Contracultura, guerra do vietnam e características especiais

História História Geral história Contracultura Anos 60 Guerra do Vietnã

Olá professores. Bem, vou direto ao ponto fazer a pergunta e depois eu explico a razão de faze-la, porque acho que isso pode ajudar: existiu alguma característica específica da Guerra do Vietnã (uma característica provavelmente marcante, ou que não tenha ocorrido antes), mas inerente a própria guerra mesmo e não a fatores externos e que ajude a explicar o grande caldeirão de questionamentos e movimentos que ajudaram a cozinhar a contracultura? Algum tipo de crueldade noticiada, desumanidade ou mesmo ausência de propósitos mais sólidos (se é que há alguma coisa justifique realmente uma guerra) ? É lógico que existia toda uma massa juvenil ‘’inédita’’ nos EUA prontos para esse questionamento, nascidos no babyboom e sem querer repetir as escolhas dos pais, mas alguma característica dessa guerra contribuiu para esse questionamento nascer, nesse dado momento? Sou formado em Design de Moda e pós-graduado em Metodologias do Ensino na Educação Superior. Sou apaixonado por História da Indumentária e da Moda, mas como profissional da moda entendo muito mais das causas e consequências das mudanças de estilo do que carga suficiente para comparar puramente fatores de uma guerra com outra. Só que tento sempre ir além, me questiono bastante. Um exemplo do que quero dizer: sempre depois de um período de guerra, há também um período de sofisticação no vestuário. Só que o pós-segunda guerra trouxe um estilo totalmente diferente do pós-primeira guerra e não simplesmente ‘’porque o tempo passou e cada época tem sua cara’’. Não! É possível entender porque o vestuário foi moldado de maneiras bem distintas (e em certos aspectos os anos de 1920 foram muito mais modernos que os anos de 1950, que praticamente um revival do final do sec. XIX) mesmo ambos sendo períodos pós guerra. Então nem todas as explicações se encontram apenas na ‘’guerra’’. É necessário entender as diferenças. Por isso que eu quero saber se essa guerra teve algo especial que fez os jovens questionarem como nunca antes (excluindo o fato de ter mais jovens a reparar isso do que antes, que é obviamente relevante, claro). Até porque os anos 60 foram marcados por uma movimentação juvenil em toda parte do mundo e nesse mesmo campo podemos dizer que eram os ingleses que estavam na linha de frente da exportação de cultura, até mais que os americanos (vide a Brittish Invasion). Então é essa minha dúvida , que de certa maneira toda a explicação para o questionamento ter surgido e formado o caldeirão que formou não ser apenas no aumento do número de jovens ou a sociedade pronta como nunca antes para isso. Me parece que a guerra teve algum ineditismo que não sei qual é. Posso estar enganado na impressão, mas por isso mesmo estou perguntando. Obrigado.

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Rafael perguntou há 5 anos

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Professor José J.
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Vou tentar responder começando pelo panorama histórico pós II Guerra Mundial. A questão central, e cujas repercussões se sentem até hoje no mundo, que envolve o fim desse conflito é a derrota do estado racial da Alemanha nazista por sua vítima destinada a ter a maior parte da sua população exterminada e os sobreviventes escravizados pelos colonizadores vitoriosos: a URSS. Na maior guerra colonial da história (a Guerra Germano-Soviética, núcleo central da II Guerra Mundial), o agressor colonial, apesar da matar entre 20 e 25 milhões de pessoas no país agredido, destruir 70 mil aldeias, 1600 cidades e 46 mil empreendimentos industriais, teve seu exército destruído, milhões de soldados mortos, feridos ou caídos prisioneiros e, nas maiores campanhas militares da história, a vítima invadiu a Alemanha, tomou Berlim e forçou o seu presidente (Adolph Hitler) a se matar para não cair prisioneiro do que ele considerava serem uma raça inferior: os eslavos. Esse foi um fato sem precedentes e desmoralizou o colonialismo, as ideologias e organizações político-sociais baseadas na raça e tirou da Europa (agora destruída) o seu papel como centro do Mundo. Vale lembrar que o estado racial nazista na Alemanha era a regra no mundo até então: O impérios coloniais europeus eram estados raciais; os EUA era um estado racial (o máximo desse desenvolvimento foi nos estados do Sul com o regime local de Apartheid), assim como a sociedade protestante na Irlanda do Norte, a Polônia antes da invasão nazista e as práticas sociais existentes em muitas sociedades latino-americanas entre diversos outros exemplos. Só que, lutando ao lado da URSS contra a Alemanha nazista estavam os EUA, a Grã-Bretanha e a França, países cuja ideologia nacional havia se tornado ou era de origem racista. Nessa época, sejam ditaduras ou governos eleitos, racismo e colonialismo eram práticas politicas e socialmente aceitas. A derrota nazista desmoralizou e tornou a longo prazo inviável a sobrevivência de seus império coloniais ou regimes raciais internos. Além disso, o vencedor da Alemanha nazista era comunista (e aqui a questão relevante não são as práticas repressivas do seu dirigente : Josip Stalin, mas o fato de a propriedade das fábricas, minas, campos, empreendimentos comerciais, bancos serem públicos, coletivos e, portanto, não pertenciam a um individuo ou grupo de indivíduos privilegiados e ricos como ocorre no mundo capitalista, e não estou aqui me referindo a pequenos proprietários, Essa economia pública e socialmente planejada derrotou o invasor colonial, por meio de um esforço descomunal e com perdas populacionais ainda hoje sentidas, destruindo seu exército (o mais avançado do mundo até o começo da guerra) e indo até a sua capital e derrubando o seu governo e regime. Calcula-se que por volta de 70 % dos material bélico e das baixas nazistas tenham ocorrido na luta contra os soviéticos. A sociedade norte-americana sofreu fortemente o impacto da derrota nazista e da vitória do seu governo tanto contra o Japão como por ter participado da derrota da Alemanha nazista e ocupado a Europa Ocidental e submetido financeiramente, tanto o aliado britânico, como as burguesias europeias ocidentais cujos países estavam destruídos. É amplamente conhecido o fato de que os EUA saem como os grandes vitoriosos da II Guerra Mundial: destroem o Império Japonês no leste da Ásia e Pacífico, herdam o Império britânico (claro que aqui não significou controle direto sobre as ex-colonias de Londres), sua marinha toma o lugar da britânica no controle dos mares e oceanos, submetem as burguesias e estados nacionais da Europa Ocidental, transformam o dólar na moeda do mundo, substituem Londres por Nova York como o centro financeiro do mundo capitalista, substituem a Europa como vanguarda tecnológica e cientifica do mundo capitalista, saem em definitivo da crise de 1929 com um grande crescimento da sua economia por conta de orienta-la para sustentar o seu imenso esforço de guerra no mundo, adquirindo o mais extenso parque tecnológico do mundo naquele momento e acumulando cerca de metade da riqueza mundial, além do monopólio momentâneo da bomba atômica e a energia nuclear. No campo militar convencional apenas a URSS era mais forte, mas ela estava economicamente exangue, no momento, por conta da destruição causada pelos nazistas. Assim, duas forças históricas se sobrepõem e se digladiam dentro da sociedade norte-americana: 1) a influência da derrota nazista por um estado comunista não-ocidental e visto, isso é chocante para brasileiros brancos, como não-branco, ou ao menos insuficientemente branco, pelas elites ocidentais mas que foi aliado dos EUA na guerra; 2) o exito absoluto da elite dos EUA em torna o seu país a força dominante no mundo, realizando seus antigos mitos fundacionais de supremacia sobre a humanidade. Como será administrada essa dupla influência do fim da II Guerra Mundial pelos dirigentes e a burguesia norte-americana? No plano interno serão aplicadas as seguintes medidas: 1) aprofundamento e consolidação das políticas sócio-econômicas do ex-presidente Franklin Roosevelt (o New Deal- Novo Acordo em inglês) incorporando quase toda a massa da população pobre branca na classe média, que por conta do boom econômico que virá depois de 1948, da criação de um imenso mercado consumidor por conta do barateamento dos bens de consumo devido ao avanço tecnológico e do aumento em grande escala da renda média e dos salários fará com que essa população desfrute de um nível de vida e conforto só acessível no passado a elites aristocráticas. Aumento da expectativa de vida, dos níveis de saúde, melhoria acentuada dos indicadores sociais, do acesso ao ensino médio e universitário, do tempo livre e queda da mortalidade infantil ( baby boom do período foi isso) e da insegurança na vida privada marcaram a vida de pessoas que apenas 20 anos antes viviam as misérias da Crise de 1929. O preço disso será um ferrenho conservadorismo e apoio social ao imperialismo americano no exterior. 2) a gradual aceitação das demandas dos grupos democráticos de direitos civis, das mais variadas ideologias, pelo fim de todas as formar legais e não-legais de opressão e discriminação racial, algo tomado para não desmoralizar os EUA no mundo frente ao vencedores da guerra racial contra os nazistas: os soviéticos e que contradizia a afirmação do seu governo de que os EUA eram um defensor da liberdade e democracia. Apesar da oposição de certos grupos, a continuação da segregação legal iria desestabilizar internamente o seu país mantendo uma ordem social (o Apartheid) oficialmente condenada no mundo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e o processo de descolonização da África e da Ásia. 3) repressão política intensa (o macarthismo) a esquerda em geral, e aos comunistas em particular, e uma pesada doutrinação de sua população através de todas as fontes possíveis de informação e entretenimento. A resposta a esse quadro ocorrerá com a intensificação do movimento dos direitos civis, antiguerra e pacifista, ecologista e da revolução dos costumes (que foi muito manipulada e desvirtuada pela CIA, FBI, mídia, academia nos EUA) que começa a surgir nos EUA ainda na metade da década de 1950 e que, foi acelerado, pelo hiato existencial entre a geração crescida na abundancia e segurança (ainda que ideologicamente controlada) do New Deal e os país, que haviam levado uma vida como as que levavam na época os então povos do Terceiro Mundo, mas havia experimentado o alívio do New Deal, mas mantinham valores e hábitos compatíveis com a vida de antes da II Guerra Mundial, mas não o mundo de abundancia e conforto dos anos 50 e 60, e cujo apoio ideológico ao estado americano (isto é , a sua burguesia) fazia com que eles fossem racista, intolerantes com os não-brancos e não-ocidentais e fechados ao mundo, além de defenderem carnificinas comparáveis a da Segunda Guerra Mundial como as guerras da Coreia e do Vietnã. As gerações que nasceram e cresceram no período de abundância, estabilidade e crescimento mais ou menos continuo da economia por conta das políticas econômicas regulatórias e planejadora da economia (entre 1948 e 1971-73) podiam crescer e incorporar o conservadorismo dos país, mas um setor que teve acesso a cultura erudita, ao conhecimento não-tecnificado e cursou alguma área das ciências humanas que lhes permitiu ampliar os seus horizontes mentais para além dos mitos fundacionais americanos (terra da liberdade, pátria da democracia, povo escolhido por Deus, etc), da propaganda de estado (aqui inclui Holywood, TV, editoras, indústria fonográfica, etc) da época, sendo influenciada pelos mais variados movimentos sociais, culturais, políticos e ideológicos vindos da Europa, Terceiro Mundo e mesmo do Bloco Soviético, além dos movimentos do tipo existentes na sua sociedade, tanto do presente quanto do passado, e foram, através de várias correntes e grupos procurando fundar uma nova cultura que fosse distinta e mais humanista em relação a tradicional dos EUA. A Guerra do Vietnã levará essas forças contestatórias a atingir o seu máximo desenvolvimento, pois como ainda havia o alistamento obrigatório, muitos desses jovens foram convocados para lutar no Sudeste Asiático para defender os interesses geopolíticos e econômicos das suas elites contra o movimento revolucionário e de independência dos povos vietnamita, laociano e khmer (cambojano). A matança e a destruição em escala industrial feita pelas forças armadas dos EUA, as agruras e horrores da guerra para essa geração nascida numa condição de vida inédita fora das classes dominantes, o impacto dos movimentos dos negros e outros grupos oprimidos dos EUA, a resistência nacional heroica dos povos atacados (similar a aquela dos soviéticos mais de duas décadas antes), o apoio de tantos governos aos vietnamitas, no mundo (por exemplo, militares norte-coreanos, russos e bielorrussos lutaram no Vietnã contra os EUA),a descolonização bem exitosa de grande parte da Ásia e África (a Guera de independência Argélia nos anos 50 contra a França teve um impacto mundial, na época, como teria o Vietnã nos anos 1960 e projetou Ahmad Ben Bella como um Ho Chi Minh árabe e africano) e a emergência do Terceiro Mundo (Movimento dos Não-Alinhados e figuras mundiais como Sukarno (Indonésia), Nehru (Índia), Nasser (Egito), Tito (Iugoslávia), Nkrumah (Gana), Lumumba (Congo), Fidel Castro (Cuba), etc.) na história foram criando um forte rechaço a guerra nos EUA, especialmente entre as novas gerações, que criou um sério problema político para o governo em Washington. Havia a possibilidade de ocorrer uma revolução dentro dos EUA. Por outro lado, essa nova geração e seus líderes ao mudarem os costumes fizeram com que a indústria de bens de consumo não só se adaptasse a esse novo mercado, mas começasse a domá-lo até o dirigir no fim desse processo de domesticação, e essa indústria de bens de consumo, e a poderosa indústria cultural a ela ligada, eram parte do complexo de poder dos EUA que incluía Wall Street, as Sete Irmãs (oligopólio do Petróleo), o Complexo Industrial-Militar, a alta tecnologia, etc. Assim, combinando manipulação cultural e comportamental (a questão das drogas desde então, por exemplo), repressão as lideranças, absorção na propaganda e sua divulgação nos costumes das aparências de rebeldia (como os novos tipos de moda e vestimentas) mas não do conteúdo progressistas e mesmo revolucionário, cooptação de várias lideranças e intelectuais da chamada contracultura, marginalização dos que não se renderam ou foram comprados e assassinato, prisão ou exílio dos que tinham maior influência e prestígio, do fim da década de 1960 e , ao longo dos anos 1970, a contracultura foi absolvida como a nova cultura mainstream das classes dominantes americanas, sendo difundida em suas formas individualistas e consumistas (portanto conservadoras) entre as camadas médias, populares e grupos étnicos tradicionalmente oprimidos nos EUA.

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Professor Francisco S.
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Respondeu há 5 anos
Boa tarde Rafael. Posso dizer que a guerra do Vietnã no contexto mundial teve sim uma grande repercussão pelo motivo da guerra de influências entre o capitalismo e o comunismo EUA x URSS. Mas lembrando que foi a primeira guerra a ser televisionada,pois a população recebia as informações atuais da guerra mesmo que a imprensa escondia a verdade da realidade da guerra que anos depois foi descoberta, acontecia ao mesmo tempo uma grande revolução da modernidade no mundo inteiro. Começando pela França e expandido o mundo inteiro, o surgimento dos cafés e bistrôs francês até o surgimento dos shoppings e asfaltamento das ruas centrais e iluminação noturna. O consumismo virou moda desse roupas como eletrodomésticos como a televisão. Com a propaganda da guerra como capitalismo x socialismo, surgi o grande bum no cinema com o filme do Rambo, 007, sai dos quadrinhos os grandes super heróis como capitão América, super homem, guerra nas estrelas etc. Além do mais surgi o movimento rip e a música popular brasileira, o mundo está em um processo de revolução moderna inclusive aqui no Brasil com festivais de músicas. Os jovens lutam por seus ideias em todo o mundo. Em todo esse meio o capitalismo está em baixa na ordem política mundial e com a guerra do Vietnã coleção em dúvida se realmente o capitalismo é o ideal político correto. Os jovens americanos criticam e questionam o verdadeiro motivo dessa guerra e não só eles mas o mundo todo, os estados unidos da América fica com uma enorme mancha na sua história após esse conflito no Vietnã. Lembrando que esse foi um conflito que é do contexto da Guerra Fria que tem seu início em 1947. Ant s de acontecer a guerra no Vietnã aconteceu ( guerra da Coréia, revolução cubana, revolução chinesa, etc). Todos esse conflitos dividiram o mundo em duas ideologias, assim o mundo inteiro passou a definir em que lado pode estar. E o consumismo e a moda foram evoluindo lado a lado, assim como revisitas de notícias, televisão, rádio, cinema, coisas que não existiam antes.

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