Filosofia no, do Brasil
Por: Pedro O.
16 de Agosto de 2018

Filosofia no, do Brasil

Filosofia filosofia brasileira

 

  1.       Introdução

 

            Um título interessante, mas ao mesmo tempo, curioso. O que há de interessante nesse título? O que seria necessariamente Filosofia no Brasil e do Brasil? E ainda mais, o que há de curioso na diferença entre elas? Como filósofos que cremos ser, temos que nos perguntar ao respondermos estas questões: “mas existe uma filosofia do Brasil?” ou até mesmo: “o que você compreende por filosofia?”. Outras perguntas que se fazem necessárias neste artigo são: “como está o ensino de filosofia no ensino médio?” e ainda mais: “como está se dando este ensino na faculdade?”, que é onde se formam formadores em filosofia.

Para uma melhor compreensão em cada um desses questionamentos pontuais, iremos traçar um caminho. Nele apresentaremos ainda que de modo resumido, a luz da Crítica da Razão Tupiniquim de Roberto Gomes, respostas, ou melhor, ainda mais dúvidas a partir das supostas respostas apresentada pelo autor, sobre este tema que parece ser “eternamente” atual. Por fim, para concluirmos, nos deteremos a apresentar dados curiosos, que afirmam ou confundem nossas expectativas.

Filosofia é uma palavra grega que etimologicamente significa “amor à sabedoria”. Para Gomes, a filosofia é como um streap-tease, nela se manifesta a essência daquilo que é, independente daquilo que seja o aspecto a ser considerado, fato é que a “verdade” vem à tona[1]. É ainda, para complementarmos naquilo que cremos ser fundamental para compreensão da filosofia e desse artigo, um auxílio necessário para uma vida mais coerente. Muitas são as crenças, mitos que criamos ao longo de nossas vidas e pela filosofia, por essa arte de pensar, refletir, podemos ir além na nossa vida cotidiana.

 

  1.       Filosofia no Brasil

 

Nessa seção, buscaremos apresentar e analisar a realidade da Filosofia no Brasil e também, a Filosofia do Brasil. Seja pelo viés da rememoração histórica, seja pela apresentação de problemáticas sobre a língua portuguesa e sobre o homem brasileiro em seu modo de relacionar com a filosofia.

Filosofia no Brasil é necessariamente aquilo que acontece em nosso meio, desde a chegada do Pe. Manuel da Nóbrega, um dos primeiros jesuítas que chegaram ao Brasil, onde foi provincial e um dos que ensinaram filosofia aos clérigos, junto com um mais famoso entre nós, o Pe. José de Anchieta[2]. Aqui está dado historicamente, se desconsiderarmos o Brasil antes de 1500 e tratando a filosofia aqui pelo modo concebido no estilo de reflexão de matrix grega e de modo mais Acadêmico, o primeiro movimento filosófico em nossas terras. Daí em diante a filosofia se espalhou, mas não cabe a nós um relato histórico desde o Pe. Manuel da Nóbrega até os dias de hoje. Assim como a apresentação dos empecilhos da formação de uma cultura intelectual, filosófica, que os portugueses criaram no período colonial[3].

Fato é que a filosofia no Brasil é simplesmente o ato de ler, explicar e comentar obras já criadas. Isso aconteceu porque para criação do departamento de Filosofia da USP foram tragos filósofos franceses para o Brasil, para nos ajudar além de criar, desenvolver as diretrizes básicas do curso, assim como formar os futuros docentes, isso de 1934 a 1957[4]. Mas esse pensamento não é só nosso, mas também do notável filósofo brasileiro Oswaldo Porchat, expresso em seu Discurso aos Estudantes sobre a Pesquisa em Filosofia. Aonde chega a referir o método filosófico brasileiro como cópia do estilo historiográfico francês[5].

Filosofia do Brasil é por sua vez, uma filosofia propriamente brasileira, que tem em sua reflexão a essência daquilo que é próprio do Brasil, como por exemplo, a relação entre o jovem da periferia que se torna jogador de futebol e logo formador de opinião para novos jovens[6], ou ainda, brasileiros que filosofam sobre questões, sejam essas particulares (do Brasil) ou universais (como o nome diz, do Universal), mas que tem em si, uma originalidade, própria de filósofos. É importante considerarmos que toda filosofia traz em si a marca de um tempo e um lugar, e nisso nos diz Gomes:

Fora, portanto, das urgências de seu tempo, os pensadores não chegam a fazer pleno sentido. Mas não basta ressaltar que todo pensamento traz a marca de seu lugar e tempo - isto, de um modo ou de outro, muitos aceitam. O vital é reconhecermos que um pensamento é original não por superar sua posição - o que é impossível -, mas precisamente por dar forma e consistência a este tempo e apresentar uma revisão crítica das questões de sua época, aí tendo origem. O pensamento é superior não a despeito de ser situado, mas justamente por situar-se.[7]

Quando ele escreveu isso, tinha quem em mente? A cada um de nós, filósofos brasileiros. Não é em vão que colocamos esse trecho neste ponto do artigo, pois como Gomes, percebemos que há uma necessidade imposta no meio filosófico brasileiro, a de filosofar-se[8]. Por isso é importante levar em consideração esse trecho no percurso deste artigo. Como foi dito acima, não pararemos no que desrespeito as influências sobre o pensamento brasileiro, seja na história ou nos fatos que por ela ainda estão implícitos e outros até mesmo explícitos em nosso meio, como o caso do Brasil Colônia, a escravidão e a miscigenação. Ainda que fosse interessante apresentarmos o porquê do “complexo de vira-lata” que segundo Nelson Rodrigues[9]temos ou nossa inferioridade cultural segundo Timm de Souza[10], nos deteremos, voltando ao caminho proposto.

            Como podemos fazer uma filosofia brasileira? Ou para seguir o modo que estamos apresentando, uma Filosofia do Brasil? Segundo Gomes, temos que abandonar todo e qualquer tipo de filosofia estrangeira, pois se a filosofia está ligada há um tempo e lugar, certamente, não foi escrita para o nosso tempo, e menos para o nosso Brasil[11]. Daqui surge um problema, pois gostamos de considerar aquilo que vem de fora (isso não só na filosofia), mais claramente, aquilo que vem da Europa ou dos EUA a nível filosófico[12]. Não são poucos aqueles que assim fizeram ou fazem, longe ou perto de nós, a mesma coisa.

            Fizemos então uma “pesquisa” na FAJE, durante o segundo semestre de 2014. O interesse de fazer uma pesquisa se deu ao estudarmos Gomes, pois suas falas nos instigavam para descobrir a veracidade do que então dizia. Utilizamos uma única pergunta na pesquisa com os alunos e professores: “Dos três filósofos que você mais estudou ao longo de sua formação filosófica, algum era brasileiro?”. Apenas três, dos dezessete que conversamos tinham um filósofo brasileiro como referência para o seu “ser filosófico”, ou seja, a maioria desses prioriza mais o estrangeirado.

Não podemos desconsiderar a filosofia seja ela de onde, de quando ou de quem for, principalmente aquelas que tratam de aspectos universais, pois de algum modo, tratam de questões que nos interessam. Mas nos cabe a pergunta, um filósofo alemão, ao traduzir um texto brasileiro, compreenderá ao ler um exemplo que explica o texto, onde se faz uma comparação de algo com a miscigenação? É claro que sim, pode estudar e esclarecer esta questão, mas essa palavra, nesse respectivo texto, tem um sentido que é particular aquilo que é próprio da cultura brasileira e não da cultura alemã, ainda que esse filósofo seja poliglota sua cultura não é universal. Por isso, ele compreenderá essa palavra como alemão e não como brasileiro, assim não terá ao traduzir o sentido profundo da expressão, ou seja, isso acarretará em uma pseudo-compreensão da comparação em questão. Isso nos leva a concluir que ao tentarmos o contrário, ao ler um texto que seja alemão ou de qualquer outro “canto do mundo”, tenderíamos a uma ingênua compreensão. Assim também para aqueles que supõem ser a língua portuguesa imprópria para o ato de filosofar[13], temos que dar a notícia de que qualquer língua fora daquela na qual foi escrito o texto, seja ele qual for, será uma língua imprópria.

Quando consideramos a filosofia ocidental, não temos muitas vezes a capacidade de compreender que o que ela deve nos ensinar é o caminho para compreensão de uma “essência do dado em questão” e não que aquilo que se compreendeu, por este ou aquele autor, é uma verdade para nós. Isso porque independente da afirmação ou de quem quer que a afirme, pode tender ao erro[14], ou ter em si uma visão particular da questão e não uma visão universal. Exemplo disso é a relação entre a escravidão para os gregos e para nós hoje. Não faz sentido falar de escravidão para eles, pois viviam em uma realidade onde esse termo nem existia, era natural. A escravidão existe para nós hoje, é um tema que trabalhamos, e não eles, que viam ser assim o modo de se viver. Se considerarmos isso poderemos começar a fazer filosofia, pois teremos um olhar criterioso ante o que se lê.

Mas ainda queremos insistir no problema da Filosofia do Brasil, ou melhor, do empecilho que ela encontra. O brasileiro não valoriza o que faz! Claro, não a nível do esporte, ao menos no futebol. Desde 1922, quando aconteceu a Semana de Arte Moderna, o Brasil rompeu com aquilo que o prendia a Europa, seja na música, pintura, escultura, poesia como na literatura. Para Oswald de Andrade essa revolução modernista foi feita antes contra si próprio, já que o escravo traz em si a marca do seu senhor, ou seja, ser livre é um esforço maior do que aquele de continuar dependendo de um senhor[15]. Pois o senhor é a cultura que forma o homem e por isso, influencia o seu modo de ser[16].

Dali em diante, um novo rumo seguiria a arte brasileira, mas infelizmente, o mesmo não aconteceu com a filosofia, que segundo Gomes, tinha questões mais sérias a resolver de VII séculos atrás do “seu senhor”[17]. Não é à toa que Tobias Barreto chega a afirmar que “o Brasil não tem cabeça filosófica”[18], ou ainda Álvaro Lins, "nunca se explicará com suficiente exatidão o que determina a ausência de um verdadeiro filósofo no Brasil[19]”. Ao lermos a Crítica da Razão Tupiniquim, somos tentados a pensar considerando ainda mais as frases acima, que não há Filosofia do Brasil e que nem poderá existir um filósofo brasileiro que possa mudar este quadro. Mas se isso é uma tentação, fato é que estes filósofos, Barreto, Lins, Gomes, entre outros, consideraram todo o esforço que fizeram como algo filosoficamente sem importância. E é essa a importância que, muitos de nós filósofos, damos à filosofia e a filósofos brasileiros, nenhuma.

No livro Conversa com Filósofos Brasileiros, os grandes nomes da filosofia brasileira foram entrevistados. Entre tantas perguntas, havia uma discreta, sobre a visão dele sobre a filosofia no Brasil, se ele, o entrevistado, acreditava em sua existência ou não. Como antes já citamos o Porchat, falaremos da entrevista feita com ele. De 34 perguntas, apenas uma se referia a Filosofia no Brasil, e diferente de algumas questões que após sua resposta eles fizeram outra pergunta em cima, sobre a Filosofia no Brasil, nada! Mas qual foi a resposta dele? Que ele não cria haver uma filosofia brasileira, mas que essa está porvir, que está em gestação[20]. Como pode um livro que conversa com os filósofos brasileiros não valorizar a Filosofia no Brasil? Não deveria estar isso no centro da problemática do livro e não de modo periférico[21]?

            Em nossas terras, podemos dividir três grupos de filósofos. O primeiro se dedica exclusivamente a estudar filósofos estrangeiros, os clássicos. O segundo se dedica aos pensadores brasileiros. Já o terceiro grupo, se dedica a ideias filosóficas independentes, voltados para a cultura brasileira e seus problemas. Esses três grupos não se relacionam, não dialogam entre si, são indiferentes uns aos outros. Para Margutti Pinto, isso é o “contexto culturalmente esquizofrênico” da Filosofia no Brasil. Que obviamente prejudica na formação de novos filósofos, pois a Capes e o CNPq valorizam apenas o primeiro destes grupos[22].

 

  1.       Educação e Filosofia

 

Nessa seção, enfatizaremos a realidade da Educação e Filosofia no Brasil, dando ênfase aos problemas encontrados nas escolas e faculdades, universidades ante ao método de ensino. Apresentado o problema por parte dos professores, mas não desconsiderando a falta que o governo tem com os mesmos para tal. Citando por fim, dois exemplos de professores distintos dos demais exemplo que serão apresentados.

Neste ponto, se faz necessário apresentar a nossa realidade brasileira no ensino de filosofia. Desde 2008, a lei n° 11.684 no artigo 1°, obriga que no ensino médio tenham aulas de sociologia assim como de filosofia[23]. Essa lei, que foi criada, visando à importância de que os alunos tenham desde cedo o contato com essa arte do saber, é falha, ou pior, é prejudicial aos alunos. Isso acontece porque a maioria dos professores do ensino médio não tem capacitação em filosofia, temos menos da metade da quantidade necessária de professores para essa área[24]. Aqui não falamos na área da filosofia Brasileira, seria pedir demais, mas na filosofia num sentido básico. Um dos entrevistados de nossa pesquisa nos contou que quando fez o ensino médio na Escola Federal de Inconfidentes (hoje IFSULDEMINAS – Câmpus Inconfidentes), a matéria de filosofia era conjunta com a de artes, por isso, o ato mais crucial que a professora o instigava, era o de pensar com quais cores aqueles desenhos recebidos em sala de aula, ficariam mais belos.

O fato citado acima não esclareceu em que ponto isso se torna prejudicial para filosofia. Quem nunca ao falar que é formado em filosofia ou que está cursando, não ouviu a pergunta, “mas para que isso serve?”. Fato é que a filosofia não serve para nada, pois no momento que ela se torna ato, deixa de ser filosofia, já que ela está no campo da reflexão, da busca. Mas o que leva uma pessoa a fazer essa pergunta, ou até mesmo a falar quando alguém está enrolando demais em um assunto, “para de ser filósofo”[25]? Isso se dá pela visão pejorativa daquilo que é a filosofia, que tem seu início no ensino médio.

Sinceramente, o que é melhor, não ter filosofia no ensino médio ou tê-la de qualquer jeito? Alguns creem que foi uma conquista a filosofia ser obrigatória, pois assim desde cedo, ainda no seu período de formação, o jovem pode ter o contato com a essa arte de pensar, desenvolvendo assim, suas habilidades de investigação e raciocínio[26]. Será? Será que essa arte de pensar nas aulas de filosofia não se dá, assim como no exemplo acima citado, apenas em escolher um lápis de cor para que o desenho fique belo ou talvez, do por quê ao invés de termos mais aulas de matemática e português para nos prepararmos para o Vestibular temos que estudar essa matéria sem nem mesmo entendermos porquê?

Hoje se tem uma cartilha que norteia as aulas de filosofia no ensino médio. Mas nortear é diferente de ser o método único pelo qual se deve ensinar. Alguns professores, poucos formados na área, pela insegurança, por não dominarem bem o conteúdo, se prendem a cartilha. Sendo assim, como tende a ser a aula? Monótona. Pois é mera repetição daquilo que seria o material base para se lecionar. Seria a culpa então dos professores? Se as escolas tivessem instalações, se seus salários fossem mais dignos e fosse mais investido em capacitação, ai sim, poderíamos dizer que a culpa seria toda deles. Por hora, eles têm apenas parte da culpa.

Seria fundamental que assim como a filosofia se tornou obrigatória por lei, também o fosse preparar professores para que a executem. Mas a licenciatura não tem esse papel? Teoricamente sim, mas como é realizado o curso de licenciatura de filosofia, senão tal qual a licenciatura em outra área? Claro que nela se estuda alguns aspectos mais filosóficos, mas no modo de ser professor, o que para nós está em questão, não difere de outras áreas. Pois tal qual nas outras áreas não basta querer transmitir algo para o aluno, deve-se instigá-lo, para que ele adquira um conhecimento mais amplo, não somente do assunto trabalhado em sala, mas também para vida. É próprio da filosofia essa “arte”. As aulas de didáticas têm um belo objetivo[27], mas ao considerarmos o nível do ensino que temos, parece ter se tornado poesia. E é importante ressaltar que quanto menos pessoas que raciocinem, filosofem, ou melhor, pensem sobre a realidade da qual fazem parte, melhor para aqueles que estão à frente de um governo, que visam o “crescimento nas contas” e não a formação de seu povo.

A solução estaria então no meio Acadêmico, nas Faculdades e Universidades. É o que muitos pensam. Pois pensamos que no meio Acadêmico conheceremos um mundo até então escondido para nós, que nele nossa mente se abrirá, mas “poesia a parte”, vamos para um dado que vai nos trazer de volta a realidade do Brasil. Como queremos despertar a Filosofia no Brasil para uma Filosofia do Brasil? Cremos ser necessário conhecer a história, não para ficarmos presos a ela, mas para a partir dela construirmos algo novo, e qual a pseudo-Filosofia do Brasil? Se considerarmos todas as PUC’s que temos no Brasil, em nenhuma delas no curso de Filosofia, veremos em sua grade curricular a matéria Filosofia no Brasil ou do Brasil, independentemente disso, o fato é que não temos nada, seja como “Obrigatória”, como “Histórica”, como “Complementar” ou até mesmo como um “Seminário” qualquer explícito em sua grade como algo importante. Para entender melhor esse ponto, são sete as PUC’s que temos no Brasil: Campinas[28], Goiás[29], Minas Gerais[30], Paraná (Curitiba[31] e Maringá[32]), Rio de  Janeiro[33], Rio Grande do Sul[34] e São Paulo[35], mas em nenhuma há espaço para essa nossa Filosofia. Talvez possamos considerar a matéria Optativa de “Produção do pensamento histórico brasileiro” como filosófico, que há na PUC de Goiás, mas sem o conhecimento da ementa não é possível. Para que esse parágrafo fique claro, dê uma olhada nas referências.

Para não pararmos por aqui em nossa “pesquisa de campo”, em todas as faculdades de Belo Horizonte que tem o curso de Filosofia, ou seja, ISTA, UFMG, PUC e FAJE, apenas a última têm duas matérias referentes a esta área. Mas quando isso acontece? Acontece no 5° e 6° período, uma matéria em cada. Fato é que no último ano de faculdade, todos os alunos têm um projeto para Monografia e aqueles que começaram a Iniciação Científica, o fizeram, mas em um pensador que se fez conhecido para ele no começo do curso, obviamente estrangeiro.

Os problemas no meio Acadêmico não param por aqui, ainda nas Instituições filosóficas temos o problema com os professores desta área. O que deveria ser um professor de filosofia? Para nós, uma pessoa que instrua o aluno a buscar a sabedoria, passando pela história da filosofia, mas visando o saber. Quando falamos do problema no meio Acadêmico referente aos professores, queremos expressar que muitos professores, são como “piolhos de filósofos”, pois dedicam sua vida para saber o que o filósofo pensou em pensar, ao invés de como filósofo, pensar além.

Pretendemos agora ser um escabin[36] ao apresentar esse problema. Durante o tempo do curso de filosofia, não foram poucas as vezes que nos corredores a conversa era “não entendo esse professor, qual o critério dele?”. Muitos de nós alunos, ao apresentarmos um trabalho, onde tínhamos posição contrária a um autor, tivemos uma nota básica para não perdermos a média, o que não era diferente quando o mesmo acontecia em uma prova. Mas por quê? Apego sentimental é a resposta dos “corredores”. Muitos professores são apegados sentimentalmente aquilo que se dedicaram por toda vida e qualquer posição que seja contrária aquilo pelo qual gastou sua vida, é motivo para não ser levado em consideração[37]. Independente do argumento, fato é que, se for valorizado a posição do professor perante aquele “autor de cabeceira” dele, a nota dificilmente fugirá de subir na escala do 8 rumo ao 10. Agora, onde entra a filosofia, a arte do filosofar nisso? Também gostaríamos de saber, se a filosofia no Brasil é a escola de pensar no que o professor gostaria que nós colocássemos em trabalhos e provas, ou manifestemos aquilo que a partir daquilo que ele nos apresentou, o que isso nos moveu no sentido da filosofia?

Fato é que ainda mais a futura Filosofia do Brasil, se considerarmos que somos nós jovens filósofos o futuro do Brasil e logicamente o da Filosofia no, do Brasil, estamos aprendendo a ser bons comentadores (historiadores), assim como explicitadores (“piolhos”), mas pouco estimulados à arte do filosofar.

Para mostrar que o mundo Acadêmico brasileiro não está perdido, queremos citar dois professores que valorizam o ato de filosofar. Primeiro o professor Paulo Margutti que foi professor da UFMG de Lógica e Filosofia da Linguagem, aonde veio a se aposentar, e da FAJE, mas que se dedica ultimamente a Filosofia Brasileira, vindo a criar o Grupo de Filosofia do Brasil (FIBRA) e escrevendo além de uma série de artigos sobre esse tema, escreveu o livro História da Filosofia do Brasil - o Período Colonial (1500-1822). O que levou Margutti a mudar sua linha de pesquisa, segundo o dito em sala de aula, quando lecionava a matéria da “Visão filosófica de Mário Vieira de Melo”, é que em certo momento na UFMG o diretor do curso de Filosofia percebeu a necessidade de ter Lógica II e para isso tirou uma matéria menos importante, matéria essa chamada Filosofia Brasileira, pois era pouco importante para a formação de um filósofo[38]. Isso o incomodou a tal ponto que ele quis se aprofundar nessa área e hoje, leciona nela. Em sua matéria, mais do que apresentar a visão de Vieira de Melo, ele nos estimulou a termos a nossa visão ante aquilo que era apresentado, de modo crítico.

Outro professor é o Bruno Pettersen, que segundo a “conversa dos corredores”, nos ajuda não só a questionar, mas promove debates em sala de aula, de modo que passemos pelo crivo do conhecimento, tentando fazer da nossa crença uma verdade justificável. Com isso, crescemos a nível filosófico, vindo a ser formadores de opinião em um determinado assunto tratado, e não apenas um comentador ou explicitador. Mas fora ele, alguém mais promove debates? No meio Acadêmico, temos oportunidades para isso? Vemos isso entre os professores? Em todas as questões a resposta é não! Mas por quê? Talvez seja o medo de terem que expor o seu pensamento, seu filósofo a uma situação de risco, mas maior risco é o de correr, correr e não sair do lugar.

Ainda para concluir este ponto, durante a pesquisa realizada na FAJE, perguntamos para os alunos entrevistados, se ao terminar o curso, tinham o interesse de se aprofundar em filósofos brasileiros, mas unanimemente a resposta foi “não”. Mas temos que ser fiel que todo o percurso desse artigo parte dessa pergunta feita aos alunos, que não se contentavam a dizer sim ou não e diziam onde percebiam o problema da filosofia brasileira.

Como não considerarmos a importância do Mário Vieira de Melo, Marilena Chauí, Pe. Vaz, Oswaldo Porchat, entre tantos outros, para a filosofia brasileira. Aqui não dizemos quem destes foram importantes por serem representantes da Filosofia no Brasil ou pela Filosofia do Brasil. A importância que aqui ressaltamos é pela busca de uma originalidade da Filosofia, se conseguiram ou não, chegar onde queriam, não cabe a nós, nesse artigo analisar, mas cabe a nós pensarmos que se um pensador busca fazer um streap-tease cultural, tendo um olhar mais profundo da realidade que o circunda, visando a essência, está fazendo filosofia e isso é, ao menos, um embrião de uma filosofia brasileira.

 

  1.       Conclusão

 

Este artigo não tinha como intuito descobrir a roda, mas apenas esclarecer como funciona a roda, o que se pode fazer com ela e por fim deixar claro, que por mais bela que seja a roda, quem a criou foi indescritivelmente o verdadeiro criador da roda e todos que o seguiram, buscaram ir além naquilo que lhes era possível e o mesmo cremos estar acontecendo conosco antropofagicamente. Nenhum filósofo europeu é mais do que aquele ser “primitivo” que questionou o mundo, que “trouxe” à Terra a primeira interrogação. Agora fica uma pergunta, própria para nós filósofos: o futuro do Brasil permanecerá com “piolhos” e comentadores ou buscaremos valorizar este embrião? Isso depende de nós, de você!

Mas como fazer isso? Se aventure na arte do filosofar. Olhe com o espanto típico dos filósofos sobre aquilo que se tornou trivial. Haja de modo antropofágico. Não seja mais um graduado, mestre ou doutor em filosofia que sabe apenas comentar e ensinar outros como comentar de modo mais belo e claro. Seja verdadeiramente aquilo que você sempre quis ser, filósofo. Vá além. E esteja certo, que assim conduzirá outros e então, verdadeiramente será um grande educador, não só da teoria, mas dessa para a vida de seus alunos.

 

  1.       Bibliografia

 

5.1. Livros

 

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2009

GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994.

HANSEN, João Adolfo. Manuel da Nóbrega. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Ed. 26. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1990.

ORTEGA Y GASSET, José. Meditaciones del Quijote. Tradução de G. M. Kujawski.Madrid: Universidad de Puerto Rico: Revista de Occidente, 1957.

PINTO, Paulo Roberto Margutti. História da Filosofia do Brasil:1ª parte: o período colonial (1500-hoje). São Paulo: Loyola, 2013.

PORCHAT, Oswaldo. Entrevista - "Oswaldo Porchat, 1993" In: REALE, Miguel; NOBRE, Marcos; REGO, Jose Marcio. Conversas com filósofos brasileiros.  São Paulo: Editora 34, 2000.

SOUZA, Ricardo Timm de. O Brasil Filosófico. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999.

 

5.2. Internet

 

Complexo de vira-lata. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_vira-lata>. Acesso em 6 de Dezembro de 2014.

Departamento de Filosofia. Histórico do Departamento. Disponível em: <http://filosofia.fflch.usp.br/departamento/historico>. Acesso em 6 de Dezembro de 2014.

 

Escola de Educação e Humanidades. Filosofia – Câmpus Curitiba. Estrutura Curricular. Disponível em: <http://www.pucpr.br/graduacao/filosofia/curitiba/estrutura.php5>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

Escola de Educação e Humanidades. Filosofia – Câmpus Maringá. Disponível em: <http://www.pucpr.br/graduacao/filosofia/maringa/estrutura.php5>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Curso de Filosofia. Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/ffch/CurriculoFilosofia.pdf>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

Filosofia (Bacharelado/Licenciatura) – Coração Eucarístico. Disponível em: <http://www.pucminas.br/ensino/graduacao/graduacao_cursos.php?&pagina=17&PHPSESSID=093b9b3a894e3e593ef7ae56262844ef&curso=14&mostra=disciplinas>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

Grade Curricular. Graduação em Filosofia. Disponível em: <http://www.pucgoias.edu.br/ucg/prograd/graduacao/ArquivosUpload/42/file/Grade_FILOSOFIA__2009_2_Vigente.pdf>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

Matriz Curricular – Filosofia – Bacharelado. Disponível em: <http://www.puc-campinas.edu.br/graduacao/cursos/filosofia/matriz-curricular/>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

Periodização – Bacharelado em Filosofia. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/ensinopesq/ccg/filosofia.html#bfl>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Filosofia (bacharelado). Disponível em: <http://www.pucsp.br/sites/default/files/download/graduacao/cursos/filosofia/matriz_filosofia_bacharelado.pdf>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

PORCHAT, Osvaldo. Discurso aos estudantes sobre pesquisa em filosofia. Disponível em: <http://www.revistafundamento.ufop.br/index.php/fundamento/article/view/13/4>. Acesso em 6 de Dezembro de 2014.

Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n° 11.684, de 2 de Junho de 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm#art1>. Acesso em 31 de outubro de 2014.

 

SILVA, Maria Gizele da. Sem professores, Filosofia e sociologia estão ameaçadas. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=793420>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

 

[1] Cf. GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994. p.18

[2] Cf. HANSEN, João Adolfo. Manuel da Nóbrega. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. p. 168.

[3] Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Ed. 26. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 121.

[4] Cf. Departamento de Filosofia. Histórico do Departamento. Disponível em: < http://filosofia.fflch.usp.br/departamento/historico>. Acesso em 6 de Dezembro de 2014.

[5]Cf. PORCHAT, Osvaldo. Discurso aos estudantes sobre pesquisa em filosofia. Disponível em: <http://www.revistafundamento.ufop.br/index.php/fundamento/article/view/13/4>. Acesso em 6 de Dezembro de 2014.

[6] Como o livro Carnavais, Malandros e Heróis de Roberto da Matta.

[7] GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994. p. 21.

[8] Ibidem, p. 24.

[9] Cf. Complexo de vira-lata. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Complexo_de_vira-lata>. Acesso em 6 de Dezembro de 2014.

[10] Cf. SOUZA, Ricardo Timm de. O Brasil Filosófico. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999. p. 20.

[11] Cf. GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994. p.104.

[12] Cf. PINTO, Paulo Roberto Margutti. História da Filosofia do Brasil:1ª parte: o período colonial (1500-hoje). São Paulo: Loyola, 2013. p. 355.

[13]Cf. GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994. p. 65-66.

[14] Como a famosa frase de Heidegger: “O nada nadifica!”.

[15] Cf. GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994. p. 97.

[16] Cf. ORTEGA Y GASSET, José. Meditaciones del Quijote. Tradução de G. M. Kujawski.Madrid: Universidad de Puerto Rico: Revista de Occidente, 1957. p. 52.

[17] Cf. GOMES, Roberto. A crítica da razão tupiniquim. 11. Ed. São Paulo: FTD, 1994. p. 101.

[18] Ibidem, p. 64.

[19] Ibidem, p. 62.

[20] Cf. PORCHAT, Oswaldo. Entrevista - "Oswaldo Porchat, 1993" In: REALE, Miguel; NOBRE, Marcos; REGO, Jose Marcio. Conversas com filósofos brasileiros.  São Paulo: Editora 34, 2000. p. 126.

[21] Reale considera a filosofia no, do Brasil como a mesma coisa.

[22] Cf. PINTO, Paulo Roberto Margutti. História da Filosofia do Brasil:1ª parte: o período colonial (1500-hoje). São Paulo: Loyola, 2013. p. 10-12.

[23]Cf. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n° 11.684, de 2 de Junho de 2008. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm#art1>. Acesso em 31 de outubro de 2014.

[24]Cf. SILVA, Maria Gizele da. Sem professores, Filosofia e sociologia estão ameaçadas. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=793420>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[25] CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2009. p. 19.

[26] Cf. LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1990. p. 41.

[27] Cf. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. p. 28.

[28] Cf. Matriz Curricular – Filosofia – Bacharelado. Disponível em: <http://www.puc-campinas.edu.br/graduacao/cursos/filosofia/matriz-curricular/>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[29] Cf. Grade Curricular. Graduação em Filosofia. Disponível em: <http://www.pucgoias.edu.br/ucg/prograd/graduacao/ArquivosUpload/42/file/Grade_FILOSOFIA__2009_2_Vigente.pdf>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[30] Cf. Filosofia (Bacharelado/Licenciatura) – Coração Eucarístico. Disponível em: <http://www.pucminas.br/ensino/graduacao/graduacao_cursos.php?&pagina=17&PHPSESSID=093b9b3a894e3e593ef7ae56262844ef&curso=14&mostra=disciplinas>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[31] Cf. Escola de Educação e Humanidades. Filosofia – Câmpus Curitiba. Estrutura Curricular. Disponível em: <http://www.pucpr.br/graduacao/filosofia/curitiba/estrutura.php5>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[32] Cf. Escola de Educação e Humanidades. Filosofia – Câmpus Maringá. Disponível em: <http://www.pucpr.br/graduacao/filosofia/maringa/estrutura.php5>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[33] Cf. Periodização – Bacharelado em Filosofia. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/ensinopesq/ccg/filosofia.html#bfl>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[34] Cf. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Curso de Filosofia. Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/ffch/CurriculoFilosofia.pdf>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[35] Cf. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Filosofia (bacharelado). Disponível em: <http://www.pucsp.br/sites/default/files/download/graduacao/cursos/filosofia/matriz_filosofia_bacharelado.pdf>. Acesso em 21 de Outubro de 2014.

[36] Remédio contra piolhos.

[37] Aqui temos que ter compaixão de tais professores, pois se tivessem mesmo valorizados seus “filósofos do coração”, teriam aprendido deles que o que eles desejavam não era fazer discípulos, mas novos mestres. E que como mestres vão além do aprendido de seus mestres.

[38] Cf. PINTO, Paulo Roberto Margutti. História da Filosofia do Brasil:1ª parte: o período colonial (1500-hoje). São Paulo: Loyola, 2013. p. 9.

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