Professor
João R.
Respondeu há 5 anos
A sua dúvida é semelhante com a de outra pessoa que eu respondi hoje. Vou repostar a minha resposta com algumas pequenas alterações.
A preocupação com uma reforma do Estado adquire centralidade com o fim do acordo de Bretton Woods, firmado pelos países do bloco capitalista no pós-Segunda Guerra. Temos que entender de um lado a faceta POLÍTICA e do outro ECONÔMICO de forma separada para melhor compreensão.
Vamos fazer uma breve retrospectiva: A resposta à crise de 1929 foi a criação de um Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State (configurado de forma desigual entre os países) que conciliava o desenvolvimento do capitalismo com interferência do Estado em políticas sociais. Por exemplo, na provisão de direito à habitação, educação pública, melhores condições de salário, etc. Com o fim da Segunda Guerra e o início da chamada Guerra Fria, o mundo se divide em bloco capitalista, bloco socialista e os não-alinhados. Para manter sua zona de influência, os países que lideraram ambos blocos realizaram medidas de ajuda econômica para os países membros. Entre essas medidas encontramos a criação do FMI (Fundo Monetário Internacional), BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) e o Banco Mundial, que foram criados nos acordos de Bretton Woods, em 1944, nos EUA. Para participar do bloco capitalista, e continuar emitindo crédito das instituições financeiras, os países que solicitam ajuda financeira para produzir obras de infra-estrutura, estrutura, entre outros. Além disso, o dólar ganhou status de moeda mundial, o que acabou transformando o Tesouro estadunidense em uma espécie de Banco Central do mundo capitalista, e este dinheiro seria lastreado em um valor material, no caso, o ouro.
Com isso, podemos agora aprofundar sobre o tema.
O fenômeno da globalização, ou "mundialização do capital" para o economista François Chesnais, é o que melhor caracteriza a economia internacional desde os anos 1970, isto é, desde a crise do Estado de Bem-Estar Social. A partir da iniciativa dos países líderes do bloco capitalista - EUA e Inglaterra - reunidas em uma série de medidas liberalizantes que marcará o período "neoliberal" que substituirá o Estado de Bem-Estar social. Estas medidas foram inauguradas no Consenso de Washington que eliminou o Acordo de Bretton Woods. Mais especificamente, retirava a premissa de que o dólar deveria ser lastreado em um ouro. Com isso o a "movimentação do dinheiro se torna mais fácil", pois a sua validade não é material e sim fictícia (apenas papel moeda ou título), isso leva o mercado financeiro a aplicar recursos em operações especulativas, isto é, onde a promessa de lucro é mais alta e à curto prazo, por isso a bolsa de valores possui papel fundamental, ao mesmo tempo em que é instável e geradora de crises como aconteceu em 2008. Estabelecia assim a desregulamentação da economia, privatizações e liberalização do mercado financeiro e de trabalho. Para continuar usufruindo dos créditos cedidos pelas instituições financeiras, uma série de acordos e metas são estabelecidos em forma de cortes de gastos do Estado, austeridade fiscal, reforma da previdência/trabalhista e privatização de empresas estatais.
Com isso, vemos que o Estado será reformado em uma nova roupagem, redesenhando a sua arquitetura institucional. Enquanto as políticas sociais são drasticamente reduzidas dando lugar ao maior protagonismo do mercado, impondo assim aos cidadãos supressão de direitos sociais e trabalhistas e austeridade fiscal (redução do gasto estatal com serviços públicos como saúde e educação). Isto é, assume o papel de estimulador do mercado. A globalização também requer a redução de barreiras alfandegárias em nome da concorrência internacional. Enquanto o livre trânsito de mercadorias e capitais é estimulado, o trânsito de pessoas é coibido. Em termos econômicos, esta medida tem como efeito o barateamento dos produtos importados, e após um determinado tempo, leva à quebra das empresas nacionais que produziam esses produtos. Lembremos ainda que a inserção dos países na economia globalizada se realiza de forma desigual e excludente, enquanto países como o Brasil possui uma enorme vulnerabilidade externa (probabilidade de pressões e choques da economia internacional) na medida em que apenas exporta uma pequena variação de commodities (como minério de ferro e soja, por exemplo) e importa capitais e bens de consumo de alto valor agregado.
Estas medidas resultam em uma reprimarização da economia nacional, isto é, as indústrias nacionais perdem espaço para as importações e o agronegócio passa a ter maior poder na economia, na medida em que suas exportações equilibram a balança comercial (a diferença que há entre o total de exportações menos o total das importações). Um exemplo simples da importância desta balança comercial: o Brasil precisa extrair 13 toneladas de ferro (U$ 650,00) da natureza para comprar um único celular tipo iPhone (U$ 650,00). Mas o que o Estado tem a ver com isso? Ora, com a piora no cenário externo, a balança de pagamentos pode facilmente, entrar em déficit (devido à nossa vulnerabilidade externa), e este déficit é coberto com a emissão de dívidas públicas pelo Estado. A mesma dívida que é preconizada por uma série de medidas de redução dos gastos sociais, reforma previdenciária/trabalhista, etc. Isto leva à muitos estudiosos a caracterizarem a globalização como uma inclusão-excludente entre países centrais e periféricos no seio da economia capitalista.