Muitos acham que a Filosofia não possui importância, mas há também aqueles que supervalorizam a Filosofia, tratando-a como ciência, coisa que não é. É difícil descrever algo que não é concreto, mas, o senso comum diz que, qualquer pensamento é “filosofar” (e isso está muito longe do que é a Filosofia).
A Filosofia precede e sucede o pensamento, é uma busca incansável e intermitente pelo conhecimento, seja ele qual for. É o livre pensar, sem barreiras e sem “pré-conceitos”, mas esse livre pensar não é o do “falar qualquer besteira” ou “destilar ódio ou preconceitos”.
O livre pensar da Filosofia é o de procurar caminhos e soluções racionais. A racionalidade é a base da Filosofia. É olhar para o abismo de si mesmo e da sociedade em que vivemos, encará-lo e encontrar soluções, Deleuze dizia que a Filosofia serve para entristecer, tanto o filósofo, quanto os agentes de seu campo de estudo.
A filosofia serve para entristecer. Uma filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é uma filosofia. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas (DELEUZE)
A Filosofia não serve para defender nenhum deus, nenhum político e nenhum cidadão, se isso acontece, não é Filosofia, apenas dogmatismo, Ludwig Wittgenstein diria que a Filosofia serve para ensinar a mosca a sair do caça-moscas. Ou seja, somos seres frágeis, factíveis de cair em armadilhas e a Filosofia nos ajudaria nisso, a não cairmos nelas.
A Filosofia é um devir1, é ter certeza na incerteza, como dizia Heráclito, é um fluir por diversos caminhos nunca antes perpassados, é trilhar por caminhos nunca antes vistos, desbravar o imaginário da imaginação, mas sempre com um pé na realidade, pois senão, ela se torna uma metafísica e poderá tender ao dogmatismo.
Desculpem-me a redundância, mas ela é o inevitável para o evitável que é evitante. Não é algo supérfluo como as redes sociais fazem transparecer ultimamente, óbvio que o capitalismo faz com que necessitemos usufruir de algum lucro advindo de qualquer meio necessário, mas isso não pode e nem dever ser o bastante para a Filosofia. É um discurso inútil de extrema utilidade, ela é mítica sem se tornar um dogma.
Ela não é uma pura resposta, mas o questionamento: porque essa pergunta? Pois a pergunta se torna o cerne do questionamento e é justamente isso o que é a Filosofia. Tanto que ela é a base de todas as ciências e, as ciências sempre voltam à Filosofia, imaginem um juiz, ele vive baseado em leis, mas como ele julga outro ser humano? Voltando à Filosofia.
A Filosofia te faz sair do cotidiano, sair do comum, nada na Filosofia é comum ou “normal”, se quer ser normal, corra da Filosofia. Aqui é um campo surreal, utópico e totalmente desligado do comum, porém, não devemos esquecer que: não existe liberdade baseada em preconceitos, a Filosofia é livre de preconceitos, “viva e deixe viver”.
Versando por outro lado, muitos pensam que a Filosofia é ciência, não é, David Hume e Karl Popper nos demonstram isso de forma empírica, pois ambos criaram métodos de experienciação que mudaram nossa visão acerca do mundo, foram filósofos que fizeram ciência, mas a Filosofia em si não é ciência.
Por outro lado, voltando aos gregos, Platão diria que a Filosofia serve como um mecanismo para ajudar o ser humano a “abrir os olhos” e se libertar dos grilhões. Lembremo-nos aqui da “alegoria da caverna de Platão”.
Para Aristóteles a Filosofia era algo que ajudaria a decifrar os “mistérios do Universo”, visto que, Aristóteles foi o filósofo “pai” das ciências. Sua busca pelo “primeiro motor”, o pensar acerca do hilemorfismo (apenas matéria e forma), sua política e biologia mudaram a humanidade e são conceitos aceitos até hoje.
Já para Epicuro, a Filosofia seria algo que nos ajudaria na busca pela felicidade, pois no seu Jardim (o equivalente à uma Universidade hoje) a felicidade era o fim, mas como ele sempre deixa claro, para encontrarmos a felicidade precisamos de um equilíbrio entre o prazer e a tristeza. Porém, nunca devemos deixar de ser quem somos, apenas encontrar o equilíbrio, nem muito prazer e nem tanta tristeza — por mais que a vida às vezes nos seja difícil.
Para os filósofos medievais, era um caminho para se encontrar deus, ou como supracitado, o “primeiro motor” de Aristóteles, pois para esses pensadores, tudo era “obra” de deus e por e para ele tudo era feito.
Já para René Descartes, a Filosofia era uma árvore, onde suas raízes eram a metafísica, o tronco a física e os galhos todas as outras ciências. Ou seja, para Descartes tudo nascia no abstrato para então seguir o caminho científico. Porém, para ele existia a dúvida metódica, ou seja, duvidar da dúvida, talvez seja esse o cerne da Filosofia.
Kant via a Filosofia como meio para fazermos uso público da razão e tirar o ser humano da menoridade, para mim, Marcio Costa, talvez essa seja a melhor forma de enxergar a Filosofia, ou seja, retirar algo do campo acadêmico e trazer esse conhecimento para todos.
Já Nietzsche a enxergava como uma ruptura do comum, a Filosofia gera o caos para depois resolver o problema. Bertrand Russel diria que a Filosofia é um processo de investigação e não uma ciência. Para Popper, é um racionalismo crítico.
Pode-se perceber também, o quão amplo foi se tornando a forma de enxergar a Filosofia, mas nunca deixando de lado a busca por algo, seja pelo viés epistemológico, ôntico, racionalista ou cientificista.
A Filosofia é exatamente isso, essa busca sem certezas de verdades, pois a partir do momento que se tem certeza de algo, vira ciência, coisa que a Filosofia não é e nunca poderá ser.
Além disso tudo que foi citado, a Filosofia não deve e nem pode servir a ninguém, pois se perder o seu viés crítico ela deixa de ser Filosofia e se transforma em fundamentalismo, ou seja, uma doutrina.
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1-Devir (do latim devenire, chegar) é um conceito filosófico que indica as mudanças pelas quais passam as coisas. O conceito de “tornar-se” apresentou-se primeiramente no leste da Grécia antiga pelo filósofo Heráclito de Éfeso que no século VI a.C. cunhou o famoso aforismo “Nenhum homem jamais pisa no mesmo rio duas vezes”