O candidato Tiririca como síntese da política publicitária
Por: Leonardo S.
13 de Outubro de 2021

O candidato Tiririca como síntese da política publicitária

Uma breve dissertação sobre o discurso político.

Letras Curso superior

O discurso político ganhou muita atenção dos estudos linguísticos nas últimas décadas, 
especialmente da recente Análise do Discurso pela qual abordaremos o presente trabalho.
Jean-Jacques Courtine, no capítulo “Línguas de Madeira: Linguagem, Discurso Político e 
Ideologia” de sua obra “Metamorfoses do Discurso Político: Derivas da Fala Pública” tomado
por base teórica para esta pequena dissertação, nos aponta esta realidade ao situar como os 
discursos passaram a chamar a atenção a partir das décadas de 50 e 60. Décadas as quais 
foram marcadas pelo Estruturalismo na Ciência da Linguagem, mas que também marcaram o 
início de um novo tratamento para os enunciados, partindo da abordagem da estrutura da 
língua, isto é, da frase para chegar à processo de enunciação e tudo que o envolve: “A 
lingüística começará de agora em diante a interessar-se realmente por problemas que não 
dizem mais respeito somente à frase, indo além dela ao referir-se à enunciação” (COURTINE, 
2006).
Apresentado a nossa posição teórica, partiremos para a apresentação do nosso estudo e 
do seu corpus, que conta como objetivo a análise do discurso político e a abordagem sob a 
perspectiva do estudo traçado no capítulo em questão do professor francês. Deste modo, 
escolhemos as propagandas políticas do então candidato ao cargo de Deputado Federal do 
estado de São Paulo, Francisco Everardo Oliveira Silva, popularmente conhecido por seu 
papel mais famoso, o Tiririca. Este foi também o nome adotado para a campanha eleitoral e 
em seguida, para representa-lo durante todo o exercício do cargo como Deputado Federal de 
2011 a 2018, por este motivo, o então candidato será aqui referido por este mesmo nome.
Escolhemos para estudo os vídeos de sua primeira campanha em 2010, os quais estão 
disponíveis na plataforma eletrônica Youtube de diversos modos, todavia escolhi um vídeo 
único denominado “Tiririca – Deputado Federal – Todos os ‘Videos’ Juntos”, que consta, 
como o título sugere, numa compilação de todas as propagandas eleitorais do então candidato 
e que segundo a página do site UOL, que acompanhou as eleições do ano relatado, “a campanha foi caracterizada pelo deboche, virou misto de sucesso e polêmica na internet e 
tema de todo tipo de discussão, dos debates intelectuais a conversas de boteco (...)”. Ao 
lidarmos com as propagandas do referido candidato, veremos a questão da interdiscursividade 
como aborda Courtine:
(...) é isso que o torna diferente de uma simples sequência linguística, formulações 
‘às quais o enunciado se refere (implicitamente ou não) seja para repeti-las, seja para 
modificá-las ou adaptá-las, seja para se opor a elas, seja para falar de cada uma 
delas; não há enunciado que, de uma ou de outra, não re-atualize outros enunciados’ 
(FOUCAULT, 2000, p.111). Portanto, o enunciado entra em uma rede 
interdiscursiva vertical de formulações, uma concepção que se aproxima do 
interdiscurso concebido por Pêcheaux. (COURTINE, 2006, p. 70)
Isto nos remonta que no falar do candidato, estará implicado outros falares, isto é 
outros discursos que estarão à tona sem definirmos a sua origem, mas cientes de que ali 
encontram-se outros discursos. 
Voltemos o nosso olhar sobre a seleção do nosso corpus, dos vídeos disponíveis, 
destacamos três em que o candidato pronuncia os seguintes dizeres:
(1) “Você votando em mim, eu vou estar em Brasília, e vou estar na realidade, 
fazendo o ‘coisa’ da vida... do nosso... Brasil. A nossa vida. O nosso momento.
(baixando a voz) O nosso coisa... que nós temos. (em tom normal) Para 
Deputado Federal: Tiririca! Vote no abestado!”
(2) Tiririca: “- Pessoal de casa, tive que apelar. Tive que trazer minha família, 
meu pai e minha mãe para pedir voto a vocês. Todo mundo está mostrando a 
sua família, as pessoas se comovem com família na televisão. Pede pai, voto!” 
O pai de Tiririca: “- Vote no meu filho, Tiririca. 2222!”
Tiririca: “- 2222. Pede Mãe!”
A Mãe de Tiririca: “- Vote no meu filho, Tiririca. 2222!”
Tiririca: “- Não ‘esqueça de’ votar no dia. ‘Tá’ chegando. 2222! Ri, pai. Ri, pai. 
Ri, mãe. (risadas forçadas).”
(3) “Oi, gente! Estou aqui para pedir seu voto porque eu quero ser Deputado 
Federal, para ajudar os mais 'necessitado', inclusive a minha família. 
Portanto meu número é 2222. Se vocês não votarem, eu vou morreeer!”

Nestas três enunciações, que na verdade, são as transcrições escritas das propagandas 
do candidato, observamos “a função interdiscursiva como domínio de memória permite ao 
sujeito (...) o retorno e o reagrupamento de enunciados assim como o seu esquecimento ou 
apagamento (...)” (COURTINE, 2006, p. 79). Assim sendo, o discurso do candidato retoma 
outros discursos, especialmente de outros candidatos. 
No enunciado (1), notamos que o candidato pronuncia sua fala sem fazer conexões 
coerentes entre os sintagmas, indicando que de fato não há coerência no que se está sendo 
falado. Para alguns, está aí o humor do palhaço de circo que se apresenta como candidato, no 
fato de que ele ao usar estas estruturas sem estabelecer relações de coerência, que indica que 
ele não está falando nada e não sabe o que irá fazer como deputado. E este discurso do 
candidato retoma os discursos de outros candidatos que ao pronunciar-se acerca do seu 
trabalho como candidato eleito, não realizam conexões coerentes, dizendo que de fato, não 
sabem o que fazer, ou que não querem se comprometer com a palavra dita.
No enunciado (2) que equivale à propaganda que Tiririca traz dois atores vestidos com 
as mesmas roupas, perucas e chapéus que marcam o seu personagem, relatando-os como pais, 
reparamos que o candidato fala: “tive que apelar”. Na eleição de 2010, alguns candidatos 
trouxeram suas famílias para poder falar na propaganda política, Tiririca retoma este fato 
ironizando o fato e dando comicidade. E este recurso propagandista não se deu e se dá 
exclusivamente na eleição do referido ano, mas ainda se dá em diversas propagandas 
políticas.
No enunciado (3), corresponde à propaganda em que Tiririca aparece sozinho na tela 
emitindo a fala destacada. Nesta, o candidato justifica o pedido de voto, alegando que ajudará 
os mais necessitados, inclusive a sua família. O que poderia ser abordada como sátira, visto 
tanta pertinência com tantos discursos políticos propagandistas clássicos agora retomados sob 
uma nova perspectiva, aparenta ser apenas um recurso humorístico do atual ex-deputado 
federal do estado de São Paulo, que sempre se apresenta como palhaço de circo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Disponível em: <https://eleicoes.uol.com.br/2010/sao-paulo/ultimasnoticias/2010/10/03/com-mais-de-13-milhao-de-votos-tiririca-e-deputado-maisvotado-do-pais-e-deve-levar-mais-4.jhtm>. Acesso em 28/11/2018 Disponível em: https: <//www.youtube.com/watch?v=VNp_gItQfZ4>. Acesso em 
28/11/2018.
COURTINE, J. J. Metamorfoses do discurso político: derivas da fala pública. Trad. 
Nilton Milanez e Carlos Piovezani. São Carlos: Claraluz, 2006, p. 59-86

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