
Justiça silenciosa

em 15 de Julho de 2025
Neste artigo, discute-se um modelo introdutório para o aprendizado de inglês com base em três princípios fundamentais: a primazia da escuta sobre a fala nos estágios iniciais, a centralidade do vocabulário como base da proficiência linguística e a importância de aceitar o desconforto inerente ao processo de aprendizagem. A proposta se apoia em experiências pessoais e em fundamentos teóricos de aquisição de segunda língua, apresentando ainda duas ferramentas práticas para a jornada de fluência: textos com áudio e o sistema de repetição espaçada Anki.
Desde cedo, muitas pessoas compartilham o desejo de conhecer todos os passos necessários para dominar uma nova habilidade. O aprendizado consciente, aquele em que o estudante visualiza um percurso claro e trabalha diariamente em direção a um objetivo definido, tende a gerar motivação e comprometimento. No entanto, esse desejo por clareza frequentemente esbarra em conteúdos superficiais, com dicas genéricas e desconectadas da realidade prática do aprendizado. Quando se trata de aprender inglês, essa frustração é comum e legítima, especialmente para quem busca um caminho estruturado.
A primeira chave para destravar esse caminho é compreender que, no início da jornada, ouvir é mais importante do que falar. Segundo Krashen (1985), a aquisição linguística ocorre principalmente por meio do input compreensível, ou seja, da exposição ao idioma de forma natural e significativa. É impossível falar uma palavra que nunca foi ouvida antes. Portanto, quanto mais escuta, mais repertório se acumula. Tentar falar inglês antes de ter ouvido o suficiente é o mesmo que tentar escrever sem antes saber ler: o processo se torna frustrante e ineficiente.
O segundo fundamento está no vocabulário. Como apontado por Nation (2001), cerca de 50% da proficiência em uma língua depende da quantidade de palavras conhecidas. O inglês nada mais é do que a combinação de milhares de palavras em sequência. Não basta conhecer apenas as cem palavras mais comuns: é necessário ampliar gradualmente esse repertório, de forma consistente e contextualizada. Técnicas de memorização — como as baseadas em repetição espaçada e associação com contextos reais — tornam esse processo mais eficaz e duradouro.
O terceiro princípio é talvez o mais desafiador: aceitar que você não vai entender tudo de uma vez. Aprender uma língua é lidar com o desconforto do desconhecido. A compreensão não acontece de forma instantânea, mas sim acumulativa: no primeiro dia, você compreende quase nada; no segundo, um pouco mais; no terceiro, mais um pouco — e assim por diante. Essa construção gradativa da compreensão é o que possibilita, no futuro, uma fluência autêntica. Thornbury (2006) defende que o desconforto cognitivo é parte essencial do processo de aprendizagem significativa, pois é nesse estado que o cérebro se vê forçado a organizar, sistematizar e internalizar padrões linguísticos.
Para colocar esses três princípios em prática, duas ferramentas se destacam: o uso de textos com áudio e o aplicativo de flashcards Anki. Os textos com áudio oferecem input realista, contextualizado e acessível, permitindo ao aluno praticar escuta e leitura simultaneamente. Já o Anki facilita a memorização de vocabulário e estruturas com base na repetição espaçada, técnica comprovadamente eficaz para o armazenamento de longo prazo (Brown, Roediger & McDaniel, 2014).
Brown, P. C., Roediger, H. L., & McDaniel, M. A. (2014). Make it Stick: The Science of Successful Learning. Belknap Press.
Krashen, S. D. (1985). The Input Hypothesis: Issues and Implications. Longman.
Nation, I. S. P. (2001). Learning Vocabulary in Another Language. Cambridge University Press.
Thornbury, S. (2006). An A-Z of ELT: A Dictionary of Terms and Concepts. Macmillan.