O silêncio como estratégia discursiva

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Ausências que comunicam

A linguagem humana é comumente compreendida como um fenômeno de expressão, manifestação e exteriorização de sentidos. No entanto, há momentos em que o não dito, o não formulado, o ausente, comunicam tanto quanto — ou até mais do que — aquilo que é explicitamente enunciado. Nesse contexto, o silêncio emerge não como ausência de linguagem, mas como uma estratégia discursiva potente, carregada de significados. Ele não é o oposto da linguagem, mas um de seus modos de operação.

A análise do silêncio como elemento comunicativo tem ganhado força na linguística e na análise do discurso. Pesquisadores como Eni Orlandi e Michel Pêcheux, ao desenvolverem estudos sobre o discurso e seus funcionamentos ideológicos, apontam que o silêncio pode operar como um lugar de resistência, de ocultamento, de interdito ou de preservação. O silêncio, nesse sentido, pode revelar tanto quanto o discurso articulado, pois as ausências também são constitutivas do processo de significação.

Na literatura, por exemplo, o silêncio é muitas vezes utilizado como estratégia estilística e narrativa. Em obras como Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, ou O Estrangeiro, de Albert Camus, há lacunas que não são preenchidas com palavras, mas com ambiguidade e sugestão. O que os personagens não dizem, o que os narradores omitem, também estrutura o sentido da obra. Esses silêncios revelam tensões internas, dilemas éticos, contextos históricos ou culturais que atravessam o texto e exigem do leitor uma escuta atenta ao não dito.

Em contextos sociais e políticos, o silêncio pode ser tanto uma forma de resistência quanto de opressão. Como mostra Judith Butler, em seus estudos sobre performatividade e linguagem, o silêncio pode ser uma escolha estratégica diante da violência discursiva ou da normatividade opressora. Ao mesmo tempo, pode ser o resultado do silenciamento forçado de sujeitos cujas vozes foram historicamente marginalizadas. O silêncio, nesse caso, precisa ser interpretado a partir de suas condições de produção e circulação.

Na análise da conversação cotidiana, o silêncio desempenha também um papel fundamental. Como mostram os estudos de Erving Goffman e outros autores da sociolinguística interacional, os silêncios entre turnos de fala, as pausas carregadas de tensão ou as suspensões súbitas de enunciados revelam dinâmicas de poder, afetividade, respeito ou conflito. O silêncio, longe de ser vazio, é espaço de disputa e negociação.

Compreender o silêncio como estratégia discursiva nos permite ampliar nossa escuta e nossa interpretação do mundo. Em tempos marcados por excesso de ruído, discursos vazios e falas compulsivas, o silêncio pode ser um gesto ético, uma recusa ao espetáculo, uma abertura ao outro. Como nos lembra Roland Barthes, o silêncio pode ser o espaço em que a escuta acontece — e, talvez, o único em que algo verdadeiramente novo pode emergir.


Referências bibliográficas:

ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 1996.
PÊCHEUX, Michel. Análise automática do discurso. Campinas: Editora da UNICAMP, 2009.
BUTLER, Judith. Corpos que importam: sobre os limites discursivos do sexo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 2008.
MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. Campinas: Pontes, 2005.

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