Fragmentação e efemeridade
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Por: Gabriel S.
17 de Julho de 2025

Fragmentação e efemeridade

Marcas da sensibilidade moderna em música, poesia e pintura

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A modernidade, enquanto experiência histórica e estética, está intimamente ligada à percepção de um tempo que se acelera e se fragmenta. A partir do século XIX, e com maior intensidade no início do século XX, as transformações urbanas, técnicas e sociais alteraram a maneira como os sujeitos vivenciam o mundo. As artes, nesse contexto, tornaram-se o espelho dessas novas formas de percepção: a fragmentação, o efêmero e a fluidez passaram a ser não apenas temas, mas formas e procedimentos centrais na criação artística.

Na pintura, o impressionismo rompe com a tradição da perspectiva estática e da representação totalizante do espaço. As obras de Claude Monet, por exemplo, como nas séries sobre a Catedral de Rouen ou as Ninfeias, não buscam capturar a essência definitiva do objeto retratado, mas a experiência fugidia da luz sobre ele, em diferentes horas do dia e estações do ano. A realidade é percebida como instável, múltipla e irrepetível — é preciso captar o instante, antes que desapareça. A pincelada rápida, os contornos borrados e a recusa em fixar o olhar revelam uma sensibilidade que se recusa à permanência.

Na literatura, movimentos como o simbolismo, o impressionismo literário e o modernismo também incorporam a fragmentação como procedimento. O fluxo de consciência em autores como James Joyce e Virginia Woolf, ou ainda a musicalidade desconexa de poemas simbolistas como os de Cruz e Sousa, refletem um sujeito cindido, atravessado por estímulos simultâneos, incapaz de narrar o mundo de forma linear. A realidade interior e exterior se mesclam de forma caótica, e a obra literária abandona a clareza da fábula tradicional para mergulhar na multiplicidade de vozes, sensações e imagens.

Na música, essa estética do fragmentário encontra eco no impressionismo de Debussy. Em peças como Prélude à l’après-midi d’un faune, não há uma progressão harmônica convencional, mas uma sucessão de atmosferas sonoras, sem resolução. O tempo musical se dilui em climas, e o silêncio ganha protagonismo, instaurando pausas que são tão expressivas quanto as notas. A música deixa de ser narrativa e passa a ser sensação. A lógica tonal dá lugar à ambiguidade, e a forma musical se aproxima de um fluxo descontínuo, mais próximo do devaneio do que da estrutura.

Essa estética da fragmentação e do efêmero é também uma forma de resposta às inquietações da modernidade. A rapidez da vida urbana, a perda das referências metafísicas e o colapso das narrativas totalizantes forçaram o sujeito moderno a encontrar novos modos de expressão. A arte deixou de buscar a eternidade e passou a se fixar no instante. Deixou de oferecer certezas e passou a perguntar, hesitar, sugerir.

As artes modernas, nesse sentido, nos ensinam a conviver com o inacabado. Elas não pretendem dizer tudo, mas insinuar. Não desejam prender o olhar, mas fazê-lo mover-se. Ao assumir a fragmentação e a efemeridade como traços constitutivos, elas nos convidam a aceitar a impermanência como condição essencial da existência humana e a cultivar uma sensibilidade que, mesmo em meio ao caos, ainda é capaz de produzir beleza.


Bibliografia

  • BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. São Paulo: Autêntica Editora, 2010.

  • CRUZ E SOUSA. Broquéis. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

  • DEBUSSY, Claude. Prélude à l’après-midi d’un faune e outras composições. Paris: Durand, 1894.

  • MONET, Claude. As ninfeias e outras séries. Museu d'Orsay, Paris.

  • WOOLF, Virginia. Ao farol. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

  • JOYCE, James. Ulisses. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

  • GOMBRICH, Ernst. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

  • LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. São Paulo: José Olympio, 2009.

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