Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E, porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro todas as razoes de que até então me servia nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, se que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos." Descartes
Envie sua primeira dúvida gratuitamente aqui no Tira-dúvidas Profes. Nossos professores particulares estão aqui para te ajudar.
Oi Amanda, belezinha?
É importante entender que René Descartes seguia uma linha de pensamento filosófico que se baseava na metafísica de Platão. Não era uma cópia tola de Platão, mas defendia que apenas com a razão - com o pensamento lógico - era possível conhecer realmente como as coisas da realidade funcionam.
Neste sentido, Descartes alegou que qualquer pensamento leviano, baseado nos sentidos, nas sensçações, nos sentimentos, nas emoções e nas crendices de todo tipo, levariam a ilusões. Para superar as ilusões e conhecer a realidade como tal somente seria possível com o uso do pensamento lógico-matemático, um pensamento analítico. Ou seja, seria preciso pegar o todo, pegar um objeto de estudo, alguma coisa que se queira entender, e desmontar em partes menores e compreender essas partes. Depois de entender bem essas partes e a dinâmica de como elas funcionam em conjunto, isto é, sua mecânica, seu funcionamento orgânico, aí sim você teria certeza do que era e de como fucionava tal objeto estudado, tal fenômeno da natureza ou qualquer outra coisa.
Com a análise do pensamento lógico-matemático, Descartes acreditou que superaria a superstição. Por sua vez, ele também superaria o ceticismo, isto é, uma desconfiança extrema sobre qualquer coisa que fuja a algo duvidoso.
Qualquer necessidade, só procurar!
Abraços.
Envie sua primeira dúvida gratuitamente aqui no Tira-dúvidas Profes. Nossos professores particulares estão aqui para te ajudar.
Olá Amanda,
Esse trecho que você selecionou faz parte do texto "Discurso do Método". Nesse texto, que, na verdade, é uma espécie de introdução a três obras científicas, Descartes explica o método que ele próprio descobriu e aplicou para encontrar a verdade em qualquer área do saber humano. Uma vez que o objetivo do seu método era a descoberta da verdade, ele considerou que uma das principais teses filosóficas que ele precisaria refutar, logo de início, era a tese segundo a qual os seres humanos não sabem e talvez jamais saberão nada com certeza absoluta. Ou seja, segundo essa tese, podemos ter opiniões variadas, crenças muito fortes e até bem defensáveis, mas nada disso seria conhecimento genuíno, já que não sabemos a verdade sobre nenhum assunto. Essa é uma tese cética, embora, como deves saber, "ceticismo" é o nome genérico que se dá a uma rica e antiga tradição filosófica.
No contexto da tua pergunta e do trecho que selecionastes, o que Descartes faz é mostrar aos leitores, de modo bem resumido, como o seu método de descoberta da verdade permitiu-lhe refutar aquela tese cética sobre a impossibilidade de saber a verdade. Será que tudo o que temos são crenças e opiniões, falsas certezas? Será que apenas supomos saber certas coisas, quando na verdade não sabemos nada? Para responder a essa pergunta e refutar a tese cética, Descartes precisaria examinar todas as suas crenças e ver se, entre elas, haveria pelo menos uma que pudesse ser considerada conhecimento verdadeiro. Note que bastaria encontrar pelo menos uma crença desse tipo para que a tese cética fosse refutada. Assim, no trecho selecionado, ele faz a descrição do procedimento que ele executou, seguindo seu método, para responder a essa pergunta.
Primeiro, ele se dá conta de que não poderia examinar todas as suas crenças, uma por uma. Elas são muitas e esse trabalho jamais teria fim, sobretudo se fosse feito sem nenhum critério. Assim, ele usa o método para simplificar a sua tarefa. Em lugar de examinar suas crenças uma por uma, ele as examinaria em conjunto, a partir da origem comum que elas tivessem. Assim, ele começa pelas crenças que ele adquiriu "pelos sentidos", ou seja, a partir das coisas que viu, ouviu, saboreou ou cheirou ao longo da vida. Para saber se entre essas crenças haveria algo de verdadeiro e irrefutável, ele precisava adotar um critério radical: supor como falsa qualquer crença para a qual ele encontrasse uma mínima razão para duvidar que ela fosse verdadeira. No caso das crenças obtidas pelos sentidos, essa razão era o fato de que, às vezes, os sentidos nos enganam.
Em seguida, ele examina as crenças obtidas pelo raciocínio (não mais pelos sentidos), para concluir que também nesse caso, às vezes nos enganamos (cometemos paralogismos) e que, portanto, usando aquele mesmo critério radical, suporia como falsas todas as crenças obtidas por raciocínio.
Por fim, considerando não haver nenhum critério plenamente seguro para distinguir se uma determinada experiência ou pensamento que temos ocorre ou ocorreu durante um sonho ou enquanto estávamos acordados, Descartes conclui que praticamente nenhuma crença ou experiência adquirida por experiência ou por raciocínio fica ao abrigo da dúvida cética.
Todas essas considerações fazem parte do repertório de argumentos céticos para defender a tese de que não sabemos nada com certeza absoluta. Descartes sabia disso e é nesse ponto que ele pretende mostrar a eficácia do seu método para refutar o ceticismo. Podemos, de fato, duvidar de praticamente tudo, já que sequer sabemos com certeza se, neste exato instante, estamos sonhando ou acordados. Porém, mesmo assim, enquanto estamos realizando o esforço cognitivo de duvidar de todas as nossas crenças, estamos duvidando e não duvidamos da nossa ação mental de duvidar. Se tentarmos duvidar dela, estaremos justamente fazendo a mesma coisa: realizando a ação cognitiva de duvidar. Daí então Descartes extrai a conclusão que refuta a tese cética. Existe sim pelo menos uma crença que está ao abrigo de qualquer dúvida e que, portanto, é um conhecimento certo e seguro, irrefutável: pelo menos enquanto estou realizando o exercício mental da duvida, SEI que estou duvidando.
Olá, Amanda!
Descartes supera o ceticismo ao concluir que é possível chegar a um conhecimento. Para um cético é impossível conhecermos as coisas como elas realmente são, logo tudo é questionável. Descartes começa seu método com uma dúvida radical, duvidando de todas as coisas (ceticismo) no entanto, neste processo, ele percebe que há uma coisa que ele não pode duvidar, esta "coisa" que ele não pode duvidar é que está pensando, pois para duvidar pensar é necessário. Assim, ele chega a conclusão: "Penso, logo existo" superando o ceticismo inicial do seu método.
Espero ter ajudado.
Grande abraço.
Envie sua primeira dúvida gratuitamente aqui no Tira-dúvidas Profes. Nossos professores particulares estão aqui para te ajudar.