Linguagem, afeto e ideologia

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As emoções nos discursos cotidianos

A linguagem não é apenas um instrumento de comunicação racional, mas também um meio de expressão afetiva, carregado de valores, crenças e emoções. Muito além de transmitir informações, os discursos cotidianos modelam subjetividades, moldam comportamentos e revelam posições ideológicas — e é justamente nessa sobreposição entre linguagem, afeto e ideologia que se localiza o interesse deste artigo.

As emoções não são elementos naturais, isolados ou universais; elas são construídas discursivamente. Como aponta Sara Ahmed (2004), os afetos não apenas acompanham os discursos — eles os constituem. O modo como falamos sobre raiva, medo, amor ou orgulho participa da construção dos próprios afetos. Assim, o discurso é o espaço onde sentimentos são nomeados, organizados, hierarquizados e, frequentemente, instrumentalizados.

Essa dimensão afetiva da linguagem aparece de forma intensa no cotidiano, em espaços como a mídia, a política, a escola e as redes sociais. Quando um político "inflama" uma multidão, quando um grupo se "comove" com uma causa, ou quando uma celebridade é "cancelada", o que está em jogo não é apenas o conteúdo verbal, mas uma coreografia afetiva que envolve o sujeito em um campo de significações ideológicas.

Os estudos da Análise do Discurso francesa (especialmente os de Michel Pêcheux) já apontavam para o fato de que o sujeito está “assujeitado” à ideologia, ou seja, ele é constituído por ela. Quando falamos, falamos de um lugar ideológico — e esse lugar é atravessado por afetos. A linguagem, nesse sentido, não é neutra: ela mobiliza paixões, identidades, ressentimentos e pertencimentos.

Tomemos como exemplo o uso da palavra “família” em discursos políticos. Essa palavra, à primeira vista neutra e consensual, é carregada de sentidos afetivos que variam conforme o grupo ideológico que a emprega. Para alguns, ela remete à tradição, à moral e à autoridade. Para outros, à diversidade, à inclusão e à liberdade de escolha. O mesmo termo, portanto, atua como vetor de sentidos opostos, gerando afetos distintos.

Na prática pedagógica, reconhecer a presença da ideologia afetiva nos discursos é fundamental. O professor de línguas, por exemplo, ao analisar com os alunos textos midiáticos, slogans, memes ou falas políticas, pode evidenciar como o afeto é manipulado para reforçar certos valores, estigmatizar sujeitos ou silenciar dissensos. Esse tipo de leitura crítica permite formar cidadãos mais conscientes de sua inserção discursiva no mundo.

A linguagem, ao evocar sentimentos, não apenas comunica: ela persuade, exclui, acolhe, violenta, cura. Reconhecer essa potência do afeto no discurso é compreender que a linguagem não opera no vazio, mas encarna o mundo social e político em sua complexidade. É nesse ponto que o estudo da linguagem se aproxima da ética, pois exige que pensemos no impacto emocional e ideológico das palavras que escolhemos — e das palavras que escolhem por nós.


Referências bibliográficas:

AHMED, Sara. The cultural politics of emotion. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2004.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1996.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.
BUTLER, Judith. O poder das palavras: política do performativo. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
ZIZEK, Slavoj. Violência. São Paulo: Boitempo, 2014.

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