Fernando Pessoa: heterônimos e tantos poemas
Por: Leonardo S.
12 de Outubro de 2021

Fernando Pessoa: heterônimos e tantos poemas

Uma breve análise da densa literatura publicada por Fernando Pessoa e suas criações heterônimas

Literatura Ensino Médio Curso Superior

Tomando por base a obra de Massaud Moisés, Fernando Pessoa: o Espelho e a Esfinge, em que o autor separa um capítulo para abordar o papel fundamental do português no Modernismo de seu país e assim, em toda poesia da Língua Portuguesa, abordaremos brevemente sobre o autor e seus heterônimos.

Ao estudarmos a literatura modernista brasileira em qualquer material didático, vemos que o movimento se inicia com a estreia da Semana de Arte Moderna que foi realizada em São Paulo no ano de 1922. Por vezes, alguns estudos escolares (refiro-me a etapa do Ensino Médio), apresentam este evento artístico somente como um evento e não como um marco, e também mal expressam as raízes desta semana num retroceder literário, e não apenas cronológico citando a revista lusitana Orpheu que foi publicada sete anos antes da inauguração do movimento modernista em terras brasileiras, isto é, em 1915. Revista esta que apresentou o lançamento do considerado segundo maior poeta da Língua Portuguesa, Fernando Pessoa.

Orpheu contou com a colaboração de outros poetas que se mostraram significativos para a poesia portuguesa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros são dois deles, entretanto se destaca a poesia pessoana, e esta primeira edição inicia um novo período na poesia lusófona. Moisés (2011, p. 7-8) descreve o impacto literário que teve a primeira revista moderna de Portugal:

A poesia entra a ser cultuada como filosofia divinizada, substituindo o Deus que a arte literária romântica havia tentado banir das suas preocupações. Com a morte de Deus, nasce um outro Deus, a Poesia; com a falência dos mitos, instaura-se um novo mito, a Poesia. [...] De tal maneira que somente cabe falar em Poesia quando está em causa a geração de Orpheu [...]

Nesta revista, Fernando Pessoa é autor de três obras, uma assinada por ele mesmo e outras duas assinadas pelo seu heterônimo Álvaro de Campos. Os outros autores são desimportantes para o presente texto, mas importantes para a literatura e o que os unia, segundo o livro de Moisés, era somente a proposta moderna acerca da poesia, todavia, cada artista possuía uma forma individual de trabalhá-la. Na obra tomada por referência, o próprio autor descreve como que em Sá-Carneiro, vê-se a fragmentação do “Eu”, enquanto que em Fernando Pessoa, nota-se a multiplicidade do “Eu” devido aos seus variados e díspares heterônimos.

E por essa Revista ter marcado tanto a poesia portuguesa, que a escolhi para relatar a inserção de Pessoa no Modernismo. Por obediência ao que foi demandado na questão e achando mais conveniente analisar um dos poemas do que obra dramática, a obra selecionada foi Ode Triunfal que, como já dito, é assinada pelo heterônimo.

A nível pessoal, posso confessar que a obra de Fernando Pessoa é um tanto misteriosa para o meu entendimento, por isso acabarei citando sites da internet que analisam a referida ode.

De acordo com o E-Dicionário de Termos Literários, plataforma organizada pela Universidade Nova de Lisboa, na antiguidade a ode era um poema considerado lírico “de assunto elevado e nobre, expressando sentimentos ilustres, em celebração de algum evento especial”, isto é, um poema de exaltação com termos de enaltecimento dirigido a coisas, eventos, pessoas, gestos, atitudes grandiosas. Em sua estrutura, apresenta um forte seguimento de rimas, de métrica e de ritmo como tantas outras obras ditas tradicionais. Fernando Pessoa, por meio de seu heterônimo, aproveita do conceito que se tem sobre Ode para reinventá-lo de forma moderna sem apego a nenhum encadeamento rítmico, métrico ou de rimas, conservando por outro lado, o enaltecimento com sentimentos ilustres.

Álvaro de Campos começa sua Ode Triunfal realizando a seguinte dedicatória: “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica/ Tenho febre e escrevo./ Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, / Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos”.

Esta nos imprime o que alguns classificam como futurismo de Campos, ao indicar o ambiente moderno, apresentando ao leitor a fábrica pela qual o eu-lírico se encanta e aparentemente se encontra. Esta introdução é um prenúncio do poema, o seu fluir não foge do seu nascer, é um poema coerente.

Ao decorrer da Ode, é percebido pelo seu ritmo e por onomatopeias, o indício de fusão do eu-lírico com a própria fábrica e assim, com a modernidade que chega e lhe desperta a vista com prédios, estruturas metálicas, pontes, automóveis e tantas outras novidades e máquinas modernas. A fusão com a modernidade é tão densa que o eu-lírico deseja sentir como as máquinas: “Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma máquina! / Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo”. Aqui também, é percebido isso: “Promíscua fúria de ser parte-agente / Do rodar férreo e cosmopolita / Dos comboios estrénuos, / Da faina transportadora-de-cargas dos navios, / Do giro lúbrico e lento dos guindastes, / Do tumulto disciplinado das fábricas, / E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Ao prosseguir do poema, o eu-lírico, como próprio de uma Ode, exalta os artefatos modernos, exalta a eletricidade, os automóveis, o futuro, as estradas, os prédios, enfim, exalta todo o novo mundo trazido pelo futuro, trazido pela modernidade. Nas últimas estrofes, o homem de tanto desejar, se torna parte deste ser moderno, é ele mesmo a própria modernidade latente e pulsante como máquina viva, sempre a funcionar, não sentindo mais a si próprio, mas a todos, como próprio termina “Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!”.

 

Referências

1ª publ. in Orpheu, nº1. Lisboa Jan.-Mar. 1915. Lacunas completadas segundo: Álvaro de Campos - Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição Crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/2459. Acesso em 28/01/2019.

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