se dissolve. A linguagem está internalizada, e falar torna-se, então, uma escolha — não uma dificuldade.
Esse argumento encontra respaldo na teoria da produção da fala de Levelt (1989), que afirma que a fluência depende da facilidade com que o conteúdo é acessado e estruturado cognitivamente antes da articulação.
Uma estratégia eficaz para transitar entre os graus de compreensão é a leitura extensiva. A leitura oferece tempo, contexto e repetição suficientes para que estruturas inicialmente traduzidas sejam assimiladas e, posteriormente, compreendidas de forma automática.
Segundo Grabe e Stoller (2002), a leitura é essencial no desenvolvimento da proficiência, pois promove exposição intensiva à língua em diferentes registros e contextos, favorecendo a internalização da gramática e do vocabulário.
Além disso, o input compreensível (Krashen, 1985) presente na leitura é um fator crucial para a aquisição da língua, desde que o conteúdo esteja levemente acima do nível atual do aluno (i+1).
A afirmação “entendo, mas não falo” revela, na verdade, uma compreensão parcial e superficial do inglês. Ao identificar os graus de entendimento e trabalhar de forma ativa para avançar de um para o outro — especialmente por meio da leitura — o aluno amplia sua competência comunicativa e aproxima-se da fluência.
A fala não deve ser vista como um dom reservado aos extrovertidos ou “destravados”, mas como a consequência natural de um entendimento pleno e internalizado da língua.